CULTURA

Projeto roraimense é selecionado pelo edital do Itaú Cultural

O artista Rafael Pinto, também conhecido como Pérola, compartilha um pouco de sua trajetória e as motivações por trás do projeto

Utilizando lambe-lambes e projeções mapeadas nas ruas de Boa Vista, Roraima, o projeto promove uma reflexão sobre as assimetrias regionais, a falta de divulgação da produção artística do Norte e os desafios logísticos enfrentados pela região (Foto: Divulgação)
Utilizando lambe-lambes e projeções mapeadas nas ruas de Boa Vista, Roraima, o projeto promove uma reflexão sobre as assimetrias regionais, a falta de divulgação da produção artística do Norte e os desafios logísticos enfrentados pela região (Foto: Divulgação)

O projeto “FRETE GRÁTIS PARA TODO O NORTE, EXCETO PARA O BRASIL”, idealizado pelo artista visual Rafael Pinto e desenvolvido em parceria com os artistas residentes Eliakin Rufino, João Biase e Ykaro Amorim (Yrary), foi selecionado pelo edital do Itaú Cultural. A proposta busca estimular a redefinição do olhar sobre o Norte do Brasil, desafiando estereótipos e preconceitos enraizados.
Utilizando lambe-lambes e projeções mapeadas nas ruas de Boa Vista, Roraima, o projeto promove uma reflexão sobre as assimetrias regionais, a falta de divulgação da produção artística do Norte e os desafios logísticos enfrentados pela região. Segundo Rafael Pinto, o projeto surge da necessidade de reivindicar um espaço de equidade e dignidade social na cena cultural.
Além das intervenções urbanas, o projeto prevê a catalogação das obras criadas em uma publicação digital e a criação de um registro audiovisual para compartilhar o processo de criação e intervenção com o Brasil e o mundo. O objetivo é repensar estereótipos e afirmar que o Norte não é apenas um “Brasil profundo”, mas sim a essência pulsante do país, reivindicando seu espaço no centro da compreensão do que chamamos de Brasil e de arte brasileira.
A ideia do projeto é circular por toda a região Amazônica, envolvendo artistas de cada localidade por onde passar. O plano futuro inclui estender a iniciativa ao Nordeste e finalizá-la no Centro-Oeste do país, regiões também marginalizadas. Até o momento, o projeto já foi contemplado em dois editais: o Fetec – Paulo Gustavo, com o título “Quem Inventou o Brasil Profundo?”, que terá um alcance estadual, e agora no Rumos Itaú Cultural, possibilitando abranger além de Roraima, o estado do Amazonas.
Conheça o artista

O artista Rafael Pinto, também conhecido como Pérola, compartilha um pouco de sua trajetória e as motivações por trás do projeto (Foto: Arquivo pessoal)


“Eu sou o Rafael Pinto, nome artístico Pérola, artista visual. Moro aqui em Roraima há 11 anos. Vim da Bahia pra cá, de uma cidade do interior para uma capital no norte do Brasil. Essa mudança me trouxe diversas questões sobre a dimensão do Brasil, sobre este lugar conectado com pessoas indígenas, com uma natureza e com uma lógica de funcionamento muito diferente do interior da Bahia, a cidade de onde eu venho. Chegando aqui, tive a possibilidade de desenvolver meu trabalho artístico, de ter contato com diversos artistas. Esse movimento me levou a trazer muitas questões sobre a cidade, sobre este lugar. Identifiquei uma certa semelhança com o lugar de onde vim, mas ao mesmo tempo comecei a me conectar com outras pessoas de outros estados” explicou.
O contato com as artes o fez enxergar o quanto estamos à margem da cena artística de outras regiões, de outros lugares do Brasil. E não só no cenário artístico, mas também no acesso à tecnologia, à internet, na mobilidade.
“Percebi que sempre éramos os últimos a chegar nos encontros nacionais, que minhas viagens eram as mais complicadas, sem humanidade, com escalas gigantescas, voos sem opções de mais conforto, sempre com grandes escalas. Esse problema com a internet, a falta de energia e diversos outros problemas dificultam nossa interação com outras partes do Brasil. Isso me fez pensar que vivemos na fronteira do Brasil, com o Brasil. Este projeto é para levantar essas questões, desenterrá-las. É um momento muito especial.”
O projeto busca, assim, não apenas provocar reflexões sobre as desigualdades regionais e os desafios enfrentados pelo Norte do Brasil, mas também promover uma maior integração e reconhecimento da produção artística e cultural desta região tão rica e diversa.