Após a transferência dos internos do Centro Socioeducativo Homero de Souza Cruz Filho (CSE) para o prédio do Centro de Ensino e Instruções do Corpo de Bombeiros (CEIB), localizado no bairro 31 de Março, os moradores procuraram o Ministério Público Estadual (MPRR) para repudiarem a decisão e solicitarem que os adolescentes sejam retirados do local, alegando que o prédio não possui segurança suficiente.
Os 13 internos foram transferidos no início da noite de quarta-feira, 15, para o CEIB, enquanto reformas na unidade são realizadas. Segundo a Vara da Infância e Juventude, o prazo determinado para o Governo do Estado é até hoje, 17. No entanto, é possível que o período se estenda.
“Nós vamos primeiro ao Ministério Público, vamos ver o que o promotor nos diz, e dependendo do que ele nos diga, vamos saber o que vamos fazer. Mas não vamos ficar calados. Disseram para a gente que iria ter policiamento 24h, mas eu acordei hoje, às 6h, e não vi nenhuma viatura”, disse Paulo Santos, funcionário público e morador do bairro há 35 anos.
Os moradores afirmam ainda que o bairro é composto basicamente por famílias antigas, onde é possível verificar muitos idosos. Anteriormente, o prédio era uma escola, que foi fechada por não ter mais demanda de crianças no bairro, sendo assim, transformado no CEIB.
Um agente socioeducador, que preferiu não ser identificado, informou que ainda há outros 60 internos dentro do CSE, instalados em quatro salas, enquanto as obras dentro da unidade não são finalizadas. “Antes, eles estavam na delegacia da Casa da Mulher Brasileira, onde eles estavam em celas, estavam mais seguros. Tinha policial militar e agentes socioeducadores lá para fazer a segurança, estava tranquilo, digamos assim. Agora eles vão para lá [CEIB] e lá é inadequado”, disse.
O agente disse ainda que a informação da Vara da Infância e Juventude que havia insalubridade na Casa da Mulher Brasileira, por isso, não seria possível manter os internos dentro das dependências, não procede, já que os adolescentes estavam em celas adequadas. “Se fosse por insalubridade, deveriam tirar os outros do CSE porque lá está tudo destruído”, completou.
Em relação às obras que estão sendo realizadas na unidade, o agente apontou que está sendo finalizada somente em um bloco, o que ainda não possibilita o retorno das internas femininas que estão cumprindo medidas domiciliar, após terem sido liberadas pelo juiz Marcos Oliveira por relatar que queria manter a integridade física das meninas.
“Esses internos estavam dentro de um muro de seis metros, com cerca elétrica, e escoltados pela Polícia Militar, aí de repente, o judiciário joga dentro de uma delegacia e agora transfere para uma escola, como se fossem adolescentes comuns. Todos são de alta periculosidade”, finalizou o agente socioeducador.
OUTRO LADO – Por meio de nota, a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) informou que a transferência dos internos do Centro Socioeducativo (CSE) para o Centro de Ensino e Instrução do Corpo de Bombeiros teve consentimento da Vara da Infância e Juventude, considerando o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Ressaltou ainda que a segurança no local está sendo reforçada pela Polícia Militar, juntamente com socioseducadores dentro da escola, e policiamento com viatura na área externa 24h.
A nota apontou que o prazo de permanência dos adolescentes no Centro de Ensino será enquanto durarem as obras de readequações do prédio do CSE, conforme determinação da Justiça.
Por fim, disse que o tempo necessário para essas adequações vai de 20 a 30 dias, por se tratar de uma obra de adaptação de reforço das estruturas de concretagem de blocos da unidade que “ficaram destruídos no motim promovido pelos adolescentes internos, na segunda feira, 13, assim como, os blocos que já estavam recebendo melhorias e reparos, por conta de outras ações contra o patrimônio público”.
VOCÊ NA FOLHA
Após a transferência de 13 adolescentes do Centro Socioeducativo Homero de Souza Cruz Filho (CSE), a equipe de enquetes da Folha foi às ruas para saber o que a população achou desta medida. Você concorda com esta transferência?
José Pastana, 54 anos, consultor de vendas (Fotos: Wenderson de Jesus)
“Eu acho que eles não foram transferidos para um local adequado. O local adequado para eles era onde eles estavam – no CSE, mas nem o pessoal que trabalha lá consegue dar segurança para eles, porque hoje em dia é tudo questão de facção né?Então acaba que eles também ficam sem segurança. Acho que as medidas não são suficientes, locados onde eles estão não há recuperação. Desse jeito não vai dar certo”.
Demastenes Santos, 45 anos, comerciário (Foto; Wenderson_de_Jesus )
“Acho esta situação totalmente errada. Isso mostra uma total desorganização e planejamento. Isso é o grande mal do Brasil: não planeja e aí quer fazer de última hora e de qualquer jeito. Até porque estas casas de recuperação não recuperam ninguém. Aí levarem para um local inapropriado, piora tudo. E levar para uma escola, é pior ainda porque estávamos com problemas de falta de vagas para as crianças e ainda utilizam o local para outros fins. Isso é errado!”.
Kassia Muniz, 42 anos, enfermeira (Foto; Wenderson_de_Jesus )
“Vamos ver as condições desse local. Não há sistema de segurança para eles mesmos. Eu não concordo. Dentro do CSE eles possuíam uma estrutura apropriada para não se agredirem e aconteceu o que aconteceu, até crimes bárbaros! E havia todo um sistema de segurança para eles. E se lá que foi construído para oferecer essa segurança não adiantou, imagine em outro local?”.
Enus André, 22 anos, vendedor (Foto; Wenderson_de_Jesus )
“Eu acho que o Estado deveria ter um local tipo abrigos, para que os menores pudessem ser transferidos de última hora. Nos Estados Unidos é assim, existe hierarquia para tudo. Eles não colocam as pessoas nos locais errados, como estão fazendo aqui e levando infratores que fizeram coisas erradas para locais inadequados”.
Luiz Gabriel, 19 anos, estudante (Foto; Wenderson_de_Jesus )
“Eu entendo que o Estado precise procurar um local para esses menores ficarem por conta das condições em que o CSE se encontra agora. Então eu sou de acordo com uma transferência. Porém, acho que essa transferência que aconteceu foi de total irresponsabilidade do órgão de segurança, pois ameaça a segurança da população. Se eles oferecessem segurança máxima tanto para a população quanto para os jovens, estava tudo certo, mas acho que isso não está acontecendo”.
Maristela Arruda, 43 anos, professora (Foto; Wenderson_de_Jesus)
“Eu não apoio essa transferência. Primeiro, porque a escola não comporta e segundo, porque não tem segurança. Não há segurança nem para eles lá dentro e nem para as pessoas aqui fora. E mesmo eles sendo menores, são infratores e constituem perigo para a sociedade”.
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Moradores protocolam documento após transferência de internos