Estamos no mês todo dedicado aos cuidados com a saúde mental. Amanhã, dia 10, é a data em que é celebrado o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. Para relembrar, amarelo é a cor escolhida para representar este sentimento, por isso foi instituída a campanha Setembro Amarelo, a fim de trabalhar a conscientização sobre a prevenção do suicídio em todo o mundo e incentivar esse diálogo com a sociedade.
Em Roraima, os casos de suicídio são preocupantes. Desde o ano de 2000, a média é de 200 pessoas que dão fim à própria vida por ano. Com base nas estatísticas divulgadas até setembro de 2023, até aquele momento, em quase quatro anos haviam morrido 939 roraimenses de suicídio no Estado, o que mostra uma realidade perturbadora em relação a transtornos mentais, especialmente depressão e ansiedade.
Esses números escondem em seu âmago outra realidade não menos preocupante que vem sendo ignorada: o suicídio entre indígenas, especialmente crianças e adolescentes. O início desse mês, no Município do Uiramutã, Norte do Estado, foi marcado pelo suicídio de um garoto indígena de 11 anos de idade, na comunidade Tabatinga, assunto que ficou apenas nas rodas de conversa daquela localidade.
Os moradores relatam que crianças e adolescentes começam a beber muito cedo nas comunidades indígenas, especialmente por questão cultural, quando pais indígenas oferecem para os seus filhos o caxiri, bebida tradicional fermentada feita de mandioca, que é a porta de entrada para o alcoolismo. Tem ainda a facilidade de acesso a drogas ilícitas, bem como a desagregação familiar e abandono dos pais também por causa do alcoolismo e droga.
O Relatório da Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil 2024, com dados de 2023, produzido pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) apontou o sério problema, colocando Roraima com grande número de suicídios de indígenas, sendo o terceiro Estado da lista, com 19 casos, divididos entre três mulheres e 13 homens, apontado como uma situação preocupante relacionada aos elevados índices de violência e de vulnerabilidade social envolvendo estes povos.
No artigo sobre o tema escrito no passado, intitulado “Uma tragédia semelhante a um avião que cai anualmente lotado de pessoas”, foi lançado um alerta de que se tornou imprescindível desmistificar o tema suicídio para que seja tratado pelas autoridades e pela mídia como um problema social, um tema coletivo, e não apenas como drama e tragédia de forma individualizada.
Nas escolas das comunidades indígenas é essencial que o Setembro Amarelo seja tratado com mais profundidade, com autoridades e instituições passando agir com mais ênfase no público infantojuvenil, em destaque no Uiramutã, que se tornou ponto de apoio para o garimpo na Guiana e rota de tráfico de drogas do país vizinho, com o alcoolismo se tornando um sério caso de saúde pública a desafiar as autoridades.
Até porque o Município de Uiramutã tem a singularidade de ser a cidade mais indígena do país e também a mais jovem, com a metade da população registrando até 15 anos de idade, conforme números do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontaram Uiramutã o 10º mais populoso entre os 15 municípios de Roraima, com uma população de 13.751 habitantes.
Os dados indicam que 96,60% da população uiramutansense é indígena, totalizando 13.751 habitantes, dos quais 2.541 são crianças com idades de 0 a 4 anos, além de 2.292 de 5 a 9 anos e 1.942 com idades de 10 a 14 anos. Além disso, são 1.520 pessoas jovens e adolescentes de 15 a 19 anos e 1.066 com idades de 20 a 24 anos.
A realidade está expressa nos dados e números. E não há como as autoridades se esquivarem do problema alegando desconhecimento ou falta de alerta. Para complicar o quadro, até a semana passada nenhuma nova estatística sobre suicídio foi divulgada para que a sociedade possa avaliar a situação, em especial neste mês de reflexão.
*Colunista