O E+ conversou com a médica geriatra Maisa Kairalla, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia-Seção São Paulo (SBGG-SP) a respeito dos resultados abaixo do ideal quando o assunto é a saúde da mente na velhice.
Saúde mental e o envelhecimento. “À medida que envelhecemos, há uma diminuição de nossas habilidades cognitivas, que são as que compreendem a capacidade de pensar, refletir, adquirir conhecimentos, armazenar memórias e outras funções do nosso cérebro”, explica.
Maisa destaca que a saúde da mente está ligada tanto à qualidade quanto à expectativa de vida. Porém, nem sempre os fatores estão em sintonia: “Pode ser que um idoso viva mais anos, porém, com menos qualidade de vida. Nesse processo, fatores ligados aos nossos hábitos de vida podem ser determinantes para conquistar qualidade de vida e longevidade”.
Cultura. “Pode-se dizer que há, sim, aspectos culturais ligados a esse ‘baixo interesse’ por manter a mente ativa. Na verdade, as pessoas costumam passar a vida focadas em tantas prioridades, como passar de ano na escola, conquistar um bom emprego ou colocação profissional, viajar, e tantos outros fatores que a mente – nosso órgão sempre ativo – pode acabar ficando para escanteio”, analisa a geriatra.
Ela destaca que o hábito que deve ser cultivado desde a juventude. Mas, se você não tem o costume de desafiar a mente, não se preocupe, pois nunca é tarde demais: “Sempre é tempo de começar a praticar, mesmo na velhice. O importante é manter a mente ativa.”
Tecnologia. Será que usar um aplicativo de mapas com sistema de GPS, como o Waze ou o Google Maps, pode ser prejudicial quando o assunto é exercitar o cérebro?
“[Os aplicativos] podem sim ter interferência no que cabe a manter um cérebro ativo. Essas ferramentas, embora possam auxiliar, acabam pensando por nós. Na verdade, não apenas os guias de rua, mas todo advento da internet, que, se não usado com sabedoria, será um convite a manter a mente ociosa, visto que se tem todo o tipo de informação à mão”, explica.
Mas não se desespere: tudo depende da forma como se é usado. Para um idoso, por exemplo, um smartphone pode se tornar a possibilidade de aprender algo novo, fator positivo para a saúde cerebral, além de outros, como a possibilidade de se divertir com jogos que te façam pensar, e até aumentar suas interações sociais.
Dicas. “É importante cultivarmos desde a nossa juventude hábitos que possibilitem manter nossa mente ativa, como uma maneira de conquistarmos o que chamamos de ‘reserva cognitiva’, que será de grande valia para chegarmos bem à velhice. Construirmos essa reserva ao longo da vida contribui não apenas para longevidade, mas para a qualidade de vida”, ressalta.
Fonte: André Carlos Zorzi – O Estado de S.Paulo
Vamos desaprender?
Por Roberta D’Albuquerque
Roberta D’Albuquerque é psicanalista
Tive a alegria de ouvir, na última sexta-feira, Bárbara Esménia recitar um poema do seu último livro publicado pela Padê Editorial. Uma experiência presenciar a força dessa mulher assim de tão de pertinho, assim ao vivo, viva.
Em um momento de sua fala, Bárbara nos lembrou a imagem que guardamos dos poetas: homens, europeus, já mortos, de uma outra época, de um outro lugar. Não estava posta ali a defesa para que eles deixassem de ser lidos, mas o convite para visitar também o que é nosso, o que nos diz respeito, o que nos aproxima das nossas vivências ou ainda melhor, que nos apresenta a vivências outras. Dos nossos, das nossas que estão aqui tão pertinho.
O poema que comentei no início deste texto me soou também como um convite. Quero me juntar ao “Nós” que fala em “Desaprenderam Vocês”, busco também desaprender. Questionar o que é certeza. Refazer o que está pronto. Manter o olhar crítico. Ouvir e falar.
Saí de lá com a certeza de que precisamos ouvir mais, sempre. Mas que também é tempo de falar, de se fazer presente, de parar de ‘se comportar bonitinho’. Estendo o convite a você leitor: qual é o significado do que vem sendo silenciado em você? Quando falta a voz, qual é o nome do que te mantem calado? O que deixou de ser dito na reunião de trabalho, no jantar de família, na conversa com os amigos? Para quando guardamos o que queremos comunicar? Para quê? E para quem? Falemos.
Viva a poeta viva!