Cotidiano

Mais de mil motoristas estão cadastrados na Uber em BV

Apesar das dificuldades, motoristas gostam da profissão e da oportunidade de conhecer novas pessoas e novos lugares

A Uber foi implantada em Boa Vista no dia 21 de junho de 2017. De lá para cá, o serviço vem sendo disseminado na Capital de tal forma que existem mais de mil motoristas cadastrados, somando com aqueles que se cadastraram e já não realizam mais viagens.

Para quem trabalha com o serviço, seja de forma esporádica ou integral, quais são os avanços e desafios que se é enfrentado em Roraima? Para o motorista de aplicativos Clézio Correa, que é motorista da Uber desde o primeiro dia em Boa Vista e é visto como um dos porta-vozes da classe em Roraima, o principal entrave que a classe enfrenta diz respeito ao reajuste da cobrança de tarifa aos motoristas por corrida.

A taxa, que até então era de 25%, mudou para um sistema de cobrança flutuante em junho. Ele conta que vários motoristas em Boa Vista deixaram de dirigir pelo aplicativo.

“Essa mudança na taxa é muito infeliz para nós. Pois antes, tínhamos a garantia de que haveria a cobrança de exatamente 25%. Atualmente, essa taxa varia de acordo com a quilometragem. Isso acaba sendo ruim, pois agora a taxa pode chegar a até 50%, se as viagens foram muito curtas. Se eu estou lá pela Funasa, e preciso me locomover até o Paraviana para levar alguém até uma esquina próxima, por exemplo, perdi a viagem, pois ganharei metade do valor mínimo cobrado, de R$ 5,75”, explicou.

Clézio destaca que, com a chegada do aplicativo 99 táxi em Boa Vista nesta semana, que cobra tarifas bem menores, a tendência é que haja uma migração de motoristas para o novo aplicativo. Ou, como já vem ocorrendo, haja uma mistura entre motoristas que transitem entre um serviço e o outro. 

“A 99 táxi está cobrando 0,01% de taxa hoje em Boa Vista. A ideia é justamente atrair mais motorista. E vem funcionando, pois muitos estão experimentando. A taxa máxima dele chega a cerca de 16,99%, bem menor que a da Uber, o que faz a concorrência entre os dois ser mais acirrada no mundo inteiro”, afirmou.

Apesar desses entraves, Clézio diz amar dirigir para aplicativos e destacou que outros motoristas que também prezam pelo que fazem devem soltar a criatividade, e sempre adaptar o seu veículo para melhor interação com o público.

“Acredito que se você tem amor, se dedica em fazer um serviço diferenciado, esteja disposto a dar um bom dia, disponibilize balinha e outras coisas, você deve continuar sendo motorista sim. Vale muito a pena você tentar ser criativo e inventar formas diferentes de oferecer seu serviço, de forma que deixe o cliente mais à vontade. Por exemplo, como a maior parte do público que usa Uber é feminino, disponibilizo creme para mãos e lixas de unha. Além de também decorar o carro de forma temática à época do ano. Fiz isso na copa, no Natal e no Carnaval, pendurando decorações no teto”, acentuou.

Outros motoristas de Uber também demonstram críticas que conectam com a fala de Clézio sobre o reajuste. Um exemplo disso é o motorista Jediel Pinho, que dirige há cinco meses pelo aplicativo, e ressalta em como o preço da gasolina prejudica no seu rendimento.

“Metade do que eu faturo vai só para a gasolina, e isso vem piorando cada vez mais agora que ela está valendo R$ 4,66. Essa é a parte ruim para mim, agora imagina para quem usa carro alugado para dirigir? No meu caso, tenho emprego fixo no final de semana, também com transporte. E sei que apesar das desvantagens, ainda é uma ajuda que tenho para meu sustento, e posso fazer viagens na hora que eu quiser, me dando liberdade para estudar para concurso público”, contou.

A estudante de enfermagem Francineide dos Santos, que dirige há dois meses para ajudar a pagar a mensalidade de sua faculdade, contou que além da gasolina, um problema que emenda com esse é o da distância que muitas vezes o aplicativo impõe sob o motorista para buscar um passageiro.

“Toda semana nos deparamos com aumentos que deixam cada vez mais difícil para nós arcarmos para o veículo rodar. Isso sem falar que eu acredito que o sistema dele só deve ativar o motorista quando não estiver tão longe do cliente. Pois se ficamos recusando ir muito longe buscar alguém, o aplicativo fica cobrando. Isso, somado com o preço da gasolina, resulta em um acúmulo de despesas que vamos equilibrando”, frisou.

Francineide não esconde que gosta de ser motorista da empresa de qualquer forma, pois apesar das desvantagens, ainda é uma experiência que proporciona conhecer pessoas diferentes e acumular histórias para recordar.

“O bacana de ser motorista é que além de se conhecer pessoas de todos os tipos, crenças e ideais, nós passamos a conhecer melhor a própria cidade, seja por bem ou por mal. Uma vez me chamaram no bairro Calungá, só que em local bem próximo do Beiral. Fui lá, vi um pessoal meio estranho, talvez fossem usuários, em volta do carro. Cancelei a viagem e fui em disparada dali. Morri de medo, mas hoje dou risada da situação”, contou. (P.B)