Centenas de servidores públicos estaduais se reuniram em frente ao Palácio Senador Hélio Campos na manhã de ontem, 18, para protestarem contra os constantes atrasos nos salários. Com panelas e entoando coro que pedia a renúncia da governadora Suely Campos, os manifestantes acompanharam lideranças sindicais na tentativa de entrar em acordo com o Governo do Estado para que os pagamentos sejam efetuados, porém, sem sucesso.
A mobilização, que começou às 9h na Praça do Centro Cívico, contou com a presença de diversas categorias que atuam nas áreas de segurança pública e saúde, além de servidores do quadro geral estadual. Os servidores garantem que as condições de trabalho estão insustentáveis e não descartam a possibilidade de greve geral se a situação não for normalizada o quanto antes.
“Estamos acompanhando todo o processo. Nós já vínhamos falando para toda a sociedade roraimense a condição que o Estado está vivenciando em termos financeiros. Nós estamos aqui no intuito dos servidores terem seus salários resguardados diante de toda essa situação. O que estamos fazendo é um ato em conjunto”, disse o presidente do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem de Roraima (Sindprer), Melquisedeque Menezes.
Por volta das 10h, os manifestantes continuaram com o panelaço e gritos de “se ela não pagar, o estado vai parar” na porta do prédio. De acordo com George Farias, servidor da Secretaria Estadual de Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), a falta de ordem no pagamento tem sido outro problema enfrentados pelos estaduais. “Somos muitas famílias sem salário. Como escolhe pagar um e não pagar outro? Qual a importância do Judiciário receber e a gente não?”, questionou.
Às 10h40 as lideranças sindicais se reuniram com uma equipe técnica financeira do estado, contrariando o convite que havia sido feito no dia anterior, em que afirmaram que a governadora receberia os servidores. De portas fechadas, o encontro serviu para que o Governo apresentasse dados que justificassem os atrasos, garantindo que estava tentando honrar com a folha de pagamento normalmente.
Sindicalistas saem da reunião sem acordo
Momentos após a reunião, o presidente do Sindicato dos Auditores da Secretaria de Fazenda (Sindfisco), Jorge Teixeira, relatou para os manifestantes que continuavam em frente ao Palácio que não foi formalizado nenhum acordo e que os dados apresentados pelo Governo já eram de conhecimento geral.
“A situação do Estado é deficitária, tendo em vista que as despesas do Governo são maiores que a receita. Tinha que ser feito um ajuste fiscal e o poder Executivo não fez isso por isso não tem hoje como honrar o pagamento dos servidores públicos”, destacou Teixeira.
O sindicalista enfatizou que houve aumento na arrecadação própria no estado e do Fundo de Participação Estadual (FPE), o que não justifica os atrasos. A alternativa sugerida por Teixeira foi a criação de uma ‘comissão de crise’ para que sejam encontradas soluções urgentes entre os poderes Executivo, Judiciário e Legislativo para que os repasses sejam feitos.
“O que está em cheque não é só os salários dos servidores públicos. O que está em cheque hoje é a sobrevivência da economia do estado de Roraima. O Governo, até o presente momento, não apresentou nenhuma solução viável para o pagamento dos servidores enquanto não tiver capacidade de dialogar com os poderes”, destacou em meio aos servidores.
Segundo ele, há um rombo nas contas públicas que chegam a R$ 800 milhões e somente quando houver um pacto institucional é que os servidores serão pagos, caso não ocorra, os servidores podem ficar sem salário até dezembro.
GREVE GERAL – Com os ânimos exaltados, os servidores repudiaram a afirmação que deveriam tentar entrar em diálogo com a governadora Suely Campos, já que a gestora não compareceu à reunião. Querendo a paralisação geral dos servidores, a opção foi levantada por Teixeira, que garantiu que caso ocorresse, os serviços essenciais teriam que continuar para não agravar mais o cenário roraimense.
“O sentimento é de frustração. Estamos à beira de paralisar todas as atividades e a gente não vislumbra uma solução imediata nem em médio prazo. Essa preocupação é do estado de Roraima. Há atrasos acumulados desde 2016, a crise vem se arrastando de lá até aqui”, desabafou o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Roraima (Sindpol), Leandro Almeida. Uma nova assembleia com os servidores será feita para decidirem os próximos passos de manifestação e paralisação por parte das classes estaduais.
Não há previsão para pagamento de salários, diz secretário
Secretário do Gabinete Institucional, Marcelo Lopes: “Atual situação econômica é reflexo das dívidas da gestão anterior” (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)
Em coletiva após a reunião, o secretário do Gabinete Institucional, Marcelo Lopes, informou que a situação atual econômica é reflexo de dívidas nas folhas de pagamento da gestão anterior e que, no momento, há estudos para tentar diminuir gastos para que seja feito o pagamento dos servidores.
Segundo o secretário, as áreas da saúde e educação não estão com os salários atrasados e, das outras classes, o atraso é de oito dias. Entre as medidas analisadas estão a diminuição nos cargos comissionados e de outros benefícios, tudo para que seja avaliado onde falta realizar o pagamento até o final do ano. Em relação ao pagamento dos servidores estaduais, Marcelo Lopes garantiu que não existe nenhuma previsão no momento.
A equipe técnica apresentou dados sobre a arrecadação e a dívida mensal. “O Tesouro arrecada R$ 125 milhões por mês, sendo R$ 95 milhões do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e R$ 30 milhões de ICMS. Desse total, reduz R$ 59 milhões dos poderes (previsto para 2019) e R$ 22 milhões de empréstimo, restando R$ 44 milhões, que não é suficiente para pagar pessoal”, apontou.
DUODÉCIMO – Sobre os bloqueios nas contas, Lopes afirmou que a Lei Orçamentária Anual (LOA) deste ano foi alterada, aumentando o repasse para os poderes. “Quando voltou o Projeto de Lei para o Executivo, nós identificamos que foram retirados recursos, ou seja, a governadora vetou essas emendas. Acontece que o Legislativo derrubou o veto”, relembrou.
O secretário disse que, ao ver a falta de recursos, Suely entrou com ação no Supremo Tribunal Federal e conseguiu manter o pagamento dos poderes nos mesmos valores anteriormente. Recentemente, saiu decisão judicial que garantiu aos poderes receberem os valores aprovados com a derrubada do veto, por isso não há condições de fazer o repasse como desejado. (A.P.L)