Esses dias vivi uma experiência de “quase morte” onde vi que tudo o que fazemos pelos nossos filhos é pouco. Num infarto que por pouco não me levou para o outro lado, vi meu filho sendo o grande motivo por lutar pela vida. Estávamos tentando tirar uns dias de descanso, quando fui apanhando por dores constantes no peito por três dias consecutivos e via na inocência do meu filho o desejo dele aproveitar esses dias. Me sentia na obrigação de dar a ele as merecidas férias de um estudante do primeiro ano do fundamental. Sem a mãe dele saber, na primeira noite de dor, ele foi comigo e disse: “Pai vai ficar tudo bem”. Ele estava vendo o incomodo de uma dor que achava que fosse algo gástrico e infelizmente não era. Nesse mesmo momento virei para ele e disse: “Filho, vamos terminar nossas férias juntos e voltar pra casa juntos”. Mal sabia que estava ali assinando a prorrogação da minha vida.
Passado o segundo e o terceiro dia em programações com ele e a minha esposa, fazia da dor algo que incomodasse pouco e que eles não se sentissem culpados ou responsáveis frente a alegria dos dois em se divertir no meio do mar, entre cardumes coloridos, famílias felizes e a alegria de estarmos juntos.
Mas no terceiro dia a dor tomou conta e chegou ao nível do insuportável e pedi na noite desse dia que o responsável pelo apartamento que estávamos hospedados me levasse a um posto de saúde. Fui imediatamente atendido e diagnosticado com um infarto agudo do miocárdio com grande nível de comprometimento do coração. Mas algo me dava certeza de que estar consciente todos esses dias com essa dor, me garantia de que Deus ainda não tinha encerrado minha ficha corrida aqui na terra e meu filho, mais uma vez veio e me disse: “Pai vai ficar tudo bem”. Nessa hora tive certeza de que o meu anjo da guarda vivia comigo na mesma casa, era meu filho.
No atendimento dessa UPA, ouvi chamarem minha esposa no canto para dar alguma nova informação a ela, e foi quando pensei: “Acho que deu algo errado”. Não demorando muito ela veio de lá e me deu a notícia de que eu havia infartado, possivelmente na noite/madrugada de quinta para sexta-feira. E nessa noite de quinta para sexta algo aconteceu. Estava na sala do apartamento assistindo a um jogo de futebol, com muita dor no peito e no estomago e tratando como se fosse algo intestinal, quando meu filho veio do quarto com um cobertor e um travesseiro e disse que só iria dormir quando eu fosse dormir, ele passou todos o jogo deitado no meu peito e várias vezes insistiu para que fossemos nos deitar, mas como fominha de futebol que sou, pedia a ele paciência que já iriamos para o quarto. Como estava com muita dor, o deixei dormindo no outro quarto com a mãe dele e fui dormir sozinho no quarto do lado, mas por pelo menos quatro vezes, na madrugada, ele acordou me chamando para que eu fosse lá com ele, como quem quisesse dizer: “Não dorme que ainda temos coisas para fazer”. Na sexta-feira ainda passei o dia tentando me divertir com ele e minha esposa, mas a dor não me permitiu e acabei dando entrada na UPA.
Quando recebi o diagnóstico do infarto, a equipe médica de imediato começou a fazer os procedimentos para que os danos e as sequelas, fossem as menores possíveis. Então me pediram para assinar um termo assinando a concordância de usar o kit trombolítico com o objetivo de tentar dissolver os coágulos criados nas artérias. Paralelo a isso, uma ambulância já havia sido chamada para me deslocar para um hospital público especializado, onde uma equipe médica veio conversando comigo durante 1 horas e 30 minutos me mantendo consciente e preocupado como o meu estado e ouvi do enfermeiro a mesma frase que ouvia do meu filho: “Vai ficar tudo bem”.
Entrei diretamente para o centro cirúrgico, onde passei quase três horas em procedimento de cateterismo e a colocação dos primeiros quatro stent, em artérias que tinham tudo para gerar grandes danos ao coração e ao restante do meu corpo. Passei todo procedimento acordado, vendo tudo, os movimentos, comprovando que Deus nos usa para fazer o bem e salvar pessoas. Mas a minha visita ao centro cirúrgico não parou por aí, ainda tinha uma outra artéria comprometida em 60% e deveria ser colocado mais um Stent, procedimento que fiz na terça-feira seguinte.
Entre o primeiro procedimento e o segundo só me vinha a cabeça o meu filho, me perguntava onde ele estava, o que estava fazendo e como ele estava percebendo tudo aquilo. A mãe dele era a única que tinha acesso a UTI e sempre perguntava por ele e ela me dizia que ele perguntava sempre a ela: “Quando vamos voltar para as férias?”. Foram 16 dias de UTI, incluindo um princípio de pneumonia, mas logo após os primeiros dias de recuperação na UTI, a minha esposa conseguiu com que ele entrasse na UTI para me visitar e quando me viu virou para mim e disse: “Pai, estou muito feliz e vai dar tudo certo”, abracei ele longamente e ele, como eu, somos muito emotivos, choramos juntos e parece que o coração revigorou de vez, batia forte pela certeza que eu tenho de continuar com o legado de educar meu pequeno Weber Neto que sonha em ser piloto da FAB, ver meu outro pequeno Miguel formado e realizando todos os seus sonhos e ver minha pequena, com seu esposo e meu netinho Luidi alcançando o que Deus tiver de melhor para eles. Um fato que não poderia deixar passar é que no dia seguinte a minha primeira cirurgia ele encheu a janela do meu leito com imagens onde eu aparecia sempre com ele e a que me chamou mais a atenção, foi a de um avião que distribuía corações.
Nesses dias de UTI conheci gente que estava esperando marcapasso, instrumentos de equilíbrio de frequência cardíaca, cirurgias de peito aberto, enfim vi outras pessoas sofrendo também e com medo, mas descobri que não é o medo da morte e sim o medo de não fazer tudo o que planejamos fazer, ou melhor, o que poderíamos fazer pelas pessoas que amamos e até pelas que nem conhecemos.
Ouvi do senhor Cícero um dos maiores aprendizados de minha vida. Comecei a conversar com ele e ele me disse que era um PEQUENO GRANDE PRODUTOR, notei na fala dele que tinha algo a mais a dizer e ele aprofundou: “Meu filho, não tenho muitas coisas, mas tenho o suficiente para viver e deixar para os meus filhos. O que tenho ganhei com o meu trabalho, por isso me considero GRANDE. Tem tanta gente que tem tanta coisa, mas é tão PEQUENO que prefiro ser um PEQUENO GRANDE, dormindo tranquilo e podendo acordar sem ter vergonha de nada”. Seu Cícero já estava há 100 dias na UTI, quando tive alta.
Hoje, estou completando praticamente um mês de infartado e aos poucos retomando minhas atividades, mas descobri nesses dias de recuperação que quando estamos pertos de quem amamos, em especial os nossos filhos, tendemos a enfrentar desafios, sejam eles de que tamanho forem com maior estabilidade emocional, mas principalmente com a fé que as vezes deixamos pelo meio do caminho.
A todos, que de alguma forma oraram pela minha recuperação, a gratidão de alguém que sabe que essa é a maior de todas as virtudes e lembre-se: VAI DAR TUDO CERTO!
Por: Weber Negreiros
CEO da WN Treinamento, Consultoria e Planejamento
Contatos via WhatsApp: WN Norte 95 99133 4737 | WN Sul 11 95 98231 9921