Camila Cabello, ex-integrante do Fifth Harmony, surpreendeu ao lançar seu quarto álbum de estúdio, C, XOXO, que tem se mostrado o mais controverso de sua carreira até agora.
O álbum começou sua divulgação com “I Luv It”, que gerou burburinho na internet por várias razões, principalmente pela semelhança sonora e estética com o trabalho de Charli XCX — foi lá na lixeira pegar as descartadas.
Apesar do single inicial sugerir que Cabello seguiria completamente os passos de XCX, o álbum não se enveredou pelo hyperpop nem se mostrou tão subversivo ou bizarro como indicado pelo videoclipe. Ainda assim, é um dos trabalhos mais interessantes dela até o momento.
Antes de C, XOXO, os lançamentos de Cabello frequentemente homenageavam suas raízes latinas. Embora nem sempre tenha sido reconhecida pela qualidade das composições, sua consistência de lançamentos entre os álbuns era vista.
O que parece é que C, XOXO foi um desafio significativo para Camila. O álbum transborda uma energia atrevida e um sentimento de “não me importo”, especialmente perceptível em faixas como “I Luv It”, deixando dúvidas se ela estava brincando com os fãs ou se era algo sério — difícil acreditar que é sério.
Em uma entrevista, ela revelou que a estética do álbum foi inspirada pelo filme “Spring Breakers: Garotas Perigosas” (2012). Enquanto algumas faixas são exageradas e exuberantes, outras, como “Twentysomethings”, são baladas diretas que abordam temas mais sérios, como o sentimento de estar perdido nos vinte e poucos anos — um tema comum na música pop, também explorado por SZA e outras centenas de cantoras.
A colaboração com Lil Nas X em “He Knows” lembra a sonoridade de FKA Twigs na era “Caprisongs”. Não é uma música que cativa instantaneamente, mas os versos mais ousados, vamos dizer assim, de Lil Nas X deixam a faixa divertida.
“Chanel No.5” começa com vocalizações metalizadas, lembrando novamente Charli XCX, com um piano desafinado e um estilo de rap ou canto falado difícil de definir. É repetitiva, tem um refrão que gruda, explorando o tema da femme fatale, mas a verdade é que não chega em lugar nenhum.
“Dade County Dreaming” é um tributo cinemático a Miami, com uma energia que evoca bastante filmes de ação. Quem rouba a cena são as convidadas JT e Yung Miami, mas, no geral, é uma faixa legal.
O álbum inclui dois interlúdios, “Koshi XOXO” e “Uuugly”, que parecem estar ali para reforçar a credibilidade de Cabello em diferentes estilos musicais — na opinião deste jornalista, não servem para nada.
A faixa “DREAM-GIRLS” tem como sample “Shawty Is The Shit” de The-Dream. Quem gosta do rap/R&B da versão original vai encontrar uma roupagem de reggaeton que funciona de maneira ok.
Em “B.O.A.T”, Cabello sampleia “Hotel Room Service” de Pitbull, transformando uma música animada em uma reflexão melancólica sobre desejo não correspondido. Essa faixa em especial cria toda uma atmosfera de tristeza que é muito boa (para o que se propõe).
Com certeza o destaque do álbum é a faixa “pretty when i cry”, que deixou questionando por que essa não foi o single principal. É um club banger com muita influência do dance e de house music, com o refrão mais pegajoso do álbum.
Ela encerra o álbum com “June Gloom”, uma “eletrobalada” minimalista que lamenta sobre a importância dela na vida de alguém, com um refrão que, mesmo melancólico, tem toques NSFW.
C, XOXO mistura diversos estilos, o que o torna um dos trabalhos mais intrigantes de Camila até hoje. Embora tudo o que já ouvimos dela [antes do álbum] revelasse falta de personalidade, o álbum representa um risco calculado que, para ela, valeu a pena explorar.
Se em um extremo existe seriedade, em outro, a impressão que fica é que ela quer emular uma energia de quem tem credibilidade em um nicho mais edgy — o que não é o caso. Foi, definitivamente, um grande trabalho de rebranding, e quem escutar com atenção ou vai amar ou vai criticar muito no Twitter.