SAÚDE PÚBLICA

Mães reclamam de fechamento de Unidade de Cuidados Prolongados no Hospital da Criança

Segundo a SMSA a readequação foi feita por conta da reforma mas que as medidas foram adotadas com cautela e que os pacientes seguem recebendo assistência humanizada

O Hospital da Criança Santo Antônio é o único hospital infantil do estado (Foto: Arquivo FolhaBV)
O Hospital da Criança Santo Antônio é o único hospital infantil do estado (Foto: Arquivo FolhaBV)

Um grupo de mães procurou a FolhaBV para reclamar a respeito do fechamento da Unidade de Cuidados Prolongados (UCP) do Hospital da Criança Santo Antônio. Segundo elas, o setor teria fechado há cerca de um mês e, desde então, as crianças teriam sido realocadas para outros blocos, onde ficam com os demais pacientes e não estariam recebendo os mesmos cuidados especializados fornecidos pela UCP.

Para Sheila Ramos Patrício, mãe do Bruno Henrique Ramos Patrício, de um ano, a UCP continha uma equipe especializada para atender as crianças internadas com diagnósticos graves, assim como uma estrutura adequada para as condições delas. Agora que o Bruno está em outro bloco, ela relata que tem tido problemas em relação ao cuidado da equipe com a saúde do filho.

“Na UCP, havia uma equipe que ajudava e ensinava as mães a lidarem com os diagnósticos das crianças, até sobre primeiros socorros. Também tinha sempre um médico no setor para observar e ajudar em situações de crise, era todo um suporte. Agora as crianças ficam em salas com outros pacientes, elas estão muito expostas e sem suporte de equipamentos básicos para as condições delas”, relatou Sheila.

Bruno Henrique Ramos Patrício, de um ano (Foto: Arquivo pessoal)

O pequeno Bruno é diagnosticado com a síndrome de Rubinstein-Taybi (SRT). A doença rara causa dismorfismos faciais, atraso no crescimento pós-natal, deficiência intelectual e alterações fenotípicas. Em razão do diagnóstico, a criança não consegue engolir líquidos e broncoaspira, ou seja, quando sustâncias estranhas, como alimentos, saliva e líquidos entram na via respiratória. A mãe informou que, desde que ele nasceu, o máximo de tempo que o filho passou em casa foram dois meses.

A autônoma ainda citou momentos que profissionais teriam manejado de forma inadequada medicamentos e técnicas, como a realização do procedimento de acesso venoso na criança. “Nos blocos, tratam as crises de pneumonia de repetição dele como se fossem gripe, já passei muito sufoco por erro dos profissionais. Eu me sentia mais segura e acolhida na UCP”, disse.

O filho da dona de casa Geovana Goes tem o diagnóstico da síndrome de West. A doença neurológica causa espasmos epiléticos recorrentes e, devido ao estado de saúde dele, o Isaac Goes, de três anos, passou cinco meses internado na Unidade de Cuidados Prolongados. Porém, após ser liberado para ir para casa, a mãe informou que, em momentos de crise, levava a criança para a UCP diretamente para receber o atendimento especializado.

“Sempre tinha médico, enfermeiro, técnico e fisioterapeuta específicos para a UCP. Agora que tiraram as crianças de lá, estamos sem nenhum apoio. Às vezes, não tem nem um profissional sequer no setor para socorrer alguém em crise. Quando tem, não sabem lidar com as necessidades especiais da criança e nem realizar uma traqueostomia. Também faltam coisas básicas, como sonda”, afirmou.

Outro lado

A FolhaBV entrou em contato com a Prefeitura de Boa Vista que se manifestou por meio da seguinte nota:

A Secretaria Municipal de Saúde informa que alguns setores do Hospital da Criança Santo Antônio estão passando por reformas e ampliações estruturais e processuais para ofertar assistência segura e de qualidade. Várias adaptações físicas foram feitas e umas delas foi o redirecionamento dos pacientes da antiga Unidade de Cuidados Prolongados.

Os pacientes crônicos foram realocados nas enfermarias dos blocos de internação, com toda estrutura física e assistencial adequada. A secretaria ressalta ainda que o serviço de cuidados paliativos foi mantido, com a presença de médico e enfermeiro especialistas nessa área, além de equipe assistencial exclusivamente para esses pacientes no período matutino, não havendo prejuízo no atendimento.

Todas as medidas foram adotadas com cautela, partindo dos protocolos assistenciais existentes na unidade, nos quais os acompanhantes e pacientes recebem assistência humanizada como todos que procuram o Hospital da Criança Santo Antônio. A direção do hospital coloca-se à disposição para receber e ouvir as mães das crianças internadas no local e fazer adequações, caso seja necessário.

Ministério Público instaurou procedimento para averiguar a situação

O Ministério Público do Estado de Roraima informou por meio de nota que a Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde instaurou procedimento no dia 19 de abril para averiguar a situação relatada por Sheila Ramos Patrício.

Na última segunda-feira, 22 de abril, o MPRR oficiou a Secretaria Municipal de Saúde de Boa Vista (SEMSA) e requisitou informações sobre o caso, além de requerer providências a respeito da reabertura da Unidade de Cuidados Prolongados do Hospital da Criança Santo Antônio.

O MPRR aguarda o retorno da SEMSA, que tem prazo de até dez dias úteis para encaminhar a resposta.