As chuvas finalmente chegaram com o indicativo de que Roraima terá um inverno mais rigoroso este ano, conforme esta Coluna vem afirmando há um certo tempo com base em informações de agências internacionais, principalmente a partir de junho, com a efetiva chegada do fenômeno La Ninã. O primeiro sinal de chuvas acima da normalidade já foi sentido no trecho norte da BR-174, em direção ao Município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. E a tendência é só piorar.
Pela segunda vez, em uma semana, um trecho daquela rodovia foi inundado pela forte enxurrada. Como as obras de restauração são feitas de forma paliativa e pensando em reduzir custos para sobrar mais dinheiro, inexiste um criterioso estudo para identificar pontos de alagamentos para que sejam feitas obras de drenagem, o que significaria dobrar os custos, algo impensável quando se trata de obras que envolvem dinheiro público, pois sempre há um esquema embutido.
Apesar de obras de drenagem serem essenciais para a qualidade da pavimentação das estradas, sempre há um jeitinho brasileiro que faz com que o asfaltamento das rodovias, que deveriam durar ao menos uma década, comecem a dar problemas já no ano seguinte à conclusão dos serviços, geralmente porque a falta de drenagem passa a ser um dos muitos problemas, não só pela qualidade do serviço, mas também pela falta de fiscalização e, posteriormente, porque os governos não planejam manutenção e restauração.
A situação da BR-174 é o maior exemplo disso. Largada durante os quatro anos do governo passado, somente agora a principal rodovia de Roraima, que interliga Roraima a Manaus (AM), ao Sul, e à fronteira com a Venezuela, ao Norte, passou a ganhar atenção devida do Governo Federal. Trechos críticos foram restaurados ou ainda estão passando por obras, a exemplo do que compreende entre Boa Vista a Amajari, até a ponte do Rio Uraricoera, onde os buracos foram eliminados e a pavimentação asfáltica está chegando.
Com o início do inverno roraimense, não se sabe se haverá tempo de concluir o asfaltamento. Todo esse trecho já passou pela maior parte dos serviços de recuperação, esperando apenas a aplicação do revestimento asfáltico. A desconfiança do contribuinte é porque, na política brasileira, obras de pavimentação sempre são colocadas no pacote do toma-lá-dá-cá, com as chuvas entrando como argumento para paralisar as obras e, em seguida, pedir aditivo no valor do contrato. Muitas vezes, após paralisadas, nunca mais são retomadas.
Exemplo disso é a RR-203, a principal rodovia estadual do Município do Amajari, cuja obra de recuperação começou em 2020, mas até hoje nunca concluída, além de um trabalho de péssima qualidade, com o asfalto se deteriorando dias após a pavimentação, cujas denúncias nunca foram averiguadas pelos órgãos de controle. Inclusive, os serviços foram retomados este ano, mas paralisados novamente por causa das chuvas. A cada paralisação, trechos que foram cortados para tapar os buracos acabam se transformando em atoleiros ou imensas buraqueiras.
Esse é um panorama apenas de duas rodovias importantes da região Norte. À medida em que as chuvas forem se intensificando por todo o Estado, também se intensificará o sofrimento das populações que dependem das estradas e vicinais. Pequenos agricultores de todas as regiões irão sentir o peso do isolamento e da desassistência por parte do governo, que nunca teve um plano estratégico, junto com os municípios, para atacar os principais problemas de estradas sem asfalto e com pontes de madeira.
Preparem-se para o pior cenário em um ano eleitoral.
*Colunista
