Cotidiano

Servidores da saúde e educação são pagos em datas diversas

Há servidores que recebem dia 10, outros dia 20 ou dia 30; Sindicatos questionam critérios para pagamento em datas diferentes

Aos olhos do Governo do Estado, manter regularizado os pagamentos dos servidores estaduais das áreas de saúde e educação está sendo uma vantagem em meio a uma crise financeira em Roraima. Entretanto, contrariando qualquer tipo de garantia, os servidores afirmam que não há qualquer tipo de benefício em receber o salário mediante o cenário que os postos de trabalhos se encontram.

Na educação, os professores estão recebendo os salários sem obedecer à ordem determinada em calendário. Alguns recebem no dia 10 do mês e outros no dia 30, para os técnicos educacionais, o salário chega a cair na conta no dia 20 de cada mês. Sem qualquer explicação para os trabalhadores, a classe se sente prejudicada porque não é informada quais critérios adotados para a divisão de pagamento, de acordo com a presidência do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Roraima (Sinter).

Esse pagamento destinado para a classe é feito apenas para os professores, descartando os serviços terceirizados dentro das escolas. Merendeiras, assistentes de alunos e funcionários de limpeza prestam os serviços terceirizados para educação e estão há mais de três meses sem receberem os salários. Muitos servidores decidiram abandonar o emprego por desistirem de esperar.

A situação é parecida na área da saúde em que apenas médicos concursados, que totalizam mais de 300 servidores, receberam o salário do mês de setembro. Já os 566 cooperativados estão enfrentando o atraso no pagamento como os outros servidores estaduais. De acordo com o presidente do Sindicato dos Médicos de Roraima, Antônio Delmiro, o maior problema está na estruturação das unidades hospitalares, onde falta todo tipo de material e não há mais condições de trabalho.

Segundo o sindicalista, a classe entende que não há como parar os serviços que poderiam prejudicar a população roraimense, mas que a forma que o Governo tem tratado o funcionalismo público não pode continuar. “Isso aliada à falta de insumos básicos como luva, gaze, esparadrapo, fio de sutura, seringa e até medicamentos”, contou Delmiro.

O médico completou informando que alguns servidores já conversaram sobre a possibilidade de parar as atividades, mas que ainda estão esperando o mês de outubro acabar para decidirem os próximos passos. Para os terceirizados, mesmo em meses sem salários, o presidente garantiu que os funcionários estão fazendo o trabalho em meio à situação para que a população não seja atingida.

Para o presidente do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem de Roraima (Sindprer), Melquisedeque Menezes, a situação nas unidades de saúde é caótica e que os hospitais são formados por equipes multidisciplinares, que devem receber seus salários em ordem.

Terceirizados das escolas estaduais paralisam serviços

Sinter afirma que, em algumas escolas, alunos estão limpando salas de aula (Foto: Nilzete Franco/Folha BV)

“Tenho que pagar minhas contas, então não estou indo nas manifestações porque tenho que fazer meus ‘bicos’ em casa para ver se amenizo as coisas. A cantina que sustenta a escola, tudo o que os alunos compram, [o dinheiro] vai para a escola comprar merenda”, relatou a assistente de aluno terceirizada, Zilda Borges. A terceirizada completou informando que mais de 200 funcionários da empresa em que trabalha estão precisando procurar outras formas de sustento por conta da falta de pagamento.

Zilda destacou ainda que as atividades paralisadas por parte dos funcionários foi incentivada pela própria empresa porque a situação de faltar merenda completa em algumas unidades de ensino e também de materiais de limpeza se tornou insustentável. Os funcionários tentaram diversos contatos com o Governo do Estado, mas a única resposta que ouviram era que precisavam procurar o Tribunal de Justiça para reclamar que as contas estavam bloqueadas e que isso causaria os problemas nos salários.

A situação está sendo acompanhada pelo Sinter, que sabe de casos em que alunos estão sendo chamados para limparem as salas de aula, assim como há falta de transporte em algumas localidades no interior do estado. De acordo com o presidente do Sinter, Flávio Bezerra, mesmo com os salários nas contas, os professores estão apoiando os demais servidores estaduais.

“Faremos uma assembleia para decidir nossos próximos passos, se vamos aderir à paralisação junto a eles ou não. Tivemos em reunião com a equipe do Governo, e sabemos que essa arrecadação [de R$ 500 milhões] é por meio de emendas e não vai para o estado. É uma falta de organização da gestão e também dos repasses para os outros poderes”, disse o presidente.

Governo não dá mais esclarecimentos

A equipe de reportagem da Folha entrou em contato com o Governo do Estado para questionar sobre a informação que há mais de R$ 500 milhões de arrecadação em recursos estaduais e que poderiam garantir o pagamento dos servidores, mas não obteve qualquer tipo de esclarecimentos sobre a demanda. (A.P.L)