“São João na terra é fogueira,
São João no céu é balão,
Dançar quadrilha na poeira,
Isso é que é São João!”
Banda Mastruz com Leite
(Discografia de 1999)
Eita! São João na terra é fogueira. São João no céu é balão… Finalmente chegou o mês mais esperado por muitos, junho. Este mês é aguardado ansiosamente por todos os amantes das festas que ocorrem ao longo desse período. Elas, tradicionalmente, são conhecidas por “festas juninas”. Acontece que, povo gosta tanto de brincar o São João e dançar quadrilha que, em muitos lugares, a brincadeira se estende até o mês de julho.
A origem dessa festa/brincadeira aponta para as antigas tradições pagãs europeias, que celebravam a fertilidade da terra e os solstícios, marcando o início do verão no Hemisfério norte. As celebrações incluíam fogueiras, danças e rituais de fertilidade. Logo, elas foram, paulatinamente, cristianizadas com o advento do Cristianismo. No século IV, a Igreja Católica adaptou as festividades para celebrar os santos populares do mês de junho, singularmente com Santo Antônio (13), São João (24), São Pedro (29).
Registra-se que, sua introdução, no Brasil, é atribuída a presença dos colonizadores portugueses, no século XVI. Neste período, as festas eram denominadas “Festas Joaninas”, em referência a São João. Assim, os festejos eram os mais importantes na Península Ibérica. Ademais, alguns registros do período, apontam para o processo de adaptação ao contexto local por meio da incorporação de elementos das culturas indígena e africana. Esses elementos podem ser identificados, singularmente, na presença dos alimentos que se tornaram típicos durante os festejos.
E, por falar em comemorações, quando perguntamos aos mais “velhos” a respeito das memórias afetivas das festas juninas, muitos dirão: “o simbolismo”. Dentre eles, é possível destacar:
A tradição de acender fogueira no dia 24 e o compadrio de fogueira. Ele, por exemplo, consistia num ato de se saltar a fogueira de um lado para o outro, de mãos dadas, enquanto se pronunciavam a fórmula do batismo, com os seguintes dizeres: “São João disse, São Pedro confirmou, Eu sou seu padrinho, Que São João mandou”. Essa tradição, por tanto, tinha a força de unir laços entre pessoas, alguns sem nenhum grau de parentesco. Neste caso, não havia a mediação do sacerdote da Igreja para legitimar o batismo e ele era tido como um rito sério e, ao mesmo tempo, sagrado porque o “fiador” era São João. É importante observar o contexto cristão, nele as fogueiras passaram a simbolizar a luz e a purificação, associadas a São João Batista, que, conforme a Bíblia cristã, ele foi o precursor de Jesus Cristo.
Além da fogueira, toda festa junina que se preze tem música e muito arrasta-pé além quadrilhas juninas. No Brasil, a quadrilha foi adaptada para um contexto rural, simulando uma festa de casamento na roça, com trajes típicos e uma narrativa cômica que diverte os participantes. Ela é guiada por um marcador, que anuncia os passos com versos rimados, criando uma atmosfera alegre e interativa.
Se você chegou até aqui, então pode até se questionar: “mas, atualmente, os arraiais e as festa juninas não seguem mais esse modelo “tradicional”, né?. Neste ponto, podemos concordar com você, especialmente porque em muitos lugares, sofreram alterações ou novos arranjos, seja para atender a chamada “cultura de massa”, seja por força da própria modernização das festas.
Alguém, ainda, pode pontuar que nem existe mais as tradicionais “quadrilhas juninas”. Novamente, o questionamento faz sentido e é pertinente. E, a nossa primeira tentação, é justificá-la pela própria dinamicidade da cultura, na contemporaneidade, ou seja, a cultura sofre influência em cada contexto e época, basta você retornar ao trecho onde discorremos sobre a sua introdução no Brasil. Mas, esse debate será objeto de um outro texto, de um outro momento. Contudo, não é por causa disso que você vai desistir de continuar com a leitura, né?
Então, vamos seguir um pouco mais com o simbolismo da e na festividade que homenageia os santos do mês de junho. Nós já falamos da fogueira e da dança (quadrilha junina). Porém, precisamos também destacar a culinária por meio dos pratos típicos. Essa particularidade refletia, por exemplo, a abundância das colheitas de junho e a adaptação dos ingredientes, como o milho e seus derivados (pamonha, canjica, pé-de-moleque e bolo de fubá e etc.). Esses alimentos, além de saborosos, carregam um forte simbolismo de fartura e gratidão, particularmente nas culturas de base popular e tradicional.
Outro ponto importante nas festas juninas são as brincadeiras, como a pescaria, o jogo de argolas e o correio elegante (alguns também chamam por correio do amor). Elas, permitiam, tanto as crianças, quanto os adultos de desfrutarem da ludicidade, do convívio comunitário e da socialização do tempo festivo. Nossa! Acho que bateu uma nostalgia com a leitura, mas, não se avexe não! O mês de junho está só começando e ainda dá tempo de aproveitá-lo da melhor forma possível, curtir os pratos típicos e ainda acompanhar as coreografias e as homenagens (temas) que impulsionam as competições entre as quadrilhas juninas. Ainda mais porque são muitos os arraias espalhados pela nossa cidade… deve ter um aí pertinho de você!
Por fim, você ainda recordar do título do presente texto?
Sim. Fala das festas juninas que passaram a ser reconhecidas como manifestação da cultura nacional, com a Lei n. 14.555, de 25 de abril de 2023. Na prática, a lei reafirma o valor cultural junina, não só para o campo religioso, mas também como ela consegue movimentar a economia e o turismo regional nos quatros “cantos” do Estado brasileiro. Ademais, o período das festas juninas desempenha um papel importante na promoção da cultura brasileira. Elas são uma oportunidade para as comunidades celebrarem as tradições, fortalecer os laços sociais e transmitir conhecimentos e práticas culturais para as novas gerações. Além disso, os festejos contribuem significativamente para a economia local por meio do fomento ao comércio com a venda e aquisição dos produtos, comidas típicas, materiais para as vestimentas e os enfeites, entre outros. Eita! Como é bonito uma noite de São João.
(*) Francisco Marcos Mendes Nogueira. Historiador. Pesquisador e Brincante das Culturas Populares. Membro da Confluência Roda de Prosa de Roraima e do Coletivo Encruzilhada: Gestão & Projetos. E-mail: [email protected]
(**) Elizângela Araújo. Assistente Social. Produtora e Agente Cultural. E-mail: [email protected]