Cotidiano

Lojistas denunciam banheiros sujos

Comerciantes denunciam que os banheiros é o maior problema encontrado no local e que gestão faz atos de represália contra funcionários

Um dos pontos característicos que retrata a crise migratória, a Rodoviária Internacional José Amador de Oliveira, localizada no bairro 13 de Setembro, continua enfrentando problemas diante do cenário de aumento no número de pessoas que transitam no local. Funcionários relatam que a sujeira e falta de segurança se tornaram comum, ao ponto de não utilizarem mais os banheiros e precisarem contratar vigia particular durante o período da noite.

Durante a visita feita pela equipe de reportagem da Folha nenhum dos comerciantes quis se identificar por medo de represálias, porém garantiram que a situação de falta de higienização é constante. Uma das funcionárias declarou que os banheiros são atualmente o maior problema enfrentado, já que o cheiro de urina e fezes é insuportável. Além do odor forte, a funcionária disse que a falta de bebedouros torna o ambiente pior.

“Quem faz a limpeza são presidiários cedidos da Penitenciária [Agrícola de Monte Cristo], mas não é todo dia que eles ficam aqui. Às vezes ficam três dias sem limpar e isso gera reclamação dos clientes porque fica um cheiro forte”, relatou. Junto com outras colegas de trabalho, as lojistas garantem que chegaram a pagar imigrantes para que o local fosse limpo porque os banheiros ficam na parte da praça de alimentação e moscas ficam sobrevoando o local, atrapalhando as vendas.

Enquanto a reportagem da Folha estava no local, na tarde de ontem, havia uma equipe fazendo a limpeza no salão da Rodoviária, porém, o odor do banheiro feminino podia ser sentido de longe. Segundo outras comerciantes, essa limpeza feita pelos detentos não abrange os banheiros e que mesmo que limpem, logo fica sujo por conta do alto número de pessoas utilizando o local ao mesmo tempo.

“Eu chego aqui às 8h e saio às 20h e não vou ao banheiro em nenhum momento porque é insuportável. Único horário que temos para ir ao banheiro é meio-dia, quando atravessamos a rua e vamos ao restaurante aqui da frente”, contou uma das lojistas. Nesse box visitado pela equipe, as comerciantes falaram ainda que o perigo é maior quando anoitece porque não há luz no banheiro e elas temem ser atacadas sexualmente.

As funcionárias contaram que pagam diariamente R$ 5 para uma empresa de segurança ficar no local durante a noite, entretanto, essa imposição de bancar um segurança particular surgiu da administração do prédio, já que a quantidade de assaltos no local tinha aumentado.

Questionados se a presença do Posto de Informações instalado pelo Exército Brasileiro na parte externa melhorou a situação de imigrantes dormindo no local, todos afirmaram que sim. Na parte da tarde, poucos venezuelanos são vistos pelo local, mas alguns continuam aglomerados nas lanchonetes que ficam ao lado da Rodoviária.

Funcionários denunciam má gestão

Receosas de divulgarem os nomes, as comerciantes ouvidas pela reportagem da Folha relataram também que existe um sentimento de opressão por parte da administração do local. Uma parte contou que chegou a procurar a Folha meses atrás para denunciar que havia um matagal na parte de traz do local e que estava começando a invadir o espaço.

Após a publicação da reportagem, as funcionárias garantiram que ficaram sem água no box em que trabalham. Outro ponto destacado foi a dificuldade que elas têm quando precisam contar com o administrador para relatarem possíveis problemas que estão ocorrendo na Rodoviária. “A gente não pode fazer denúncias. Um exemplo, se chegarmos a comentar algo sobre ele [administrador], ele ameaça tirar o box. Então ficamos calados. Ficamos um mês sem água e os outros com água normalmente. Isso aconteceu depois que a dona daqui fez uma denúncia no Ministério Público do Estado (MPRR)”, lembrou uma das denunciantes.

“Ele falava assim ‘podem reclamar, podem falar, quem manda é a governadora [Suely Campos]’ ou ‘quem manda aqui sou eu’, então a gente já ficava sem saber o que fazer. A gente não pode nem reclamar do banheiro porque ele diz que não pode fazer nada”, relatou outra funcionária.

A equipe de reportagem procurou o administrador, mas foi informada que o gestor não estaria no local e que não seria possível o contato por meio de telefone com ele.

MINISTÉRIO PÚBLICO – Por meio de nota, o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) informou que, por intermédio da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público, instaurou procedimento para investigar possível abuso de poder por parte do administrador da Rodoviária Internacional de Boa Vista. Diante da requisição de informações por parte do MPRR, a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinf) informou que iria instaurar um Processo Administrativo (PAD) para apurar o caso. O MPRR aguarda a finalização do PAD para adotar as medidas cabíveis, se necessário.

OUTRO LADO – Em nota, a Secretaria de Infraestrutura (Seinf) se limitou a informar que a limpeza e higienização da rodoviária normalizaram com o retorno dos trabalhos dos agentes penitenciários que fazem a escolta dos cincos reeducandos que estão inseridos no projeto Roma, os quais trabalham para terem a pena reduzida. (A.P.L)