Cotidiano

Faltam produtos regionais no Mercado Municipal São Francisco

Clientela do bairro reclama da pouca quantidade dos produtos regionais e da oferta de serviços desnecessários em uma feira, como venda de roupas e passagens aéreas

Um dos costumes da roraimense ‘raiz’ é se dirigir às feiras da cidade bem cedo pela manhã, tomar um café com leite com tapioca, comprar polpas de fruta e sair com as sacolas cheias com verduras, castanhas, grãos e a famosa farinha amarela. No entanto, para os clientes da Feira do São Francisco, o costume mudou depois da reforma para Mercado Municipal. 

De acordo com a clientela que percorria o local na manhã de ontem, 3, faltam produtos regionais. Uma senhora, que preferiu não ser identificada, informou que foi visitar o novo espaço e comprar farinha, mas somente um dos boxes vendia o produto e não aceitava cartão. 

A jovem Vitória Sampaio é moradora do bairro há anos e costumava acompanhar a mãe nas compras desde pequena. Sobre as mudanças, ela diz que o mercado está esteticamente muito mais bonito, limpo e refrigerado, porém não conta com aquilo que eles precisam. 

“Antes parecia que tinha muito mais coisa para vender. Agora, parece que as prateleiras estão vazias, não dá nem vontade de entrar. Eu estava com uma expectativa muito alta, é a primeira vez que venho aqui depois da inauguração, mas estou sentindo falta de muita coisa. O jeito é ir à outra feira, muito mais longe de casa”, informou Vitória. 

A baixa oferta de produtos foi explicada pelos feirantes à Folha. Eles informam que, no anúncio da reforma, receberam a orientação da gestão municipal de que cada um dos comerciantes ficaria responsável pela venda de um produto, mas na prática a situação ficou ruim tanto para os profissionais quanto para os clientes. 

“Alguns ficaram com produtos regionais. Outro com produtos industrializados. Alguns só com fruta ou só com verdura. Antes, a minha mãe tinha um mini-mercadinho, com vários produtos. A gente até tentou ver se podia vender alguma coisa a mais e falamos com a coordenação do Mercado, mas não deixaram. Acaba que a gente tem prejuízo por que diminuímos a nossa oferta e vendemos menos”, avaliou um dos feirantes.


MERCADO MUNICIPAL TEM LOJA DE ROUPAS, PASSAGENS AÉREAS E DOCES MINEIROS

Outra reclamação da clientela foi a redução de serviços que eram ofertados na feira. Na época do anúncio da reforma completa do Mercado em junho do ano passado, a Prefeitura de Boa Vista já havia informado da redução de boxes e o que cada um ofertaria. 

Na época, anunciaram que seriam 10 boxes para frutarias, oito para armazém de venda de grãos, um para venda de carne, outro para venda de peixes, um para venda de polpas de frutas e mais cinco destinados a serviços, além de duas praças de alimentação, tudo ao custo de R$ 4 milhões oriundos de um convênio com o Ministério da Defesa. 

A realidade da obra, porém, ficou um pouco distante do projeto. Atualmente, o novo Mercado conta com vários restaurantes e frutarias, mas poucos locais de venda de grãos e mais do que cinco destinados a serviços, como um box para comércio de roupas, sorveteria, venda de passagens aéreas, artesanato, conserto de equipamentos elétricos, armarinho e relojoaria. 

Há também um espaço dedicado somente para doces, queijos e cachaças tradicionais de Minas Gerais, mas não há espaço semelhante para produtos de Roraima. Os serviços de venda de ração para animais, conserto de sapatos e costureira, que costumava ter na Feira do São Francisco, perderam espaço. No galpão localizado na Rua Aruaque, próximo ao supermercado Goiana, os feirantes remanescentes contam os dias para entregar o espaço alugado.

O prédio, custeado pelos próprios comerciantes, foi uma alternativa daqueles que não quiseram ser realoca-dos para feiras mais distantes, no bairro Buritis e Tancredo Neves. Agora, com a entrega do novo Mercado, ficou impossível manter o espaço. 

“Temos até sábado para entregar o galpão e estamos correndo contra o tempo, pegando o número de clientes para avisar para onde vamos. Ainda não está definido, mas assim que estiver, queremos avisar todos que costumavam comprar conosco e gostam do nosso trabalho”, disse uma funcionária, que preferiu não ser identificada. 

OUTRO LADO – A Folha entrou em contato com a Prefeitura de Boa Vista para saber quais os critérios da escolha dos serviços para o novo Mercado Municipal e se pretende ampliar o número de produtos ofertados, porém não recebeu retorno até o fechamento da matéria. (P.C.)