Somente a certeza da impunidade e a normalização da compra de votos como estratégia principal para se ganhar uma eleição podem explicar as churrascadas durante caravana a comunidades pobres e a apreensão de muito dinheiro sendo levado para o interior do Estado. Cenas repetidas do que o roraimense já se habituou a cada período eleitoral.
Em épocas não muitos distantes, o nível de descaramento permitia que carros-fortes fossem contratados para transportar dinheiro a partir de comitês eleitorais. Ou de carros oficiais com maletas, inclusive viaturas policiais. Na sexta-feira, a apreensão de R$1 milhão em dois carros, que provavelmente seriam destinados ao Município de Rorainópolis, foi tão somente mais uma dessas cenas.
Nada fora do contexto brasileiro. Uma pesquisa contratada pelo Instituto Não Aceito Corrupção (Inac), que visou medir a aceitação de múltiplas práticas corruptas, a empresa Ágora Pesquisa entrevistou eleitores que foram questionados sobre a compra de votos: 62% disseram que conhecem alguém que trocou o voto por dinheiro e 54% relataram ter sofrido pelo menos uma tentativa direta de corrupção eleitoral nos últimos dez anos.
Só para relembrar um episódio do ano de 2001 que ocorreu em Roraima, quando o governo deixou de pagar o 13º salário dos servidores, o mandatário da época começou o ano de 2002 fazendo uma churrascada em uma comunidade do interior como forma de lançamento informal de sua futura candidatura ao Senado, que naufragou no meio do caminho.
Hoje, em pleno ano de 2024, vinte e dois anos depois, o cenário não é diferente. Caravanas que vão ao interior e zona rural de Boa Vista são regadas às mesmas churrascadas eleitorais de outras épocas, a exemplo do que já ocorreu duas vezes na região do Passarão e que segue ocorrendo em outras regiões no interior do Estado onde o eleitor tem a possiblidade de se esbaldar com os mesmos banquetes de outrora.
Enquanto autoridades de todos os escalões acompanham essas caravanas, na Capital os problemas seguem, a exemplo das denúncias de supostos descasos na maternidade que foi recém-inaugurada, situação esta que parece um filme repetido do final de década de 1990, quando bebês morriam diariamente diante da imobilidade das autoridades, que viam naquele cenário de horror algo normal.
Cenas repetidas diante de um povo que se habitou a ter nos períodos eleitorais a oportunidade de usar uma suposta esperteza para arrancar algum dinheiro ou cobrar um banquete no velho estilo “boca livre”. Nada de novo em um cenário em que os políticos sabem muito bem o que muitos eleitores querem como se espertos fossem.
Quando tudo estiver consumado, estes mesmos que se esbaldaram nos banquetes eleitorais acham que ainda têm respaldo para cobrar as autoridades… A caravana passa, os cachorros ladram e tudo segue dentro de um roteiro que todos já conhecem.
*Colunista