Muito prazer, estou aqui para dizer que… sou de Boa Vista! A capital, que está acima da linha do Equador, criada em meio ao lavrado de Roraima e com um caldeirão cultural, celebra 134 anos de existência nesta terça-feira (9). Neste aniversário, a FolhaBV te convida a olhar as histórias de pessoas que nasceram ou vieram beber da água do Rio Branco, além de se deliciar com os sabores que só aqui se encontram.
A cidade de Boa Vista teve suas origens no século XIX, surgindo em torno da sede de uma fazenda chamada Boa Vista do Rio Branco. Este pequeno povoado, inicialmente conhecido como Freguesia de Nossa Senhora do Carmo, foi o único na região do alto Rio Branco por um longo período.
Em 1890, o povoado foi elevado à condição de vila, e em 1926, tornou-se município, adotando o nome Boa Vista. Com a criação do Território Federal de Roraima em 1940, Boa Vista foi escolhida como capital.
À beira do rio Branco
A capital cresceu às margens direita do rio Branco com a criação de gado, seguido do garimpo de diamante. Mas sem deixar de lado aqueles que contam as histórias, os ribeirinhos, quem nasceu aqui já ouviu os relatos e vivenciou a Boa Vista a partir da década de 1960, como é o caso do cantor e poeta, Neuber Uchôa.
“Toda a cidade ribeirinha tem no rio a sua cara metade. Esse lugar é onde atracavam os batelões e barcos que vinham de Manaus com tudo o que a gente precisava. E eu conhecia esse lugar, andava de canoa com alguns amigos, quando era adolescente vinha pescar, era legal. […] No fundo, eu fui abençoado com esses episódios na minha vida que viriam a coroar a minha paixão, como artista, por Boa Vista, por Roraima”, relatou o cantor.
Na porta da Matriz
Como todo bom povoado, as capelas cristãs fazem parte dos primeiros indícios de crescimento e estabelecimento de uma população. Nesse extremo norte, a Matriz de Nossa Senhora do Carmo foi a primeira igreja construída na Bacia do Rio Branco.
Na verdade, pesquisadores, como Dr. Maurício Zouein, contam que frades carmelitas, depois de 1725, construíram uma pequena capela de madeira em honra à Nossa Senhora do Monte Carlo. Em 1856, os franciscanos edificaram uma capela maior, que em 1858 foi elevada a matriz.
No caso da cearense, Sônia Ferreira, Boa Vista foi paixão há primeira vista no ano de 1994, especialmente pelo catolicismo representado na Matriz. “Para quase todos os moradores de Boa Vista, a Matriz é o local que encontra amigos e se conecta com Deus. Eu gosto da Matriz porque sou católica, mas sou apaixonada por Boa Vista porque foi onde eu me encontrei, construí a minha vida e criei meus filhos”, conta.
Sônia é empresária, veio à capital roraimense para conhecer e nunca mais voltou para a sua terra natal. Hoje, até familiar que morava fora do lavrado, ela trouxe para criar raízes aqui.
Com paçoca e uma pitada de pertencimento
Anos antes de Sônia, por volta de 1991, outras pessoas chegaram à Boa Vista com a expectativa de ficar dois dias e voltar. A jornalista e gastrônoma, Denise Rohnelt, é uma delas.
“Eu vim com duas mudas de roupa e acabei ficando. Tinha 23 anos quando Ottomar de Souza Pinto, primeiro governador de Roraima, simplesmente me deu um decreto assinado para ser Diretora de Turismo do estado. […] Quando eu cheguei aqui, eu brinco, que a gente ainda trazia tomate, você tinha abundância de peixe e tinha uma vida muito mais tranquila. Tinha a praça da Bandeira, que as pessoas iam para o coreto, tinham as comidas típicas e isso era o programa da semana”, relembrou a chef.
Denise é responsável por levar a gastronomia e ingredientes amazônicos, incluindo a culinária de Roraima, para o Brasil e o mundo. Com trabalhos relacionados diretamente à comunidades indígenas, ela ama cozinhar com tucupi negro, pimenta tay tay e a paçoca de carne seca, patrimônio gastronômico de Boa Vista. Mas afirma faltar um ingrediente especial na população.
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“Nós somos um grande caldeirão cultural. Tudo começa com os indígenas, depois vem nordestinos. Na década de 60 e 70, vem os sulistas, depois nordestinos novamente, mais os japoneses da década de 90. Então é uma miscigenação de cultura e cultura alimentar. O que nos falta apenas é pertencimento a essa terra, que também produz e alimenta outros povos”, refletiu.