Cotidiano

Repatriação consiste apenas em transporte de volta para Venezuela

Na teoria, ideia promete trabalhos na administração pública e inclusão em projetos sociais

Criado em agosto deste ano, o plano “Volta à Pátria”, de Nicolás Maduro, tem como objetivo auxiliar o processo de retorno de venezuelanos que saíram do seu país de origem para buscar refúgio em outras localidades próximas. No entanto, a informação é que as condições de chegada dos imigrantes não são favoráveis.

Segundo divulgado pela Presidência da Venezuela, o plano foca no retorno dos jovens para ‘trabalhar, estudar e viver dignamente’, sendo prometidos trabalhos na administração pública e inclusão em projetos sociais, além da entrega do “Carnê da Pátria”.

O carnê é similar a um documento obrigatório para que os venezuelanos tenham acesso a programas de assistência do Governo, como um benefício mensal, auxílio para pessoas com deficiência e um programa de proteção ao parto humanizado para mulheres, entre outros.

Desde a criação do programa, mais de 3 mil venezuelanos já retornaram ao seu país de origem, em especial, aqueles que estavam em situação de rua ou que sofreram atos xenofóbicos. O presidente inclusive anunciou em um programa de rádio na tarde de ontem, 21, que iria buscar ajuda financeira de R$ 500 milhões com a Organização das Nações Unidas (ONU), para auxiliar nos cursos do processo de repatriação.

OUTRA REALIDADE – Porém, informações do outro lado da fronteira dão conta de que o plano na teoria é positivo, mas que a recepção dos venezuelanos na sua volta ao lar não é tão fácil. Informações obtidas pela Folha apontam que o benefício recebido pelos imigrantes é só no transporte de volta para casa.

Conforme denúncia à Folha, os ônibus que levam os imigrantes são direcionados até a Guarda Nacional e de lá saem para deixar as pessoas nas cidades onde vivem, mas o auxílio termina aí. Ou seja, saem de uma situação miserável para voltar a passar fome, só que em território venezuelano.

“Algumas pessoas que o Governo está trazendo, ele realmente junta e traz de volta. Mas cada um para sua casa, cada um para viver a sua vida. Não dá ajuda nenhuma”, diz a denúncia. 

Outro problema é que muitos que chegaram lá querem voltar para continuar a receber atendimento médico e alimentação adequada, mas temem represálias.

“Os que chegam são obrigados a jurar à bandeira venezuelana e prometer que não vão mais sair, sob a pena de terem seus carnês da pátria tomados”.

OUTRO LADO – A Folha buscou o Consulado da Venezuela, porém não obteve retorno sobre como as medidas seriam implantadas no Estado até o fechamento da matéria. A reportagem também buscou as organizações não governamentais, que atuam no atendimento humanitário dos imigrantes em Roraima para saber se a medida era realmente positiva, porém também não teve resposta. (P.C.)