O crescimento dos gastos com apostas esportivas em plataformas online, conhecidas como “bets” e “Tigrinho”, está comprometendo o orçamento das classes socioeconômicas de menor poder aquisitivo no Brasil, agravando a percepção de dificuldades financeiras, apesar do aumento da renda e do controle da inflação.
Segundo a PwC Strategy& do Brasil, ligada à PricewaterhouseCoopers, esses gastos superam despesas discricionárias como lazer, cultura e produtos pessoais, e começam a impactar até o orçamento destinado à alimentação. “Esse desvio de recursos para as apostas pressiona a demanda por produtos essenciais, afetando a economia como um todo”, afirma Gerson Charchat, economista e líder da consultoria em entrevista à Agência Brasil.
As apostas online se tornaram populares após a aprovação da Lei nº 13.756, em 2018, e desde então os gastos com essas atividades aumentaram 419%. Em 2018, representavam 0,27% do orçamento familiar das classes D e E; hoje, esse percentual subiu para 1,98%. Paralelamente, os gastos com lazer e cultura diminuíram, enquanto os destinados à alimentação permaneceram estáveis.
Charchat alerta para o impacto das apostas entre os jovens de baixa renda, que pode resultar em endividamento crescente e prejudicar o crescimento econômico do país. A Strategy& também aponta que a percepção de dificuldades financeiras aumentou, com um quinto da população brasileira enfrentando dificuldades para pagar contas regularmente.
A ausência de dados precisos sobre o número de empresas que operam plataformas de apostas no Brasil e o volume de dinheiro arrecadado dificulta a compreensão total do impacto econômico. A regulamentação adequada do setor, ainda em andamento, será crucial para monitorar e mitigar esses efeitos.
Saúde mental e endividamento
A economista Ione Amorim, do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), destaca que o problema vai além da economia, afetando a saúde mental e social dos indivíduos, com casos de endividamento extremo e até suicídios relacionados às apostas. “
O ganho fácil atrai, mas o risco de perdas é muito maior”, alerta Ione, enfatizando a necessidade de maior educação financeira e regulamentação para proteger as populações mais vulneráveis.