Cotidiano

Grupo organiza campanha para arrecadação de madeiras e roupas

De acordo com idealizador, a intenção é minimizar a situação das pessoas que residem na região do Bom Intento

Por iniciativa própria, os invasores da área denominada Pedra Pintada, localizada região do Bom Intento, zona Rural de Boa Vista, saída para a Venezuela, decidiram promover uma campanha de arrecadação de donativos. A ideia é minimizar a situação das pessoas que lá se encontram, enquanto esperam uma resposta do Governo do Estado sobre o processo de regularização da área.
“Na verdade, nossa intenção é buscar o apoio da população, dos empresários e dos órgãos competentes sobre as necessidades das pessoas que vivem nessa área. Existem nessa área muitos pais de família que estão desempregados, pessoas idosas, mulheres gestantes e uma grande quantidade de crianças que precisam de apoio, principalmente na questão de água e alimentação”, contou o idealizador da ação, Hércules Silva.
Conforme Silva, todos os tipos de materiais serão aceitos, desde itens para construção a alimentos. “Nós estamos aceitando de tudo. Desde madeiras, lonas, telhas, alimentos não perecíveis, roupa, brinquedos, materiais escolares, pois o início do ano letivo está bem próximo e muitos pais, não têm condições de comprar material escolar para os filhos. Em hipótese alguma, a gente quer usar a imagem das crianças, mas toda ajuda é bem vinda, e com certeza vai fazer a diferença na vida de todos daqui. Aceitamos também itens que ainda estejam em condições de uso, como um colchão, um fogão usado, geladeira ou caixas d’água, porque aqui não tem água encanada”, disse.
Atualmente, cerca de 1.600 famílias residem na área, que não dispõe de qualquer tipo de serviço básico de apoio. Silva acredita que se as doações forem feitas, pelo menos mais da metade das famílias serão beneficiadas.
“A gente faz o que pode para dar apoio às famílias que necessitam. Algumas nem possuem matérias para construir seus barracos. Às vezes tem que sair catando uma madeira aqui e outra ali. Se tivesse alguma madeireira que estivesse disposta a ‘dar uma força’, já ajudaria bastante. Nós não pedimos muito, apenas o essencial para poder diminuir um pouco o desconforto dessas pessoas, que saíram da cidade”, disse. “Alguns estavam morando de casa cedida, outros de aluguel, e a gente sabe que o salário para quem mora nessa condição é insuficiente. Quando se fala em área de ocupação no Estado, muita gente não tem o dissentimento da realidade. Quando um pai de família vem encarar uma situação como essa, é porque não tem para onde ir”, completou.
Outra preocupação citada pelo morador, diz respeito ao início das aulas para as crianças da ocupação. “A gente se depara todos os dias com uma situação calamitosa. Por estar próximo ao início do ano letivo, muitas crianças aqui correm o risco de ficar fora da escola. A nossa sugestão é que o governo ou a prefeitura pudesse conversar conosco sobre essa situação, pois muitos pais sentem dificuldades em levar os filhos, porque quase não tem escola por aqui, e muitos, às vezes, as levam de bicicleta, o que é muito cansativo”, frisou.
“A escola mais perto é a do Monte Cristo. Se eles pudessem abrir vagas, iria amenizar a situação dessas crianças. Poderiam também incluir a região Pedra Pintada na rota do ônibus escolar. Já seria uma grande ajuda”, ressaltou Silva.
As doações podem ser entregues pessoalmente no primeiro acampamento, que fica na entrada do Pedra Pintada, na entrada do Bom Intento, BR 174, saída para a Venezuela, ou ligar para os telefones 991-481-241, 991-110-092 ou 991-111-535.
GOVERNO – Em nota, o Governo do Estado informou que, para que uma escola seja construída, é necessária a definição legal da área como bairro. Depois disso, o processo é fazer um diagnóstico para identificar a necessidade da localidade, como a quantidade e a faixa etária dos alunos, e justificar o pedido ao Ministério da Educação.
“Enquanto for uma ocupação irregular, a prestação de serviço público fica engessada. O que pode ocorrer é a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) fazer um levantamento e, se os alunos estiverem dentro da faixa etária escolar de responsabilidade do Estado e se estiverem matriculados em escolas da rede estadual, o Governo poderá buscar uma solução, por meio da Divisão de Transporte Escolar da secretaria”, ressaltou.
Moradores ainda aguardam regularização
Ciente dos desafios que estão por vir, o grupo espera que o Governo do Estado consiga dar uma resposta positiva em relação à regularização da área. “Nós estamos cientes da real situação e sabemos que as modificações aqui não serão de imediatas. Como o governo adiantou, o Iteraima vai fazer uma nova topografia para fazer o processo de regularização dessa área, mas até lá, nós estamos buscando toda ajuda possível para amenizar essa situação. Vale ressaltar que nós não somos invasores. Fomos conduzidos para vir para essa área pelo doutor Haroldo [Amoras, ex-diretor-presidente do Iteraima], da gestão passada do governo, e a gestão atual já sinalizou que está fazendo o máximo possível para nos ajudar”, pontuou.
Por meio de nota, a Secretaria de Comunicação do Governo do Estado (Secom) afirmou que pelo fato de se tratar de uma ocupação ilegal, o Executivo estadual fica inviabilizado de realizar qualquer tipo de ação, até a emissão dos títulos definitivos. A nota ressalta que a nova gestão do Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima), já está trabalhando no levantamento da situação para adotar as medidas cabíveis.
“Por enquanto, além do levantamento a respeito da situação fundiária do local, o Iteraima está realizando ainda a identificação dos ocupantes para regularizar a situação de cada lote, de modo a destiná-los às pessoas que comprovadamente necessitem”, disse a nota.
A Prefeitura de Boa Vista informou, por meio de nota, que a área citada pertence ao Governo do Estado e, para regularizar o local, os moradores devem procurar o Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima), que é o responsável neste caso.
A nota destaca que a Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) já notificou o Iteraima, para providenciar o projeto de parcelamento do solo, a ser aprovado pelo Município. “A Prefeitura de Boa Vista esclarece ainda, que a infraestrutura da área é de responsabilidade do Estado”, finalizou. (M.L)