JESSÉ SOUZA

Convenções partidárias e o jogo do poder entre os que dão as ordens e os que aplaudem

Convenções partidárias são o primeiro passo para o processo eleitoral com a escolha de quem serão os candidatos (Foto: Divulgação)

A arrancada oficial para as eleições municipais de 2024 foi dada a partir do dia 20 de julho, quando a legislação eleitoral autorizou a realização das convenções para que partidos e federações escolham quem serão os candidatos a vereador(a) prefeito(a) e vice-prefeito(a) que irão disputar o pleito deste ano. O prazo segue até 05 de agosto.

Pelas primeiras movimentações desses eventos já é possível perceber que muita coisa em termos de consciência política precisa mudar para que tenhamos as transformações necessárias que almejamos para a coletividade por meio de uma eleição. A começar pelo desconhecimento de muitos que vão para as convenções e pela postura dos próprios candidatos que lançam suas candidaturas.

As convenções podem ser comparadas como uma eleição interna das siglas partidárias em que os filiados desses partidos escolham, por meio de votação individual, quem serão os candidatos. Mas muito nem sabem disso e essa eleição geralmente nem ocorre de forma aberta e clara, resumindo-se a uma lista previamente elaborada e acertada entre os caciques políticos para que as pessoas filiadas a assinem, sem muitos nem saberem para quê.

Logo, as convenções são tratadas como comícios em que os cabos eleitorais ali presentes estão apenas para aplaudir seus candidatos, na promessa de que serão remunerados para trabalhar durante a campanha eleitoral. Ou pensando na chamada boca de urna, que é a compra/venda de voto às vésperas da votação, na feira-livre eleitoral aceita por uma boa parcela dos eleitores sob a conivência de todos.

A encenação na convenção partidária é tão evidente que os candidatos que terão seus nomes abonados nem se preocupam em falar de suas propostas e ideias, e limitam-se a bajular os caciques de suas siglas e as autoridades que estão ali para prestar apoio partidário. E tudo se transforma em um circo eleitoral de discursos seguidos de gritos, aplausos e bandeiradas.

Está tudo dentro do jogo democrático, mas em termos de consciência política há uma verdadeira aberração em que historicamente os partidos decidem entre quatro paredes, entre conchavos e jantares, restando ao povo ser cooptado para ir aplaudir e gritar durante a convenção para abonar o que os donos da política já decidiram. E assim se faz a política brasileira.

É por isso que não se pode esperar muito do que será apontado pelas urnas, obviamente com aquelas honrosas exceções em que um reduzido número de candidatos consegue furar a bolha. É isso o que resta a quem não cede a este jogo do poder, que é acreditar que ainda reste um pouco de consciência entre os que não hesitam em vender seu voto ou que buscam somente seus interesses pessoais e familiares.   

*Colunista

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