OPERAÇÃO ACOLHIDA

Empresa é acusada de tirar itens básicos de refeições de migrantes e diz que denúncia é mentirosa

Em defesa, Paladar Nutri diz que Ministério da Defesa concluiu que ela executou serviços satisfatoriamente e cumpriu todas as suas responsabilidades

Foto de refeição que teria sido servida pela Paladar Nutri (Foto: Divulgação)
Foto de refeição que teria sido servida pela Paladar Nutri (Foto: Divulgação)

A Paladar Nutri está sendo acusada de descumprir obrigações contratuais com a Operação Acolhida por supostamente excluir alguns itens das refeições servidas aos migrantes venezuelanos atendidos pelos abrigos da força-tarefa humanitária, especialmente em Roraima. Procurado, o sócio-administrador da empresa afirmou que a acusação é mentirosa, baseada em fotos montadas, e citou que o Ministério da Defesa concluiu que ela executou os serviços “de maneira satisfatória, cumprindo com todas as suas responsabilidades” (leia a resposta completa ao final da reportagem).

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Denúncia anônima enviada à Folha aponta descumprimento parcial de três contratos, sendo um de 2022 e dois de 2023, firmados com o Ministério da Defesa que totalizam R$ 88,1 milhões, e ainda cita possíveis marmitas repetitivas e de baixa qualidade.

Foto de refeição que teria sido servida pela Paladar Nutri (Foto: Divulgação)

Conforme a denúncia, a empresa não inclui no almoço dos migrantes sachês, feijão, guarnição e fruta – neste último caso, a empresa estaria substituindo frequentemente o item por doces industrializados. “Em virtude da supressão de itens básicos como o ‘feijão’ [os beneficiários] deixam de ter uma alimentação nutricionalmente equilibrada e adequada, sem desconsiderar os prejuízos financeiros ao erário, caracterizado o enriquecimento ilícito da contratada”, cita a acusação.

Foto de refeição que teria sido servida pela Paladar Nutri (Foto: Divulgação)

Ademais, segundo a denúncia, o café da manhã exclui itens contratados, como iogurte e mingau, e ainda frutas e sachês de açúcar, azeite, sal, vinagre e álcool. Além disso, a empresa estaria servindo um sanduíche, em vez de dois.

Foto de café da manhã que teria sido servido pela Paladar Nutri (Foto: Divulgação)

A Paladar Nutri também é acusada de não fornecer cardápios especiais que deveriam ser oferecidos ao menos uma vez por mês, os quais incluem picanha, filé mignon e sobremesas mais elaboradas. “Há também um descumprimento em relação aos tipos de cortes de carne bovina estipulados no contrato”, completa.

Denunciante ainda aponta uma suposta entrega de refeições abaixo do peso contratado, e que a embalagem em que os alimentos são colocados é de isopor, em vez de modelo biodegradável. “As embalagens usadas são diferentes das especificadas no contrato, que pede embalagens com quatro divisórias”, pontua.

O que diz a Paladar Nutri

Procurado, o sócio-administrador da Paladar Nutri enviou à Folha um atestado de capacidade técnica, emitido em 15 de fevereiro pelo Ministério da Defesa, o qual conclui que a empresa executou os serviços contratados “de maneira satisfatória, cumprindo com todas as suas responsabilidades, não restando nada que a desabone”.

“Tecnicamente atestamos ainda que os serviços descritos se encontram com as suas devidas responsabilidades em dia e atendem às especificações e exigências de acordo com o descritivo no contrato e normas técnicas de forma criteriosa e satisfatória”, diz o atestado.

O sócio-administrador da empresa disse ter registrado um boletim de ocorrência policial para investigar quem denunciou anonimamente a Paladar Nutri.

O representante da Paladar Nutri disse que não teria nada a declarar sobre a denúncia porque ela é mentirosa e é baseada em fotos montadas.

Para ele, a acusação teria sido enviada por concorrentes que desejam denegri-la como forma de retaliar as denúncias que ela formalizou contra supostas irregularidades inerentes ao novo processo licitatório para contratar empresa que fornece refeições à Operação Acolhida, feitas logo após perder a renovação de contrato com a força-tarefa humanitária.

Por sua vez, o Ministério da Defesa e o comando da Operação Acolhida não responderam aos questionamentos da reportagem.