O único município roraimense que liga Brasil e Guiana é Bonfim, criado também com a Lei nº 7.009/1982. Com 42 anos, a história é relembrada por quem nasceu e vive a cultura brasileira e inglesa.
Bonfim é município habitado por aproximadamente 14 mil pessoas e tem registros escritos de povos indígenas das duas fronteiras. Segundo jornais amazonenses do século XIX, as missões cristãs de jesuítas ingleses na região foram os primeiros passos de desenvolvimento da Vila de Bonfim.
Moradores, como o major da Polícia Militar, Denilson Cabral, contam que o nome da vila surgiu em homenagem a um dos primeiros habitantes conhecidos da região: Antonio Bonfim, que teria vendido suas terras para Eduardo Ribeiro, governador do Amazonas na década de 1890, e que, posteriormente, teria vendido para missionários.
“Muito tempo atrás, Eduardo Ribeiro chegou aqui no Bonfim, de barco. Ao passar por esse local, encontrou um senhor sentado na margem do rio [Tacutu] e pediu permissão para ancorar o barco. […] Depois de muito tempo [de conversa], ele disse: me chamo Antonio Bonfim”, relembrou o major das histórias contadas por um primo.
Comércio e agricultura
Durante todo esse tempo, Bonfim se desenvolveu com o comércio e a troca de bens com Lethem, cidade guianense. Mas, além disso, o município trabalhava por fortalecer a agricultura e a pecuária no Território do Rio do Branco. Em 1984, por exemplo, a meta do município em investir em calcário.
Atualmente, o foco na agricultura não mudou. Segundo o prefeito, Joner Chagas, o município tem esse fator econômico muito forte e ações, como pavimentação e investimento agrícola fortalecem a atividade.
“É um município que tem crescimento agropecuário muito grande. Somos o maior produtor de grãos do estado de Roraima e estamos investindo na agricultura, conseguimos construir uma fábrica de polpas para a agricultura familiar”, exemplificou Chagas.
Sonho de cruzar fronteiras
Desde o século XX, jornais já relatavam o sonho do Território do Amazonas com uma estrada que conectasse Manaus a Georgetown, capital da Guiana Inglesa. A aspiração brasileira era impulsionada pelo desejo de explorar a Amazônia. No entanto, a densa floresta e os rios volumosos tornaram essas iniciativas complicadas.
Ao longo do tempo, o Brasil e a Guiana firmaram diversos acordos bilaterais na tentativa de promover a cooperação econômica e a integração regional. Projetos como a criação de zonas de livre comércio, caso do município de Bonfim, e parcerias nos setores de energia e mineração foram algumas das estratégias adotadas. Mais recentemente, a construção de rodovias, como a estrada Lethem-Liden, e pontes tem sido vista como uma forma de revitalizar essa conexão sonhada há tanto tempo.