Policiais penais prejudicados em fase de concurso de 2020 pedem investigação do caso

Os exames psicotécnicos dos candidatos teriam sido fraudados, o que resultou na exoneração de policiais que já haviam tomado posse

Com as investigações, os policiais esperam a reintegração dos exonerados e que outros prejudicados tomem posse (Foto: Nilzete Franco/Folha BV)
Com as investigações, os policiais esperam a reintegração dos exonerados e que outros prejudicados tomem posse (Foto: Nilzete Franco/Folha BV)

A comissão formada por policiais penais prejudicados por uma suposta fraude dos exames psicotécnicos do concurso da Polícia Penal de Roraima, realizado em 2020, procurou a FolhaBV para dar atualizações sobre o caso. Ao todo, foram cerca de 220 candidatos prejudicados, incluindo policiais que já haviam tomado posse e foram exonerados após quase três anos de atuação.

O Instituto AOCP, banca organizadora do certame, que tem sede em Maringá (PR), foi investigada pela Polícia Civil do Paraná. Segundo a investigação, a empresa contratou um coordenador técnico responsável por montar a equipe de psicólogos que aplicou o exame.

A reportagem teve acesso aos materiais obtidos na investigação, na qual foram interrogados, no final de junho, os três psicólogos que estariam envolvidos nos exames psicotécnicos. Em depoimento, dois deles afirmaram que não tinham relação com o Instituto AOCP, não tinham conhecimento do concurso em Roraima e nem que os nomes deles compunham a equipe examinadora do certame.

Questionado, o coordenador técnico do exame afirmou que o nome de um dos psicólogos apareceu na banca “por engano” e que uma outra profissional envolvida não fazia parte da equipe. Afirmou ainda que “nenhum dos candidatos foi prejudicado por isso”.

Conforme o advogado representante da comissão dos candidatos afetados pelo concurso, Gustavo Hugo de Andrade, o material foi apresentado na ação popular, que pediu anulação da fase psicotécnica após a suspeita de fraude. Ele afirmou que, nesse momento, aguarda a investigação dos órgão de Roraima a respeito dos conteúdos apresentados.

“O juízo dizia que faltava provas e agora chegaram do Paraná. […] Já tínhamos procurado o estado para tentar um acordo de maneira segura para resguardar os direitos daqueles que passaram pelo exame, para não serem prejudicados, mas a Casa Civil não quis fazer”, disse o advogado.

“Sensação de injustiça e frustração”

A FolhaBV conversou com um dos policiais penais que fizeram o concurso e foram exonerados do cargo anos após a posse. Desde que perdeu o cargo, ele, que não quis se identificar, está há quatro meses sem fonte de renda alguma.

“Essa situação gera uma sensação de injustiça e frustração em relação a expectativas e sonhos. Quando estava estável, fiz um financiamento. Agora não tenho condições de arcar com ele e as dívidas se acumulam. Tem gente que nem consegue mais sustentar a própria família”, relatou.

De acordo com ele, a expectativa da comissão é que, com as informações obtidas nas investigações, seja determinada a reintegração dos policiais exonerados. Além disso, deseja que os candidatos que aguardavam para tomar posse tenham acesso ao cargo público.

Afirmou ainda que o grupo teme ser mais prejudicado caso o Governo de Roraima convoque outros profissionais para tomar posse do cargo de policial penal, a fim de completar o quadro de servidores, mesmo sem a conclusão do caso.

Outro lado

A Secretaria de Justiça e Cidadania de Roraima informou que atualmente está impedida de realizar a nomeação de novos servidores, em virtude de uma decisão do Poder Judiciário, que se encontra vigente. Reforçou ainda que novas convocações só poderão ser feitas se autorizadas pela justiça.

A Polícia Civil de Roraima afirmou que foi instaurado um Inquérito Policial relativo ao caso na Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Administração Pública. Ressaltou também que, no momento, as investigações estão no aguardo do retorno das cartas precatórias encaminhadas ao estado do Paraná para realização de oitivas com os responsáveis pelo Instituto AOCP, que realizou o concurso.

“Foi solicitado o processo referente à licitação para escolha da empresa vencedora, além das propostas das demais empresas que também concorreram à licitação, visando à apuração completa dos fatos. No processo investigatório, já foram ouvidos alguns candidatos. Diante disso, a PCRR reforça que as diligências seguem sendo realizadas e que só poderá se manifestar a respeito do caso após a conclusão das investigações”, disse.

Procurado pela reportagem, o Instituto AOCP se manifestou por meio da seguinte nota:

Esclarece que as alegações sobre a fase da Avaliação Psicológica do concurso público da Polícia Penal de Roraima foram devidamente apuradas e resolvidas. O concurso, inclusive, foi finalizado e homologado, obedecendo todas as regras e legislações pertinentes, não restando dúvidas quanto a legalidade e idoneidade do certame.

Ressaltamos que o Instituto AOCP é uma instituição de renome, reconhecida por sua seriedade, responsabilidade e experiência na organização de concursos e seleções públicas em todo o território nacional. Assuntos de esfera judicial, como inquéritos policiais, devem ser tratados dentro de sua estância e domínio. O Instituto AOCP está disposto a responder prontamente e colaborar com toda e qualquer investigação.