Cotidiano

Boa Vista tem mais de 50% dos adultos com excesso de peso

Universidades terão incentivo do MS para prevenir e controlar a doença

O sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel), que faz parte das ações do Ministério da Saúde para estruturar a vigilância de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no país, revela que 52,8% dos adultos, na capital Boa Vista, estão com excesso de peso. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no mundo inteiro, a obesidade quase triplicou desde 1975.

Pensando numa forma de incentivar as Universidades públicas ou privadas, a elaborarem projetos com ações de prevenção, diagnóstico e tratamento da obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde lançou a chamada pública “Enfrentamento e Controle da Obesidade no âmbito do SUS”, que vai ficar aberta no site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), até o dia 16 de setembro de 2018.

Apesar do alto índice de adultos com obesidade, na capital de Roraima, até o momento, somente uma instituição de ensino superior roraimense confirmou a participação. De acordo com a assessoria de comunicação do Centro Universitário Estácio da Amazônia, a instituição “está ciente do edital e vai cadastrar dois projetos do curso de Nutrição”.

A assessoria de comunicação da Universidade Federal de Roraima (UFRR) informou que a Pró-Reitoria de Planejamento (Proplan/UFRR) após o conhecimento da chamada pública, divulga internamente entre os demais setores, e estes respondem o interesse e encaminham projetos para o Ministério da Saúde.

Já a Pró-Reitoria de Ensino e Graduação da Universidade Estadual de Roraima (Uerr) informou que a Universidade ainda está em fase de reuniões com o colegiado da área de Saúde (Medicina, Enfermagem, Educação Física, Ciências Biológicas) no desenvolvimento da linha de projeto, que deverá estar concluído bem antes do dia 16 de setembro, data limite para submissão de propostas.

A Faculdade Cathedral está analisando o edital para verificar os tipos de projetos que pode desenvolver. E a Faculdade Roraimense de Ensino Superior (Fares) informou que não tem interesse em participar desta chamada pública. As informações foram repassadas por meio de suas assessorias de comunicação.

Ao todo, serão selecionadas 27 universidades. Os projetos devem ter duração de dois anos, contados a partir da data de assinatura da proposta, além de obedecer a requisitos técnicos descritos no edital. Serão disponibilizados R$ 10 milhões para o desenvolvimento de pesquisa, extensão e formação de trabalhadores na atenção básica.

Obesidade pode ser controlada com tratamento especializado e disciplina 

Segundo a médica nutróloga Natália de Souza Silva, a obesidade corresponde a uma concentração muito elevada de massa gordurosa no organismo e é definida pelo Índice de Massa Corpórea (IMC), por meio da fórmula peso (em quilogramas) dividido pela altura (em metros) ao quadrado. No adulto, o valor normal do IMC está entre 18,5 e 24,9. Pacientes com IMC entre 25 e 29,9 são diagnosticados com sobrepeso. A obesidade se dá em IMC acima de 30. Casos de IMC acima de 40 são considerados como obesidade mórbida.

Para a especialista, o comportamento alimentar sofre influência de muitos fatores, tais como: sedentarismo, alimentação inadequada, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, somados a fatores genéticos, já que o organismo de algumas pessoas armazena mais gordura do que o normal.

A nutróloga destacou ainda que são poucos os casos em que o excesso de peso resulta de alterações hormonais.

“Doenças da glândula tireoide, a quem popularmente se atribui causa de obesidade, não estão entre as causas da obesidade propriamente dita. O hipotireoidismo pode reduzir a taxa metabólica basal, mas isto ocorre no contexto de uma síndrome que leva a várias outras alterações do funcionamento do corpo”, explicou.

Segundo Natália, a obesidade pode acontecer também no contexto da síndrome metabólica (SM). “Esta síndrome cursa com obesidade, elevação do triglicerídeo, alteração da glicemia/ou diabetes tipo 2, redução do HDL – colesterol (“colesterol bom”), e aumento da pressão arterial. Pode ainda fazer parte do quadro, embora não faça parte dos critérios diagnósticos, a esteatose hepática (gordura no fígado). Todos os itens da SM isolados, e principalmente em conjunto, aumentam o risco cardiovascular individual. Ou seja, a pessoa tem mais chances de ter infarto, derrame, doenças arteriais das pernas”, detalhou.

TRATAMENTO – “A pessoa com obesidade deve entender que tem uma doença crônica e, infelizmente, incurável. Isso significa que o tratamento pode ser mais complexo do que apenas aderir a alguma dieta da moda, e que deve durar por toda a vida”, orienta Natalia.

De acordo com a especialista, não existe um estudo que mostre qual forma de dieta é a melhor para o tratamento da obesidade. “O que tem mais chances de dar certo em longo prazo é a detecção de erros alimentares e comportamentais em relação ao alimentar-se, e consertá-los. Ou seja, trata-se da popular reeducação alimentar”, ressalta. 

Há medicações disponíveis regulamentadas pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para serem usadas como coadjuvantes no processo de emagrecimento, mas elas sozinhas não tem poder de curar a obesidade sem mudança de hábitos de vida. O tratamento cirúrgico, por meio da cirurgia bariátrica, pode ser uma alternativa para casos de obesidade mórbida.

“Esse recurso tem chances de dar certo em longo prazo, desde que respeitados os critérios criados pelo Ministério da Saúde, que determinam que pacientes podem ser candidatos a esse tratamento, e que pacientes não podem. Mas sabemos que nem a cirurgia cura a obesidade se o estilo de vida que levou a pessoa à obesidade não for radicalmente mudado”, completou a nutróloga. (L.D.)