Roraima tem mais de 100 violações de direitos contra crianças indígenas, incluindo 63 estupros

Boa Vista, Normandia e Alto Alegre lideram os casos de violação de direitos contra crianças indígenas em Roraima, somando 65 dos 102 registros, com 46 estupros de vulnerável

 Roraima registrou 102 casos de violações de direitos de crianças indígenas de 0 a 12 anos em 2023, com 63 casos de estupro.(Foto: Raisa Carvalho)
Roraima registrou 102 casos de violações de direitos de crianças indígenas de 0 a 12 anos em 2023, com 63 casos de estupro.(Foto: Raisa Carvalho)

O Fórum dos Direitos da Criança e do Adolescente de Roraima (Fórum DCA/RR) divulgou, na tarde desta quarta-feira (24), preocupantes dados sobre a violação de direitos de crianças indígenas de 0 a 12 anos no estado. Segundo o levantamento, realizado a partir de registros de delegacias da Polícia Civil, foram contabilizados 102 casos de violações em 2023, dos quais 63 foram estupros.

Boa Vista, mesmo sendo a capital e o município mais populoso, apresentou 26 registros, incluindo 16 casos de estupro de vulneráveis, 4 de lesão corporal e 3 de abandono de incapaz. Em Normandia, município com aproximadamente 13 mil habitantes, o número de casos de estupro de vulneráveis chegou a 19. “Esses dados são extremamente preocupantes, especialmente considerando a pequena população do município”, destacou Paulo Thadeu Franco das Neves, coordenador do Fórum DCA/RR e conselheiro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).

Neves ressalta que o levantamento é parte de um estudo nacional sobre a infância indígena, que será publicado em breve, e que a fragilidade do sistema de proteção integral à criança e ao adolescente, desestruturado nos últimos quatro anos, contribui para a gravidade dos números. “É fundamental fortalecer a sociedade civil organizada nos municípios para combater essa situação. Não há solução sem uma ação conjunta entre sociedade e poder público”, frisou.

Os dados foram apresentados durante um curso de formação para crianças e adolescentes indígenas no auditório da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Boa Vista, evento que contou com a participação de representantes de associações indígenas e de organizações que integram o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de Roraima (CEDCAR), além de membros dos fóruns estadual e municipais.

Dados de violações contra crianças indígenas em Roraima em 2023:

  • Alto Alegre: 15 casos (11 estupros de vulnerável, 3 lesões corporais, 1 maus-tratos)
  • Amajari: 2 casos (2 estupros de vulnerável)
  • Boa Vista: 26 casos (16 estupros de vulnerável, 4 lesões corporais, 3 abandonos de incapaz, 1 ato obsceno, 1 aliciamento, 1 maus-tratos)
  • Bonfim: 7 casos (3 estupros de vulnerável, 2 lesões corporais, 1 importunação sexual, 1 maus-tratos)
  • Cantá: 12 casos (6 estupros de vulnerável, 2 tentativas de estupro, 2 maus-tratos, 1 lesão corporal, 1 importunação)
  • Caracaraí: 1 caso (1 lesão corporal)
  • Mucajaí: 1 caso (1 lesão corporal)
  • Normandia: 24 casos (19 estupros de vulnerável, 2 lesões corporais, 2 aliciamentos, 1 tentativa de estupro)
  • Pacaraima: 8 casos (2 estupros de vulnerável, 3 tentativas de estupro, 2 lesões corporais, 1 assédio sexual)
  • Uiramutã: 6 casos (4 estupros de vulnerável, 1 estupro, 1 tentativa de estupro)