Eleitores da periferia de Boa Vista (RR), passam a noite e parte da madrugada, sentados em frente a suas casas, esperando candidatos dispostos a trocar dinheiro por votos. A prática criminosa já se tornou uma espécie de “tradição” e é registrada pela reportagem desde 2010, quando o estado se tornou campeão na compra de votos em todo País. Nem o aumento da criminalidade e os casos de ataques de crime organizado inibiram que os vizinhos das ruas afastadas se reunissem e levassem cadeiras para as esquinas e frente de residências das ruas mais movimentadas. Todos os cargos são negociáveis, mesmo nas casas onde há placas de outros candidatos. O pagamento tem de ser em dinheiro vivo. Cem reais é o valor mínimo mas muitos esperavam a promessa de cabos eleitorais que informaram que dariam R$ 400 reais pelo voto. Como prova da “fidelidade”, oferecem o título de eleitor para que os aliciadores contabilizem os votos nas urnas.
A situação é tão comum que nem mesmo ao avistar a reportagem os moradores se inibem. Em conversa com alguns, eles contam que esse ano a crise chegou até mesmo na compra do voto. “Me prometeram uma cesta básica e R$ 100 reais e estou aqui a horas esperando mas ainda não trouxeram. Hoje está difícil conseguir algo desses candidatos”, reclamou uma dona de casa de 54 anos, que mora no bairro Senador Helio Campos, periferia da capital.
Ela e cinco amigas abordaram a reportagem à meia-noite, achando que o veículo era de candidato. “Os políticos já foram mais generosos. Mas ainda temos esperança”.
No bairro Aparecida, área central da cidade, seis moças faziam plantão na madrugada deste sábado em busca de ganhar um troco com a votação. A maioria não tem emprego e uma das meninas está grávida. “Esse aumento de numero de candidatos e as brigas entre eles atrapalham a gente demais. Este ano até agora ninguém passou com nada por aqui. Está difícil e deviam se envergonhar de não ajudar os mais pobres”, disse.
Apesar dos órgãos de segurança pública afirmaram que estariam empenhados em combater o crime, a reportagem não encontrou nenhum veículos de policiamento nas ruas durante a madrugada. Existiriam informações de equipes à paisana e em veículos descaracterizados fazendo rondas.
“A população precisa entender que R$ 100 podem até fazer diferença no orçamento familiar na hora do voto, mas tem alto custo durante quatro anos, com a ausência de serviços públicos essenciais. Quem compra voto, não tem compromisso com o eleitor”, afirma a presidente do (TRE-RR) Tania Vasconcelos.
O Estado tem o menor colégio eleitoral do País, com 330 mil eleitores.