Roraima está desde as 13h30 do domingo passado, 16, sendo abastecido por usinas termoelétricas que substituíram a energia que chegava do país vizinho pela linha de Guri.
Ideia inicial é que o parque térmico local seja mantido em operação até as eleições, para evitar um possível blecaute, mas o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico terá uma nova reunião extraordinária na próxima quarta-feira, 26, para avaliar se mantém por mais tempo a geração de termelétricas mais caras.
A informação foi confirmada ontem, 20, em entrevista coletiva na sede da Eletrobras Roraima, que contou com a presença de representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da diretoria da Eletronorte.
Coletiva foi comandada pelo diretor-geral da Aneel, André Pepitone, que disse que as termoelétricas passaram no teste e funcionaram bem para abastecer Roraima.
“O fornecimento por termo foi autorizado pelo Comitê de Monitoramento, por conta do aumento nas interrupções no suprimento da energia da Venezuela para Boa Vista que perdeu 100% de confiabilidade. Um ponto importante é que desde o início do ano ocorreram 65 blecautes em Roraima e somente este mês aconteceram 22 blecautes. A situação ficou insustentável, com essas constantes falhas no suprimento e a situação se degradou muito. Buscamos uma alternativa estruturante até a conclusão da alternativa mais viável que é o linhão de Tucuruí”, disse.
ALÍVIO DE CARGA – O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a Eletrobras Roraima também estão trabalhando na instalação do Esquema Regional de Alívio de Carga na área de atuação da distribuidora. O Erac é acionado quando há uma perda de geração com a finalidade de cortar uma quantidade equivalente de carga para manter o equilíbrio do sistema.
“Você melhora a resposta e, com isso, recompõe a frequência e não tem um blecaute generalizado”, explicou André Pepitone, afirmando que o objetivo é que em Roraima se trabalhe com os dois sistemas unificados, gerando mais térmicas e mantendo a linha da Venezuela com esquema de alívio de carga, para dar mais qualidade ao suprimento no estado. “Estamos tendo pleno êxito no atendimento ao estado de Roraima, isso em função de termos conseguido restabelecer e proporcionar um serviço elétrico de qualidade”, acrescentou.
Usinas têm gastos milionários com diesel
As termelétricas têm funcionalidade para suprir a energia em Roraima por oito dias direto. A partir daí, os caminhões começam a reabastecer os estoques de reserva e chegam em Roraima cerca de 18 caminhões por dia com 60 mil litros cada, após o desligamento de Guri.
Essa operação também aumenta os valores de gastos das termoelétricas em relação à linha de Guri. Em uma operação normal, quando o sistema opera junto com a Venezuela, a Eletrobras gasta em uma média de cerca de 300 mil litros de óleo por dia, já a termelétrica usa cerca de 1 milhão de litros de diesel por dia.
“O parque térmico está contratado e, quando identificamos uma contingência, que é o que está ocorrendo agora e não podemos contar com energia de menor custo, as térmicas estão aqui para isso. O custo do diesel é de 100 milhões de reais por mês de incremento nos 40 milhões que já se gastava com o diesel para o interior”, explicou Pepitone.
Dívida com a Venezuela é de US$ 30 milhões
A Eletronorte reconhece que tem uma dívida de US$ 30 milhões com a estatal venezuelana, mas diz que o débito não resulta de falta de dinheiro em caixa para pagar a Corpoelec, e sim de “dificuldades operacionais” para transferir os recursos atualmente pagos pelo fornecimento de energia.
Ainda de acordo com a Eletronorte, as dificuldades de transferência de dólares para o país vizinho por meio do banco em que a Corpoelec tem conta começou após o governo dos Estados Unidos impor uma série de medidas restritivas contra a Venezuela, seu presidente, Nicolás Maduro, e altos funcionários do governo.
Custo da energia é rateado com consumidores
A Aneel reiterou que as usinas termelétricas de Roraima estão preparadas para suprir a falha no fornecimento de energia elétrica pela Venezuela, mas confirmou que isso encareceu os custos.
Segundo o diretor da Aneel, o custo é rateado por todos os consumidores do Sistema Interligado Nacional a partir da Conta de Desenvolvimento Energético, o fundo existe para bancar o fornecimento em regiões isoladas ou de baixa renda. Um megawatt-hora em Roraima custa, em média, 931 reais. Isso representa mais do que o dobro da tarifa média no Sudeste. A energia das térmicas no estado custa ainda mais: 1,7 mil reais por megawatt-hora. É um custo, porém, que não bate diretamente no bolso dos roraimenses.
A tarifa média cobrada dos consumidores é 383 reais. Os recursos da CDE vêm de um encargo que é cobrado de todas as contas de energia do país, e parte do dinheiro banca o óleo diesel consumido pelos geradores em Roraima. Originalmente, o orçamento da CDE havia sido projetado para 2018 em 18,8 bilhões de reais, mas teve incremento para 2019 de 15%.