OPINIÃO

A Morte das Borboletas

Minha mãe sempre dizia que, ao encontrar o grande amor da minha vida, eu sentiria borboletas no estômago e construiria uma vida como nos contos de fadas, com direito a casamento, convite bordado, uma festa e uma fotinha do casal na parede da nossa casa, parcelada em infinitos boletos.

De fato, eu senti as borboletas no estômago quando vi meu amor, com aqueles olhos verdes, sorriso fácil e um carinho todo especial, criado para mim. O que minha mãe esqueceu de mencionar é que o amor também pode matar, atropelar e tentar enterrar você e as borboletas no seu estômago.

Segundo as histórias da mamãe, antigamente um relacionamento era um símbolo de crescimento, um espaço para construir afeto e um álbum de recordações. Essa visão, tão linda para minha mente ingênua, fazia-me sonhar com uma realidade idealizada. Ela não mencionou os aspectos sombrios dos relacionamentos: o processo seletivo, a criação de um marketing para atingir o “felizes para sempre” e os possíveis desastres ou traições que podem surgir antes disso.

Primeiro, você precisa ter um corpo aceitável, fotos bem posicionadas e retocadas com Photoshop, aparentar posses e influência digital e presencial, além de uma simpatia quase divina. Isso é o mínimo para entrar no processo seletivo de um futuro relacionamento. Inclui-se aqui uma rotina de festas e algumas fotos com copos de bebida.

Em segundo lugar, é necessário criar um catálogo de mentiras sustentáveis, com validade de três meses, para enganar qualquer ser humano na face do planeta. Fotos com a família, gatinhos e momentos de gratidão, além de imagens de cachoeiras e pores do sol, são boas opções.

Em terceiro lugar, você pode encontrar alguém ou ser vítima de um jogo de inverdades e acreditar que o amor nasce com um primeiro olhar. E então, vejo um coração despedaçado, músicas de sofrência no volume máximo, cigarros usados e garrafas vazias sobre a mesa, e o lamento: “Eu não merecia isso, você ainda vai se arrepender.” Em síntese, senhoras e senhores, essa é a trilogia do relacionamento atual.

Estamos feridos e machucando aqueles que buscam um amor genuíno.

Muitas pessoas estão se afastando do romantismo porque foram atropeladas por ilusões amorosas. Feridas não curadas alimentam a criação de novas. Amar é uma semente particular; primeiro, eu desenvolvo meu próprio conceito de amor para depois compartilhá-lo com outra pessoa. Esse processo é demorado; devemos ter cautela ao buscar um relacionamento. Quem teme a solidão acaba convivendo com o bicho-papão e mergulha em um pesadelo. O amor é vida, mas está sendo distorcido. Existem falsos “amores” se passando por verdadeiros. Hoje, as canções de amor são diferentes das do tempo de mamãe, pois “amores matam, ferem e adoecem”. São essas qualidades o que chamamos de amor?

Ass.: Histayllon Santos, professor de Língua Portuguesa, escritor novato e-mail: [email protected]