Boa Vista perdeu 91 posições e agora ocupa a 357ª colocação geral do Ranking de Competitividade dos Municípios 2024, do CLP (Centro de Liderança Pública). É a primeira vez que a capital de Roraima fica fora do top 350 desde a criação do levantamento, em 2020.
O pilar com o pior desempenho – e que mais contribuiu para essa queda – foi o de Telecomunicações. Nesse ponto, Boa Vista caiu da 118ª para a 299ª posição no País. Em 2024, a nota da cidade roraimense foi rebaixada nos cinco quesitos em relação a 2023: acessos de telefonia móvel; acessos de telefonia móvel – 4G; acessos de banda larga; acessos de banda larga – fibra óptica; e acessos de banda larga – alta velocidade.
“Quando olhamos pra série histórica de Boa Vista, vimos realmente que, em todos os indicadores que compõem esse pilar, ou na maior parte deles, a cidade teve uma queda grande de desempenho. Por exemplo: no indicador de acesso de banda larga de alta velocidade, a cidade tinha uma força, estava em 15º lugar em 2023 e caiu para a posição 102”, explicou o coordenador da Inteligência Técnica do CLP, Pedro Trippi. “A cidade acabou piorando nas forças que ela tinha nesse pilar, não melhorou nas fraquezas que ela tinha, então o resultado disso foi uma queda da performance da cidade no pilar de Telecomunicações”.
A pesquisa foi feita em 404 municípios com mais de 80 mil habitantes e avaliou 65 indicadores, organizados em 13 pilares temáticos e nas dimensões (Instituições, Sociedade e Economia). “O cidadão não está realmente preocupado por quem é o responsável por prover o serviço, mas em receber o serviço de qualidade. Nós focamos em vários aspectos da gestão pública, tanto questões com mais escopo do governo estadual, quanto também questões que estão no escopo do governo municipal”, esclareceu.
O estudo completo será lançado nesta quarta-feira (21), em Brasília, e também incluirá os dois rankings de sustentabilidade: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG).
Segundo Pedro Trippi, o ranking de competitividade visa apresentar aos gestores públicos municipais e estaduais um diagnóstico de forças e fraquezas das cidades. “A partir disso, eles poderão definir uma alocação eficiente, prioritária de recursos, buscando manter as forças da cidade e atacar as fraquezas que a cidade, o Estado, possuem”, pontuou.
Queda em outros pilares
Boa Vista também piorou em pilares como Inserção econômica (está em 372º após perder 166 colocações), Capital Humano (190º após cair 94 posições), Sustentabilidade Fiscal (358º após decrescer 90 degraus), Inovação e Dinamismo Econômico (284º após perder 74 postos) e Acesso à Saúde (334º após cair sete lugares).
Pedro Trippi destacou que o fato de 48% da população boa-vistense ser vulnerável economicamente – percentual que é o maior desde 2020 -, os 28% de empregados formais e a queda de quase 10% no crescimento de empregos ajudaram a derrubar o pilar de Inserção Econômica.
O levantamento também indicou queda em um dos três quesitos de Capital Humano. Quanto à Sustentabilidade Fiscal, Boa Vista teve a nota rebaixada em três dos seus quatro indicadores em 2024. “A queda no pilar fiscal tá muito ligada ao aumento de gastos com pessoal na cidade e a redução da taxa de investimentos da cidade”, reforçou Trippi.
Quanto à Inovação de Dinamismo Econômico, o coordenador do CLP explicou que Boa Vista perdeu posições porque a renda média do trabalho formal caiu entre 2023 e 2024. Sobre o Acesso à Saúde, Pedro Trippi explicou que a quase estabilidade de Boa Vista no tema se justifica por quedas da cobertura vacinal (de 89% em 2020 para 68% em 2024), da oferta de planos de saúde e de atendimento pré-natal.
Melhores desempenhos
Por outro lado, Boa Vista subiu 20 posições no ranking nacional do pilar Qualidade de Saúde (376º), 16 em Funcionamento da Máquina Pública (209º), cinco em Segurança (299º), quatro em Qualidade da Educação (394º) e uma em Meio Ambiente (396º).
Foi determinante para a cidade subir no primeiro pilar a redução da mortalidade materna e da mortalidade por causas evitáveis, além do baixo número de crianças obesas e do pequeno índice de desnutrição. “A melhora da posição da saúde se dá muito em função disso”, avaliou.
Sobre o Funcionamento da Máquina Pública, Pedro Trippi destacou que a Prefeitura de Boa Vista conseguiu diminuir o tempo de abertura de empresas na cidade, o que a colocou no top 70 do País nesse quesito. “A cidade tem um tempo baixo pra abertura de empresas, tem conseguido boas políticas públicas nesse sentido, o tempo pra abertura de empresas tem reduzido, todo ano só cai – o que é ótimo – e a cidade passou a reportar melhor os seus dados contábeis, fiscais, e recebeu uma nota maior do Tesouro Nacional”, ponderou o coordenador.
Quanto ao terceiro pilar, Trippi analisou que Boa Vista reduziu as taxas de homicídios gerais (queda de 36 para 30 registros por 100 mil habitantes entre 2023 e 2024) e de jovens (queda de 92 para 80 registros por 100 mil habitantes entre 2023 e 2024). “Isso alavancou a performance da cidade, mas vale ressaltar que a cidade está tendo gargalos dentro da temática que a gente também engloba nesse indicador de segurança pública, que é a temática da segurança no trânsito, tanto morbidade quanto mortalidade nos transportes da cidade, ou seja, pessoas que se machucam no trânsito, pessoas que são internadas por acidentes de trânsito, pessoas que vão a óbito decorrentes de acidentes de trânsito está aumentando na cidade”, ponderou.
Na Qualidade da Educação, o que ajudou Boa Vista a melhorar o desempenho foi o crescimento da nota média do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) entre 2023 e 2024 (de 525,70 para 534,91) – que é a maior da série histórica. “A cidade ainda tem desafios. Por exemplo, os dados de Ideb, Ensino Fundamental – anos finais e Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] – Ensino Médio, são reportados. Então, teve uma melhora, mas ainda existem desafios também no pilar”, reforçou.
No pilar de Meio Ambiente, a capital de Roraima melhorou a nota em quesitos relacionados a áreas recuperadas e de cobertura de floresta natural. “Aumentou um pouco as áreas recuperadas, florestas naturais, ao mesmo tempo em que o desmatamento ilegal e a velocidade do desmatamento ilegal aumentaram. Isso justifica essa performance estável”, destacou Pedro Trippi.