JESSÉ SOUZA

O picadeiro eleitoral e a fantasia de anjo ou demônio que o eleitor poderá escolher

Eleitores de Alto Alegre vão à urnas no próximo dia 28 de abril em eleição suplementar para a Prefeitura (Foto: Divulgação)

A apreensão de dinheiro vivo com o segurança de um senador pela Polícia Federal, no Município de Alto Alegre, nesta quinta-feira, às vésperas da eleição suplementar para a Prefeitura daquela localidade, é só mais um capítulo do que esta Coluna já afirmou em artigo anterior, intitulado “Um pouco do suco da política roraimense na barulhenta disputa em Alto Alegre”. Só para se ter uma ideia, a disputa por lá é liderada por dois políticos cassados por distribuição de cesta básica.

A realidade do eleitor pode ser resumida em um dos pedidos feitos ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para adiar o dia da votação, em que um vídeo anexado ao processo aparece uma eleitora gritando efusivamente “Queremos gasolina”, em uma clara insinuação que todos sabem o que aconteceu nas campanhas eleitorais, em que o eleitor não é apenas vítima, mas parte do grande problema.

Para mostrar que está atenta ao desenrolar dos fatos, a Justiça Eleitoral proibiu ações governamentais em Alto Alegre até o dia 28 de abril, dia da eleição suplementar, diante da  procissão de políticos e servidores naquele município nas últimas semanas, algo que nunca é visto em quaisquer municípios fora de ano eleitoral. Porém, uma decisão faltando poucos dias para o pleito que não implicará em mais nada.

Aquela cidade foi transformada em picadeiro eleitoral no antigo estilo da pobre e podre política, onde os políticos repetem antigas cenas que mais parecem ter saído de um túnel do tempo, como andar de bicicleta com eleitoral na garupa, bater bola com jovens, beijar velhos e criancinhas, além de muito tapinha nas costas e fartos abraços. E o povo corresponde aos afagos eleitorais, pois há chance reais de se levar vantagem em algo.

O fato de os dois grupos em disputa terem suas lideranças condenadas por crimes eleitorais e outras acusações não fez mudar o cenário de uma disputa aos moldes do que sempre ocorre em disputas eleitorais. E o eleitor sabe disso, que o empurra para uma decisão de ir para as urnas numa espécie de escolha entre o menos pior ou, na pior das hipóteses, que souber usar as antigas estratégias que se desenha com desfile de mala com dinheiro.

Alto Alegre é tão somente uma antecipação do que serão as eleições municipais em outubro, quando os políticos apostam na falta de memória do eleitor e não se intimidam em colocar em prática suas estratégias. Aliás, por lá só está ocorrendo eleição suplementar exatamente porque o prefeito foi cassado por compra de voto. Pelo menos, desta vez, não houve ninguém metendo o dinheiro na cueca para tentar despistar a PF.

E no meio de tudo isso está o povo, que pode escolher sua fantasia de anjo ou demônio nesse picadeiro eleitoral alto-alegrense.

*Colunista

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