ANA PAULA LIMA
Editoria de Cidade
A história de Roraima pode aos poucos se perder. Sem preservação dos bens históricos do estado, cada vez mais a memória da sociedade vai sendo apagada sobre como foi construída. Por aqui, apenas um bem patrimonial é tombado no âmbito federal, que é o Forte de São Joaquim, no município de Bonfim. Entretanto, após sucessivas retiradas dos materiais que compunham o local, pouco restou e foi classificado como ruína.
Outros pontos também estão sendo deixados de lado nos últimos anos e parte disso está ligada ao fato de que a população roraimense tem pouco interesse em manter vivos os patrimônios históricos. É o que defendem especialistas que trabalham com a conservação e reestruturação de bens.
A superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Roraima (Iphan-RR), Katianne Bermeo, explicou que o trabalho de tombamento histórico em âmbito federal tem um trabalho muito mais extenso por passar por todo um processo de avaliação e relevância para a sociedade brasileira, diferente das esferas municipais e estaduais.
“É também feito o processo de salvaguarda daquele bem, que define quais procedimentos depois do tombamento, qual vai ser a destinação, quem vai cuidar. Tudo isso demora, no mínimo, quatro anos”, disse a superintendente. Katianne prosseguiu dizendo que o trabalho de reestruturação feito pelo Iphan é meticulosamente cuidado, onde a ideia é manter o bem exatamente como foi construído originalmente.
Além de pouca consciência da sociedade em manter os lugares, não existe equipe suficiente com capacidade técnica para conseguir realizar as ações de reestruturação, que difere da reforma. Um dos pontos de grande valor histórico para Roraima é a Casa da Cultura, que está abandonada nos últimos anos e, por conta disso, é palco de muitas manifestações artísticas que pedem a revitalização do local.
Por se tratar de uma organização nacional, o Iphan tem procurado outros bens roraimenses que possam ser tombados como patrimônio histórico do Brasil. É o caso da Fazenda São Marcos, localizado às margens do Rio Uraricoera, a panela de barro e a tradição do Areruya, uma oração indígena. “No nosso estado, o pessoal não tem a cultura de cuidar. A sociedade não tem uma educação patrimonial, tem que entender que não pode depredar e retirar as coisas dos locais históricos. Não é somente responsabilidade do poder público, é de todos”, ressaltou.
DETERIORADOS – A superintendente apontou ainda que existe a possibilidade de outros lugares serem considerados patrimônios históricos, porém o estado de deterioração tem dificultado essas ações. O Teatro Carlos Gomes, localizado também no Centro, é um deles, mas está há mais de dez anos abandonado.
Peças e obras históricas eram mantidas originalmente no Museu Integrado de Roraima, que fica dentro do Parque Anauá. Sem manutenção, o local encontra-se totalmente inadequado para abrigar as peças e tem risco de infestação de cupim. De acordo com o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Jorge Romano, as obras de arquiteturas são uma fonte de contar a história de uma civilização.
“Quando esses prédios são construídos, eles precisam de adequações e manutenção. Sem isso, não adianta ter nenhuma atitude de preservação. Isso é uma falta de visão dos governantes que não fazem um plano de cultura que tenha ideal pelo futuro, de contar história para as civilizações futuras”, disse.
CASA DA CULTURA
Processo para recuperação já dura quase uma década
Um dos pontos de grande valor histórico para Roraima é a Casa da Cultura, que está abandonada. Por meio de nota, o Ministério Público informou que desde 2010 tem ingressado com processos contra o Governo do Estado para que faça a reestruturação nas instalações do prédio.
Em 2013, a Justiça acatou o pedido do MPRR e determinou que o Governo de Roraima promovesse a restauração da Casa da Cultura, tombada como “patrimônio cultural dos roraimenses”. Dois anos depois, o Estado recorreu da decisão, porém a Justiça confirmou a sentença obrigando o Governo a promover a restauração. No ano de 2016, o MPRR ingressou com a ação de execução e em maio do mesmo ano o Estado foi citado para que cumprisse a decisão judicial.
Em agosto de 2017, o juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública proferiu decisão acolhendo pedido do MPRR, aplicando multa ao Governo do Estado de R$ 1.000,00 dia por descumprimento, para que se cumpra decisão de sentença anterior. Até a presente data a decisão não foi cumprida.
Projeto de obras culturais está em fase final
Através de nota, a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinf) informou que o projeto para restauração da Casa da Cultura Madre Leotávia Zoller já está em fase final de processamento. Na próxima semana, dia 10, será aberto o processo de licitação para a construção do canteiro laboratório no local, onde pesquisadores vão fazer o levantamento de dados sobre os materiais, como tinta, cerâmicas, madeiras, etc., para a plena restauração do prédio, preservando suas características originais.
Esse processo será feito por uma equipe multiprofissional com representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Ministério Público, Seinf e outros órgãos de pesquisa. Após esse processo, com base nos dados levantados pelos pesquisadores, será feito um novo projeto para restauro total do prédio.
TEATRO – A Secretaria Estadual de Cultura (Secult) informou que o projeto para restauro do Teatro Carlos Gomes está pronto. Trata-se de uma obra com investimentos previstos de R$ 1,5 milhão, portanto o Governo está trabalhando para alocar esses recursos, com a finalidade de realizar o serviço.
MUSEU – O Instituto de Amparo à Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado (Iacti), pasta responsável pelo Museu Integrado de Roraima (MIR), afirmou que no momento está trabalhando no projeto de recuperação do prédio. “Todo acervo que se encontrava no local foi cuidadosamente transferido para um espaço cedido dentro das novas instalações do Instituto e que tão logo será aberto para visitação do público”, reforçou. (A.P.L)