JESSÉ SOUZA

Ações articuladas para enfrentar fogo e seca deixam de fora municípios de risco

Apenas Rorainópolis, Mucajaí, Caracaraí e Iracema entraram na lista das ações estratégicas de combate ao fogo e seca (Imagem: Divulgação)

Bastou que nesses últimos dias a chuva desse uma trégua na região Norte de Roraima para que cortinas de fumaça começassem a surgir ao longo das regiões de Pacaraima e, especialmente, Amajari, que é cercado por fazendas, municípios estes que foram muito castigados por incêndios florestais e queimadas descontroladas nos lavrados, no fim do ano passado e início deste ano.

Porém, esses dois municípios roraimenses ficaram de fora da força-tarefa discutida na quarta-feira, 21, em Brasília, entre integrantes do Governo Federal, governadores e representantes dos nove estados amazônicos e do Pantanal, quando foram debatidas estratégias articuladas entre forças de defesa e fiscalização envolvendo órgãos federais, estaduais e municipais.

Ficou decidido que serão proibidos, inclusive com combate ostensivo,  o uso e o manejo do fogo nos períodos de estiagem , além de concentradas ações de combate em 21 municípios que concentram mais de 50% dos focos de incêndio na região amazônica. De Roraima, entraram nessa lista de prioridade Rorainópolis, Mucajaí, Caracaraí e Iracema, localizados no Centro-Sul e Sul do Estado.

O fato de Amajari ficar de fora dessa ação conjunta é um grande erro, pois esse município, além de fazer parte do chamado Arco do Fogo, tem um regime diferenciado de chuvas dos demais municípios do Centro-Sul e Sul, sendo um dos primeiros a serem atingidos pela estiagem, portanto, também onde os incêndios e queimadas descontroladas começam primeiro.

A região do Amajari ainda sequer se recuperou da grande queimada deste ano, com a falta de chuvas nos últimos sete dias se tornando um grande alerta. Por sorte, caiu uma chuva branda na noite desta quinta-feira no município, mas não foi o suficiente para livrar o risco do fogo com a queimada de pastos e de áreas para limpeza por fazendeiros e comunidades indígenas.

É necessário que as autoridades estejam atentas a este alerta, pois é na região Norte onde se encontram as nascentes e os principais tributários do Rio Branco, o principal curso de água de Roraima. E os lagos dessa região localizadas nos imensos lavrados funcionam como caixas d’águas dos rios e mantenedores da vida da fauna e da flora.

Vale ressaltar que o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) havia aprovado, um dia antes da reunião de representantes dos governos, na terça-feira, 20, o repasse de R$ 11,7 milhões para ações de defesa civil no Amazonas e Roraima. O Amazonas enfrenta um dos períodos de estiagem mais severos em 20 anos, o que aumenta as chances e intensidade dos focos de incêndio também em Roraima. Oito planos de trabalho foram aprovados para de municípios do Acre, Amazonas, Roraima e Rondônia.

É um recurso muito limitado, o que necessitará de reforço por parte do Governo do Estado, uma vez que os municípios mal conseguem ter recursos para pagar salários e manter o básico funcionando. Os incêndios do verão passado, no Amajari, mostraram que as ações do governo estadual são pífias, desorganizadas e insuficientes, deixando para a Defesa Civil Municipal um fardo pesado e fora de seu alcance para socorrer a população.

As discussões só começaram, e as autoridades roraimenses precisam se espelhar no que ocorreu no fim de 2023 e início de 2024. Se inciativas não foram tomadas, as tragédias ambientais durante a estiagem deste ano começarão exatamente pelos municípios que ficaram de fora das ações que estão sendo planeja sob a chancela do Governo Federal, as quais ignoram a realidade de Roraima.

*Colunista

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