Quem utiliza o transporte público diariamente na Capital tem enfrentado dificuldades, agravadas no verão. É que mesmo com atraso de dois anos, a Prefeitura de Boa Vista ainda não concluiu o projeto de instalação das paradas de ônibus climatizadas e as que existem se concentram somente no centro da cidade.
De acordo com os usuários de coletivos, na sua maioria estudantes de rede pública, acadêmicos universitários e trabalhadores de classe mais baixa, existem problemas com a mobilidade urbana da Capital. Eles relatam o uso de ônibus velhos, rotas sem sentido, mudanças constantes nos horários, muito tempo de espera pelo transporte e até de motoristas que são mal-educados com os passageiros, mas, principalmente, a concentração de benefícios na área nobre.
“As paradas climatizadas são poucas e ficam mais perto do centro. Na periferia ainda não vi nenhuma. Das poucas que tem, muitas já tiveram as centrais de ar roubadas ou estão imundas de lixo e até urina”, informou um estudante que mora no bairro Cidade Satélite.
Outra estudante universitária explicou que muitas das paradas foram feitas para serem refrigeradas, com portas de vidro, mas não tem climatização. “Daí não dá para ficar lá dentro por que esquenta muito, não corre um vento”, afirmou.
ATRASO NAS OBRAS – Outro problema é o andamento do projeto de mobilidade urbana da Capital, oficialmente iniciado em julho de 2015. Na época a Prefeitura anunciou a assinatura da ordem de serviços para abertura das obras a partir do recebimento do recurso de R$ 64 milhões do Ministério da Defesa.
Inicialmente foram anunciados os serviços de drenagem, terraplanagem e pavimentação em 32 vias da Capital, implantação de 50 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, 30 quilômetros de calçadas e a revitalização e construção de 825 pontos de ônibus, sendo 100 climatizados. A previsão era que as obras fossem concluídas até dezembro de 2016.
RECURSO DO GOVERNO FEDERAL FOI APROVADO SEM PROJETO, DIZ VEREADOR
As obras de mobilidade urbana e de melhoria do sistema viário de transporte urbano na Capital também foram alvo de debate na Câmara Municipal. O vereador Linoberg Almeida explica que busca desde 2017, sem sucesso, informações sobre as obras realizadas, o planejamento e o cronograma de investimento na PMBV. O parlamentar chegou até a investigar o assunto junto ao Ministério das Cidades e descobriu que não houve a apresentação de um projeto de mobilidade urbana de Boa Vista.
“Como não existe projeto, a Prefeitura deu uma entrevista institucional dizendo que havia um estudo e diminuiu o número de ponto de ônibus, saindo de 850 para 600. Os com ar-condicionado, que são os climatizados, em 2013 eram 100 climatizados. Com o tal do estudo baixou para 75”, informou Almeida.
O vereador diz ainda que a Prefeitura também não atualizou o plano diretor, que abre a possibilidade de um plano de mobilidade. “Como Boa Vista não fez o dever de casa, renovando o plano diretor, a gente tem um dinheiro sendo investido sem o planejamento adequado que é o que a legislação pede”, informou.
APOIO DA POPULAÇÃO – Na semana passada, um requerimento de autoria do vereador foi protocolado e aprovado por unanimidade em plenário, solicitando informações sobre o caso. O pedido foi encaminhado ao Executivo, no entanto, segundo o regimento da Casa, a Prefeitura não tem um prazo máximo para enviar a resposta.
Por conta disso, o parlamentar reforça a necessidade da participação da população que vive diariamente a problemática do transporte público e da mobilidade urbana, além de outros órgãos de fiscalização.
“O importante é não desistir. Tem que protocolar no 156 quando descobrir alguma irregularidade, de lotação não indo no ponto, ponto de ônibus que não passa ônibus, tem que cobrar o seu vereador. Se a população se acomoda, ela se acostuma com as coisas e acha que não vai resolver. A pessoa não está fazendo fiscal como cidadão”, concluiu Linoberg.
O OUTRO LADO – A Folha entrou em contato com a Prefeitura de Boa Vista, porém, não obteve retorno até o fechamento da matéria. (P.C.)