Costureiras dizem que serão prejudicadas com construção de sede de sindicato

Trabalhadores da Coofecs podem ter que sair do prédio para a construção do edifício do Sindicato dos Policiais Penais. Sindicato e deputado Rárisson Barbosa foram procurados, mas não deram resposta até a publicação

Costureiras dizem que serão prejudicadas com construção de sede de sindicato

A Cooperativa de Empreendimentos Solidários de Boa Vista (Coofecs), que há quase 30 anos ocupa espaço em um terreno público no bairro Santa Tereza, enfrenta a possibilidade de ser deslocada para a construção do sindicato dos policiais penais. A informação de doação do terreno, que foi divulgada nas redes sociais do governador de Roraima, Antonio Denarium, e do deputado estadual, Rárisson Barbosa, no último dia 3, não agradou as trabalhadoras.

Em relato à FolhaBV, Maria dos Santos, presidente da Coofecs expressou a preocupação dela e de mais 19 costureiras, além de famílias que se beneficiam da cooperativa, seja em renda ou suporte de serviços. “Olha, a gente está aqui desde 98. Muitos políticos já passaram cheios de promessas de projetos [para a gente] que nunca se concretizam. Agora, de repente, chegam com um projeto pronto para a gente e nos jogam no cantinho, que é um espaço pequeno”.

O novo projeto, que inclui a construção de um novo prédio próximo à atual sede da cooperativa, teria sido apresentado ao grupo no mês passado pelo deputado Rárisson. A proposta prevê um espaço reduzido para a Coofecs no mesmo terreno, mas com a promessa de que seria possível expandir a área verticalmente no futuro.

Maria dos Santos, costureira cooperada e presidente da Coofecs. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Impasse sobre a posse do terreno

O local, que já foi sede do 4º Distrito Policial de Polícia Civil, não abriga apenas o trabalho das costureiras, como também de outros quatro empreendimentos. O que tornou o descontentamento com a situação atual ainda maior foi o fato de que as mulheres lutam pela posse do terreno desde quando passaram a usar o local. “Ele [Rárisson] apresentou o projeto há um mês, e agora diz que já vai ganhar [o terreno] até do governo?” questionou Maria.

Segundo Maria dos Santos, elas solicitam do governo a passagem do terreno para o nome da cooperativa desde 2001. No entanto, o terreno era da prefeitura de Boa Vista, o que impossibilitou o processo por mais de 20 anos.

A Coofecs está localizada na rua Tambaqui, bairro Santa Tereza. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Maria conta que em maio deste ano pediram, da prefeitura, a transferência do terreno e que isso já teria acontecido. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Comunicação (Semuc).

Agora, o impasse estaria sobre a criação de um projeto de lei, aprovado na Assembleia Legislativa, do governo do Estado passando o terreno. “Fomos na Assembleia e não encontramos nenhum documento sobre isso”, afirmou a presidente da Coofecs.

A planta mostra que a cooperativa terá um edifício anexo ao sindicato

Importância do trabalho

Maria ainda destacou que o que querem é poder continuar contribuindo para a população sem deslocar a cooperativa. Segundo ela, por mais que ofereçam um lugar alugado ou maior do que apresentado no projeto, não é o ideal.

Ele [deputado] disse que o governador doou o espaço para o sindicato dos policiais penais, que não vai ser aberto para a população. E nós, que trabalhamos gerando renda e atendemos mais 250 famílias não teríamos espaço suficiente? Parece que ele não entende a importância do nosso trabalho para a comunidade. […] A gente só quer que o governador e o vice olhem para a nossa luta e reconheçam a importância do nosso trabalho, que não pode ser ignorado. Que doe um outro espaço para o sindicato, em outro lugar, e que deixe o nosso para a gente trabalhar, porque todo mundo sabe da nossa existência aqui.

Outro lado

A reportagem procurou informações sobre a situação com o governo de Roraima. Em resposta, a Secretaria de Gestão Estratégica e Administração (Segad) afirmou que “a área foi repassada pelo Governo do Estado em forma de cessão ao sindicato. A responsabilidade da área passa a ser da entidade, que determina de que forma o espaço será utilizado”.

O Sindicato dos Policiais Penais e o deputado Rárisson Barbosa também foram procurados, mas não deram resposta até a publicação da matéria. O espaço segue aberto para manifestação.