HÁ 2 ANOS EM REFORMA

Comerciantes pedem prioridade aos mais antigos no fornecimento de bancas de venda na Feira do Passarão

Feirantes que ficaram de fora da seleção das bancas na Feira do Passarão reivindicam a anulação do edital e que seja realizada uma nova seleção

Feira deve ser inaugurada no segundo semestre deste ano (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Feira deve ser inaugurada no segundo semestre deste ano (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Criada em 1994, a Feira do Passarão se tornou um dos principais pontos de comercialização da produção rural de Roraima. Entretanto, devido às condições precárias em que a estrutura se encontrava, o espaço foi interditado para reforma, que estava prevista para ser concluída em 180 dias e já dura há mais de dois anos. A nova previsão é de que o lugar seja inaugurado no segundo semestre deste ano.

A história do espaço também se entrelaça com a de alguns feirantes, que vendiam produtos no local desde o início. Em razão da reforma, comerciantes precisaram encontrar um novo ponto de venda, enquanto outros montaram tendas improvisadas ao lado da feira para continuarem as vendas, na esperança de que pudessem retornar ao espaço após o fim das obras.

Contudo, agora, alguns feirantes relatam transtornos para conseguirem de volta o espaço comercial na feira reformada. É o caso de Lenita Almeida, de 60 anos, e do esposo, Geraldo da Silva, 50, que tinham duas bancas de venda de peixes na Feira do Passarão há cerca de 25 anos. Também é a situação de Edna Correia, 61, que trabalhava no espaço há 12 anos e, como eles afirmam, de vários outros comerciantes.

Da esquerda para a direita, os feirantes Lenita Almeida, Geraldo da Silva e Edna Correia (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

“Teve um edital para inscrições no dia 10 de maio. Abriu às 8h, mas eu tive uma consulta no Hospital Coronel Mota e só pude ir às 10h. Era pela internet, só que a gente dessa idade não sabe mexer com isso direito, mas consegui fazer. Quando saiu o resultado, apareceu que eu não consegui uma banca porque cheguei mais tarde e era por ordem de chegada. Teve gente que nunca nem trabalhou na Feira do Passarão e conseguiu, não acho isso justo. Fiquei muito triste e revoltada”, contou Lenita.

Os comerciantes reclamam de falta de esclarecimento e orientação a respeito da organização da feira. Eles acreditam que os feirantes que trabalhavam no local antes da reforma deveriam ter sido priorizados e, por isso, reivindicam a anulação do edital e que seja realizada uma nova seleção.

“A gente tinha uma tenda na feira provisória, mas, durante a pandemia, pegamos covid-19 e tivemos que nos afastar. O administrador da feira disse que a gente podia continuar afastado, porque depois da reforma seria garantido que a gente teria nossa banca de volta. Agora aparece esse edital e, por causa de duas horas atrasada, quer dizer que eu perdi 25 anos de trabalho? Não aceito isso”, desabafou Lenita.

Feira do Passarão antes da reforma (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Feira faz parte da vida de feirantes

Conforme Edna, “a feira é para nós, feirantes, que sofremos antes da reforma”. Nesse período, ela afirma que os comerciantes se machucavam devido à estrutura precária, tiveram que enfrentar mau cheiro e lama nos períodos chuvosos e, no caso dela, chegou a contrair doenças, como chikungunya, dengue e covid-19.

“Depois que a feira fechou para reforma e montamos a provisória, as vendas caíram muito e começamos a ter prejuízo. Então, a gente acabou ficando em casa, porque disseram que a gente não ia perder as nossas bancas. Agora, que é pra a gente entrar de novo, acontece isso e ficamos de fora? Muitos outros feirantes estão na mesma situação, mas têm medo de falar”, disse Edna.

Lenita Almeida é feirante há 25 anos (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Lenita, que passou parte da vida vendendo peixes na Feira do Passarão, relembra que a filha frequentou o espaço desde a infância até o início da vida adulta. Além disso, menciona as histórias que viveu e as amizades que fez no lugar.

“Nos aniversários e nas épocas comemorativas, a gente da feira se reunia para fazer festas. Com o tempo que passamos lá, virou quase uma família. Lá foi o nosso segundo lar, passávamos o dia inteiro. Não sei fazer nada sem ser na feira. Eu amava aquela feira, mesmo naquelas condições. Meu psicológico está abalado. Lutei que só e agora quem vai ter um espaço bonito e reformado vai ser quem nem era de lá antes “, comentou.

Outro lado

O Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Iaterr), responsável pela feira, se posicionou por meio da seguinte nota:

O Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural esclarece que foi realizado o relatório situacional na Feira do Passarão no ano de 2023, e os feirantes que permaneceram no local exercendo atividades de feira foram realocados por meio do edital de convocação nº 01/2024 do Iater, devidamente publicado no Diário Oficial do Estado nº 4650, de 2 de abril de 2024.

Quanto às vagas remanescentes, tendo em vista a necessidade de se estabelecer e viabilizar o uso racional de espaço público, o preenchimento se deu mediante a Chamada Pública nº 001/2024 do Iater, publicado no Diário Oficial do Estado nº 4673 de 6 de maio de 2024, bem como no site oficial do Instituto (https://iater.rr.gov.br/).

Este último certame teve como objetivo o credenciamento para permissão de uso de 83 vagas disponíveis a título precário voltadas a pessoas físicas, organizações rurais e Microempreendedores Individuais interessados em ocupar os espaços destinados à comercialização de produtos na Feira Livre do Passarão, de acordo com o regimento interno e a Portaria 234 do Iater de 19 de julho de 2023, que estabelece os setores, critérios e a forma de ocupação dos espaços de comercialização da feira do Passarão.