A atual situação da Segurança Pública em Roraima finalmente pode ser analisada a partir dos números do Mapa da Segurança Pública 2024, que se refere aos dados do ano de 2023. Os números refletem o que vêm mostrando as matérias da imprensa e o que as pessoas sentem especialmente nos bairros mais afastados do Centro, onde a criminalidade é visível, longe dos gabinetes refrigerados das autoridades.
Um dos dados que expõem a realidade das ruas roraimenses diz respeito às mortes por intervenção de agente do estado, ou seja, por policiais. Dos 13 estados onde esse tipo de ocorrência aumentou no último ano, Roraima se destaca de longe, com alta de 225%, passando de 4 mortes, em 2022, para 13 mortes, em 2023. É um número surpreendente, muito acima da média nacional.
O dado converge para as investigações em curso sobre a participação em milícia e grupo de extermínio, em que policiais militares foram denunciados de simularem confronto para matar pessoas. Em contrapartida, os dados mostram que nenhum policial foi morto no exercício da profissão ou fora dela, confirmando a inexistência de uma guerra declarada de bandidos contra policiais.
Outra realidade mostrada pelo Mapa da Segurança Pública é que Roraima foi o campeão de aumento na taxa percentual de casos de roubo seguido de morte, os chamados latrocínios. O aumento foi de 57,14%, muito à frente do segundo colocado, que foi Tocantins, que registrou aumento de 3,45%. Tirando Rio de Janeiro, que se manteve estável, as demais 24 unidades da Federação registraram redução na quantidade de latrocínios.
Na análise de taxas de lesões corporais seguidas de morte, Roraima também figura nas primeiras colocações, na contramão dos números nacionais, em que nove estados apresentaram aumento do número de vítimas em 2023. O primeiro foi Tocantins, que passou de 2 para 6 casos (200% de aumento); depois vem Roraima, que passou de 4 para 8 casos (100% de aumento). Enquanto isso, houve redução em outros 15 estados.
O único ponto positivo sobre Roraima mostrado diz respeito a homicídios dolosos, em que o Estado apresentou o menor número de vítimas em termos absolutos, encabeçando a lista com 130 casos, seguido de Amapá (303) e Acre (178). Roraima foi a apresentou a maior redução, chegando a 25,71%. Ainda assim, uma quantidade relativamente grande de pessoas assassinadas no Estado em 2023.
O Mapa da Segurança Pública evidencia que Roraima vive um momento crítico, reflexos direto da criminalidade advinda do narcogarimpo, em que o garimpo ilegal associado ao tráfico internacional de drogas na Terra Indígena Yanomami incide na violência urbana e na criminalidade, com destaque para Boa Vista. E tudo isso sendo assistido no silêncio pelas autoridades que deveriam agir, mas fingem estar tudo bem.
Mas não está. Basta conferir outros dados preocupantes do Mapa. Embora esteja entre os três estados com menor concentração de ocorrências de tráfico de drogas – Amapá, com 0,26%, Roraima, com 0,28%, e Acre, com 0,39% -, o Estado de Roraima apresentou aumento de 7,66% nas ocorrências, saindo de 470 ocorrências, em 2022, para 506 em 2023, um aumento de 7,66%.
Enquanto aumentou o número de tráfico de drogas, em 2023 Roraima foi o Estado com as menores apreensões de cocaína, com 28 kg apenas (0,02% do total), seguido do Amapá, com 83 kg (0,06%). Roraima também aparece encabeçando a lista dos estados com menos apreensões de armas de fogo, com 333 (0,3% do total), seguido do Amapá (539 ou seja, 0,5% do total) e Maranhão (623, ou 0,6% do total).
Então, os números falam por si. O resto são apenas discursos falaciosos de uma Segurança Pública que precisa ir além de comprar viaturas para as polícias. Tem mais: e quando se fala da situação das mulheres dentro do contexto, aí o quadro também é preocupante. Mas esse é assunto para amanhã.
*Colunista