Cotidiano

Servidores paralisam atividades para cobrar pagamentos atrasados

Delegacia-Geral da Polícia Civil afirmou que tem feito todos os esforços possíveis para garantir o pagamento dos salários

Diante dos constantes atrasos de salários e outros problemas que afetam o cotidiano das atividades, servidores da perícia criminal e demais áreas da Polícia Civil promoveram na manhã de ontem, 15, uma manifestação em frente ao Instituto de Identificação Odílio Cruz (IIOD). Parte dos trabalhos desenvolvidos pelos profissionais ficou comprometida durante todo o dia.

“O número de pessoas afetadas com esse problema é total, porque ninguém recebeu o seu pagamento. É bom que se diga também que esse não é um problema de hoje. Ele vem desde 2016, ou seja, faz dois anos que os trabalhadores estão sendo obrigados a fazer malabarismo para se readequarem”, destacou o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Roraima (Sindpol), Leandro Almeida.

Conforme o sindicalista, o atraso no repasse dos vencimentos tem gerado uma série de prejuízos aos servidores, uma vez que a data máxima para o pagamento das contas dos trabalhadores sofreu, pelo menos, duas alterações.

“Antes, o pagamento era feito no último dia útil de cada mês e, em outubro de 2016, passou para o dia 10. Só aí o servidor já enfrenta um tempo significativo para poder se readequar. Alguns compromissos financeiros, como empréstimos imobiliários, prestação de carro e pensões alimentícias, ficam impossibilitados de mudar a data de vencimento. O que dá para negociar é conta de água e de luz, que nem é o essencial assim. Se já estava ruim o pagamento ser realizado no dia 10, agora está ainda pior, já que há previsão nenhuma e o Governo do Estado simplesmente não vem a público esclarecer os motivos”, comentou.

Além do Instituto de Identificação, parte do grupo também se concentrou na sede do 5º Distrito Policial (5º DP), localizado no Distrito Industrial de Boa Vista. Leandro Almeida destacou ainda que os prognósticos são catastróficos, já que sem o pagamento os servidores estão tendo dificuldades para chegar aos seus locais de trabalho.

“O que a gente percebe é que há uma guerra entre poderes, onde Poder Executivo está em uma queda de braço contra Legislativo, Judiciário e órgãos independentes. No meio desse fogo cruzado estamos nós, os servidores, dentre eles aqueles que prestam serviços essenciais, como a polícia, o sistema prisional e saúde do Estado. Hoje, as dificuldades são imensas e os poucos que ainda tem gasolina estão dando carona para os colegas de trabalho, mas talvez nos próximos três dias isso nem seja mais possível”, completou.

Delegacia-Geral diz buscar diálogo sobre pagamento

Horas após a deflagração da mobilização dos servidores, a Delegacia-Geral da Polícia Civil emitiu nota em que ressaltou que tem dialogado com o Governo do estado sobre o pagamento de salários atrasados.

“A Delegacia-Geral de Polícia informa que tem acompanhado a manifestação pacífica dos policiais civis, na manhã desta segunda-feira, 15. Em relação ao salário dos policiais, informa que o pagamento é efetuado pela Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz), e a Delegacia-Geral tem feito todos os esforços possíveis para garantir o pagamento dos salários”, frisou.

Entre as medidas que foram tomadas para assegurar o pagamento dos servidores, o órgão citou o ingresso do mandado de segurança pelo Sindicato dos Policiais Civis de Roraima (Sindpol) e Ação Civil Pública pela Procuradoria Geral do Estado (PGE).

A Delegacia-Geral ressaltou ainda que tem concentrado empenho máximo para resolver as questões relacionadas à oferta de combustíveis e ao cumprimento dos contratos para regularização de materiais e insumos nas delegacias da capital e interior do Estado. “Quanto ao fornecimento de combustível, foi ajuizada ação na qual foi concedida liminar para a garantia do serviço policial e o abastecimento tem sido realizado normalmente. Entretanto, em relação aos insumos nas delegacias, todo o processo para aquisição de materiais foi realizado pela Polícia Civil, contudo, devido à ausência de pagamento aos fornecedores, as empresas estão cortando o fornecimento”, completou.

PGE – Também por meio de nota, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) informou que aguarda decisão judicial do Juízo de Fazenda Pública em relação à Ação Civil Pública que pede tutela de urgência de forma liminar para garantir o pagamento do salário dos servidores, favorável ou contrária, para se fazer cumprir.

Servidores de outras pastas também aguardam pagamento

Os constantes atrasos de salários não afetam exclusivamente os servidores da Polícia Civil. O problema também tem penalizado órgãos da administração direta e indireta do Governo.

No dia 3 deste mês, servidores do Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima) convocaram uma reunião com a direção do órgão para anunciar a paralisação das atividades, em recorrência da falta de dinheiro até mesmo para transporte. A ação foi acompanhada inclusive pelo Sindicato dos Trabalhadores Civis Efetivos do Estado de Roraima (Sintraima). Mesmo com o indicativo e a entrega de um ofício sobre a decisão, o Governo informou que as atividades do órgão estão em funcionamento normalmente, ou seja, sem nenhum tipo de transtorno.

Há ainda a situação dos funcionários da Companhia Energética de Roraima (Cerr), que há mais de 100 dias estão com os salários atrasados. A situação vem sendo denunciada desde junho pelo Sindicato dos Urbanitários de Roraima (Stiu-RR). A última informação repassada aos trabalhadores pela direção da Cerr era de que o pagamento seria efetuado no dia 24 de setembro, o que acabou não acontecendo, devido ao bloqueio de contas do Estado. Sobre essa questão, o Governo não se manifestou oficialmente. (M.L)