A influenciadora digital Deolane Bezerra foi presa novamente nesta terça-feira (10) após a Justiça revogar sua prisão domiciliar. A decisão foi tomada em razão do descumprimento de medidas cautelares impostas pela própria Justiça, que determinavam, entre outras condições, que Deolane não poderia se manifestar publicamente sobre o processo em que é investigada.
Deolane havia sido beneficiada com a prisão domiciliar, sendo monitorada por tornozeleira eletrônica. No entanto, a influenciadora desrespeitou as restrições ao fazer declarações em suas redes sociais, à imprensa e a outras mídias, violando as condições impostas pelo Judiciário.
O episódio que culminou na revogação ocorreu após a influenciadora se pronunciar ao deixar a Colônia Penal Feminina do Recife na segunda-feira (9), onde falou para uma multidão que a aguardava. Durante sua fala, Deolane criticou a prisão: “Minha prisão é criminosa”, afirmou. Além disso, a influenciadora conversou com jornalistas no local, contrariando diretamente as medidas judiciais.
Além da manifestação presencial, Deolane também publicou uma imagem em suas redes sociais na segunda-feira, em que aparece com a boca amordaçada, com a legenda “Carta aberta”, numa referência a outra publicação feita no domingo (8), na qual reiterou sua inocência em relação à investigação que apura seu envolvimento com uma organização criminosa ligada a jogos ilegais e lavagem de dinheiro.
A operação policial que investiga Deolane faz parte de um esforço das autoridades para desmantelar esquemas criminosos associados a atividades ilícitas, como lavagem de dinheiro e jogos de azar. O caso segue em investigação e a influenciadora, que alega ser vítima de uma “injustiça”, permanece sob custódia até nova deliberação judicial.
Entenda o caso
O caso teve início em 2022, quando a polícia apreendeu R$ 180 mil em uma banca de jogo do bicho no Recife, pertencente a Darwin Henrique da Silva, figura conhecida no meio. Durante a operação, um caderno de anotações também foi encontrado, o que desencadeou uma investigação mais ampla, levando ao envolvimento de seu filho, Darwin Filho, proprietário da plataforma de apostas Esportes da Sorte.
A plataforma, que tem sede em Curaçao, realiza operações financeiras por meio de depósitos via PIX, com a intermediação da empresa Pay Brokers, sediada em Curitiba. Segundo as investigações, a empresa está sob suspeita de atuar como facilitadora em um esquema de lavagem de dinheiro.
A Justiça bloqueou R$ 20 milhões de Deolane Bezerra e mais R$ 14 milhões de sua empresa, que estão sob investigação. A influenciadora, que declarou uma renda mensal de R$ 1,5 milhão, fundou uma empresa de apostas com um capital inicial de R$ 30 milhões, também alvo de apuração. A suspeita é que o esquema envolvia a transferência recorrente de valores entre contas para dificultar o rastreamento das quantias ilícitas, além de aquisição de imóveis, carros de luxo e até aviões para lavar o dinheiro, que seria incompatível com as rendas declaradas.
Defesa dos envolvidos
Darwin Henrique da Silva, até o momento, continua foragido e, segundo sua defesa, no dia da operação ele cumpria uma agenda profissional. O empresário aguarda a decisão de um habeas corpus para avaliar se se entregará às autoridades. Já Darwin Filho, que se apresentou à polícia, negou envolvimento com o jogo do bicho e afirmou que todos os seus rendimentos são devidamente declarados.
A defesa de Deolane Bezerra, por sua vez, acredita que as acusações de lavagem de dinheiro serão contestadas com o andamento das investigações.
Esquemas de lavagem de dinheiro
Conforme explicou o advogado Raul Zaidan Filho, empresas podem ser utilizadas de diferentes formas em esquemas de lavagem de dinheiro. Ele destaca que uma das estratégias mais comuns é a utilização de paraísos fiscais como sede da empresa, o que dificulta a fiscalização das autoridades brasileiras. Esse tipo de operação visa esconder a origem ilícita dos recursos, que acabam sendo reinseridos no mercado como aparentemente lícitos.
“Em casos de lavagem de dinheiro, a comprovação depende de uma análise detalhada das movimentações financeiras, normalmente através da quebra de sigilo bancário, que pode revelar transações suspeitas”, explicou Zaidan. Ele também observa que o crime de lavagem de dinheiro exige dolo, ou seja, a vontade deliberada de ocultar ou dissimular a origem ilícita dos recursos, o que coloca sócios e gestores no centro das investigações.
A defesa, em situações como essa, costuma adotar a estratégia de desvincular o acusado das operações ilegais, alegando desconhecimento das atividades ilícitas da empresa. “Sem a vinculação com um crime antecedente, como tráfico de drogas ou corrupção, é possível a exclusão do processo”, concluiu o advogado.