Há 47 anos, uma família construiu história em Roraima com uma loja de variedades, ou melhor, um jovem chamado Klinger Nonato. Afinal, quem nunca comprou algo na Loja do Klinger? Por isso, a herança comercial, um projeto de histórias comerciais roraimenses contadas pela FolhaBV, volta à 1977 para contar sobre o empreendimento.
A Loja do Klinger começou com Manoel Nonato, atualmente com 80 anos. Seu Manoel é um acreano que trabalhou de seringueiro, marítimo, costureiro e fez a vida em Manaus, no Amazonas. Com uma loja na capital amazonense, conheceu a esposa, já falecida, Tereza, e teve seis filhos. Veio para Roraima para conhecer e acabou abrindo uma loja de variedades ao lado do lanche Aracati, na avenida Jaime Brasil.
“O pastor Manoel Batista vivia chamando ele [Manoel] para vir para Boa Vista. Eu tinha oito anos, naquele tempo, quando papai falou para a gente ir e eu falei que não, que deixasse eu completar 15 anos. Aí quando eu fiz 13, papai me trouxe para cá”, contou o filho, Klinger.
Em Boa Vista, Klinger relembrou que o pai havia dito que, se o jovem vendesse todos os produtos da loja poderia voltar para Manaus. “Quando ele chegou e viu que eu tinha vendido tudo tão rápido, comprou mais coisa para vender e eu não fui embora”, disse, rindo da situação.
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A loja ganhou nome e novo local
Com as vendas indo bem, Klinger continuou à frente da loja e ficou conhecido na capital. O estabelecimento não tinha nome, por isso, quem indicava dizia: “vai ali na loja do Klinger”. Assim, segundo o proprietário, a loja ganhou nome mesmo sem ter um letreiro por anos.
Passado um tempo, por volta de 1980, seu Manoel comprou um terreno na avenida Getúlio Vargas, onde a loja está localizada desde então.
“Quando eu comprei esse terreno não tinha casa aqui. Eu passei aqui e vi que tinha uma casinha de madeira, com lona por cima, e pensei que era um terreno bom. Tinha um velho morando lá e perguntei se queria vender o terreno. Ele disse que vendia e era cinco conto-de-réis. Não tinha cruzeiro nessa época. Eu tinha cinco conto no bolso, tirei e paguei”,
contou seu Manoel à reportagem.
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A fé move os empreendimentos da família
Seu Manoel sempre teve habilidade de empreender. Em Manaus, também abriu lojas e deixou para os filhos cuidarem. No entanto, antes desse sucesso, Klinger relembrou um episódio em que o pai perdeu tudo e com fé conseguiu se reerguer.
“Papai ficou liso e não tinha um tostão para comprar pão. Ele foi com o gerente da Casas Pernambucanas, disse que venderia as mercadorias no interior do Amazonas pelo prédio [da loja]. Mamãe também costurava uns calções e papai saia para vender pelo centro de Manaus. Um dia, ele foi em uma igreja evangélica, aceitou Jesus e chegou em casa dizendo: ‘Tereza, agora sou crente’. Mamãe logo disse: ‘além de liso, é louco’. Depois disso, ele orou e falou que tudo o que tivesse se chamaria ‘Jesus me deu'”, contou Klinger.
Não é atoa que a razão social da Loja do Klinger é Importação e Exportação Jesus Me Deu LTDA, e todas as lojas tem uma menção religiosa. Com a fé, a família segue empreendendo em Roraima em quase 50 anos.