Sábado, 04/05, mesmo com o hábito de dormir cedo e não assistir TV aberta, tive a pachorra de assistir o show de Madonna nas areias de Copacabana. Começou com atraso, a artista subiu ao palco quase uma hora após o previsto. Não sou fã de Madonna, mas admiro a grandiosidade de seus shows. Acho, inclusive, sua voz feia; mas Madonna canta e encanta milhões de pessoas pelos quatro cantos da terra. E, assim ficou bilionária e tem um público de todas as idades, todas as raças, classes sociais e opções sexuais.
A diva do pop encerrou a turnê mundial “The Celebration Tour“, após passar por mais 80 cidades ao redor do mundo, nas areias da praia mais icônica do Brasil, Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, “cidade maravilha, purgatório da beleza, e do caos”, Fernanda Abreu.
Na madrugada de domingo, após o show, escrevi uma carta, que foi publicada no jornal OGLOBO, elogiando a performance da artista, que prestes a completar 66 anos, eletriza e hipnotiza plateias, como fez nas areias de Copacabana, onde reuniu, segundo os organizadores, 1,6 milhões de pessoas. Também escrevi uma crônica com o título “Madonna, alegria despudorada”. Pronto, estava aberto mais um quiproquó.
Recebi uma enxurrada de críticas, dos furibundos, revoltados pelo desrespeito da a artista americana com a família brasileira; ; nossos costumes e tradições. E a pouca vergonha dela em se exibir de forma lascívia, despudorada, diante de milhões de pessoas.
“Essa velha, decrépita, vem se exibir por aqui”, escreveu um.
“O Brasil parece a casa da mãe Joana, qualquer um vem se pra cá”, relatou outro. “Com tantos assuntos sérios para comentar, tu escreves sobre essa puta velha”, me cobrou uma leitor leitora. Além de xingamentos sobre sua sexualidade. Até a “puzzi” de Madonna foi citada e e criticada, após as calientes cenas em que Madonna e uma bailarina simulam masturbação.
Engraçado que a maioria das críticas que recebi, são de pessoas de minha idade, que se tornaram conservadoras, “caretas” e chatas; não veem graça e beleza nas coisas. É gente que fala em “moral e bons costumes”, mas que cresceu ouvindo os gemidos da Jane Birkin na belíssima “Je t’aime moi non plus”. Que descobriu o sexo com os “catecismos”, em preto e branco de Carlos Zéfiro, e nas revista suecas. Que viu corpos desnudos no teatro na peça “Hair”, imortalizada na canção “Tigresa”, de Caetano Veloso. Que foi escondida ao cinema para assistir “O último tango em Paris”, de Bernardo Bertolucci, com Marlon Brando e Maria Schneider, 1972, do qual só se falava do uso heterodoxo da manteiga francesa; e “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, 1971, pelas cenas de sexo e violência. Que assistiu cenas forte de “O império dos sentidos”, de 1976, do cineasta japonês Nagisa Oshima. Que adoravam vê a sensualidade da atriz holandesa Silvia Kistel no filme “Emanuelle”.
Muitos dos que xingam Madonna, se derretem quando um cara fica bradando que é “imbrochável”, fazendo piada de mau gosto. Isso mostra que essas pessoas não têm nada contra sexo, apenas preferências diferentes.
Madonna se mantém no topo do sucesso, pois ainda choca, ou melhor, causa. Assim continua vendendo disco, enchendo o cofre de dólares. Com uma fortuna avaliada de 600 milhões de dólares, ela deixou o Rio 3,5 milhões mais rica.
O mega-show de encerramento da turnê, “The Celebration”, o maior da carreira de 40 anos da artista, transformou as areias de praia numa enorme pista de dança. O apoteótico show foi uma mistura de réveillon, espetáculo circense, Broadway e carnaval.
Cito Marcel Proust, sucinto e contundente, ao tratar de falso moralismo: ¨Assim que uma pessoa se sente infeliz, torna-se moralista”.
Enquanto os cães ladram, Madonna passa. Tanta gente que desaprendeu a se dar prazer, preocupadas com a vida alheia, só tem tempo para o sexo nasal, ou seja, mete o nariz na vida dos outros.
Gente, vamos fazer como a Madonna, vamos gozar a vida. “Ademã que vou em frente”.
Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências.
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