Após uma reunião de emergência realizada no Palácio do Planalto neste domingo (08), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que a tensão entre Brasil e Venezuela está em ascensão. A declaração vem em um momento crítico, onde as tentativas do governo brasileiro de mediar a crise política venezuelana encontram-se em xeque, principalmente devido a uma série de quebras de acordos por parte do presidente Nicolás Maduro.
Tentativa de mediação
Nos últimos meses, o governo brasileiro vinha atuando como mediador na tentativa de um diálogo entre o regime de Nicolás Maduro e a oposição venezuelana. No entanto, o esforço sofreu um revés significativo na noite do último sábado (07), quando foi confirmado que Edmundo González, o principal opositor de Maduro nas últimas eleições, havia chegado à Espanha após fugir da justiça venezuelana, que havia emitido um mandado de prisão contra ele. A fuga de González, que contou com o apoio de autoridades espanholas, frustrou as esperanças de Lula em alcançar uma resolução pacífica e negociada para a crise política na Venezuela.
Cerco à embaixada e ruptura diplomática
Outro fator que agravou a situação foi o cerco à embaixada argentina em Caracas, que estava temporariamente sob o comando do Brasil. A embaixada abrigava seis opositores venezuelanos, e após a expulsão dos diplomatas argentinos por Maduro, o Brasil assumiu a responsabilidade pela representação diplomática. Contudo, na última sexta-feira (06), o governo Maduro suspendeu unilateralmente o acordo que permitia essa proteção, cercando a embaixada. A atitude foi considerada uma violação grave dos protocolos diplomáticos, o que teria deixado Lula em “choque”, consolidando a ruptura entre os dois países.
Quebra de acordos
A situação foi ainda mais complicada pela falta de alguns dos principais interlocutores da política externa brasileira. O assessor especial Celso Amorim estava em Moscou, e o chanceler Mauro Vieira em viagem ao Oriente Médio, deixando o governo brasileiro com menos opções para manejar a crise. Além disso, uma das exigências do Brasil, de que Maduro descartasse a possibilidade de prender ou exilar Edmundo González como parte de um processo de transição democrática, foi ignorada pelo líder venezuelano, minando ainda mais as chances de um acordo.
Mudança de discurso
Na sexta-feira (6), Lula já havia expressado seu descontentamento com o comportamento de Maduro, afirmando que ele “deixa a desejar”, mas até então havia descartado a possibilidade de romper relações com a Venezuela, temendo que um bloqueio prejudicasse o povo venezuelano, e não o regime. No entanto, o presidente brasileiro também condicionou o reconhecimento da vitória de Maduro nas eleições de julho à divulgação das atas eleitorais, uma exigência que ainda não foi atendida.