Embora haja receio por parte das pessoas em denunciar, têm ocorrido casos de servidores exonerados ou transferidos de algumas localidades por não apoiarem os candidatos ligados ao grupo governista em determinados municípios do interior. Recentemente, ocorreu um caso em Pacaraima, município localizado na fronteira com a Venezuela, envolvendo um integrante do Corpo de Bombeiros.
Conforme a denúncia, o militar foi removido daquele município por anunciar apoio a uma candidata do partido de oposição, o que é vedado pela legislação eleitoral. Porém, existe uma questão muito maior neste caso, pois o bombeiro acredita que não se trata apenas de perseguição por questão partidária, e sim de coação de testemunha, pois ele é peça-chave em uma denúncia de desvio de cestas básicas que deveriam ser distribuídas em ação emergencial para os indígenas vítimas da estiagem.
O caso foi parar na Procuradoria do Ministério Público Federal em Roraima (MPF-RR) e no próprio Comando do Corpo de Bombeiros Militar, por meio de dois ofícios enviados por lideranças indígenas da Coordenação Regional do Alto São Marcos, que é a organização indígena que defende os interesses das comunidades indígenas daquela região em Pacaraima, após o tema entrar na pauta de discussão das assembleias das lideranças indígenas.
Os ofícios narram que, no dia 22 de abril deste ano, um carro com placa venezuelana chegou à sede de uma associação indígena e foi abastecido com cestas básicas que deveriam ter sido entregued às comunidades indígenas. Nesse veículo com placa estrangeira estariam a esposa de um oficial bombeiro e uma servidora do primeiro escalão daquela instituição militar, o qual estava escoltado por outro veículo oficial da Defesa Civil Municipal de Pacaraima.
Tratam-se de graves denúncias que envolvem a mesma pessoa em dois casos que precisam ser investigados com todo o rigor necessário. No caso das cestas básicas, os ofícios enviados ao MPF não apenas narram os fatos como também relatam nomes completos de pessoas envolvidas, inclusive com suas respectivas patentes.
O que chama a atenção neste caso é que, quando se trata de combater queimadas descontroladas no lavrado e incêndios florestais, não se vê nenhum imbróglio de militares do Corpo de Bombeiros disputando espaço ou questionando a ineficácia das ações. No entanto, quando se trata de cestas básicas, surgem inclusive esposa de oficial aparecendo nas cenas.
Aliás, além da necessidade de se esclarecer este caso específico em Pacaraima, os órgãos de controle também precisam dar respostas em relação à fiscalização dos recursos federais repassados aos demais municípios em virtude da decretação de situação de calamidade por causa da forte estiagem registrada no fim do ano passado e início de 2024.
Estamos nos aproximando de um novo período de estiagem, cujas previsões indicam uma seca severa e histórica, mas até agora não se sabe onde boa parte dos recursos emergenciais foi aplicada nem das ações de prevenção e combate por parte dos municípios e do Estado. Este ano não haverá espaço para desculpas esfarrapadas.
*Colunista