Os jogos de apostas têm sido um dos assuntos mais comentados nos últimos tempos. Com a promessa de lucro rápido, essas plataformas têm contribuído para o aumento do vício dos usuários. O problema afeta diversas camadas da população, com um impacto crescente entre as classes mais baixas.
Conforme um levantamento do Banco Central, as casas de apostas esportivas online, conhecidas como ‘bets’, consumiram R$ 3 bilhões de beneficiários do Bolsa Família em agosto deste ano. Isso equivale a 21% do dinheiro destinado pelo governo ao programa no mês. Dessa forma, de R$ 5 destinados ao Bolsa Família, R$ 1 foi gasto com bets. O BC avalia que 15% desse valor ficou com as empresas de apostas, enquanto o restante voltou para os apostadores como prêmios.
Uma pesquisa do Instituto Locomotiva apontou que, em cinco anos, o número de brasileiros que apostaram nas ‘bets’ chegou a 52 milhões. Do total, 48% apostou neste ano. O estudo ainda traçou o perfil dos apostadores: 53% são homens e 47% são mulheres. Além disso, quatro de cada dez jogadores têm entre 18 e 29 anos, enquanto oito de cada dez são pessoas das classes C, D e E.
Essa situação deixou as autoridades em alerta. O defensor público-geral do Estado de Roraima (DPE-RR), Oleno Matos, informou que o Conselho Nacional dos Defensores Públicos-Gerais está estudando medidas para combater algumas práticas das casas de apostas online.
“Algumas defensorias já têm tomado medidas desse tipo. Tem a questão da publicidade exagerada dessas bets em outdoors e em ambientes de serviço público, como ônibus coletivo. A defensoria também tem esse papel de educar os direitos da população e acompanhar essas pessoas em estado de vício”, explicou.
O defensor alertou ainda para o crescimento do vício entre crianças, que têm acesso facilitado a jogos de azar por meio de dispositivos móveis, como celulares e tablets. Ele enfatizou que o problema tem gerado um aumento significativo de pessoas com ludopatia, o vício em jogos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a ludopatia como um transtorno mental e do comportamento, e a caracteriza como um desejo incontrolável de continuar jogando. O vício pode prejudicar a vida pessoal, social, familiar e financeira dos jogadores.
“É um problema social que a gente precisa refletir e tomar providências para diminuir os efeitos dele. Se tem adultos que não conseguem ter controle da situação e acabam se endividando, imagina crianças, que não têm noção do que pode acontecer. Para elas, é como se fosse uma brincadeira. O Congresso Nacional precisa se debruçar sobre essa situação da regulamentação, porque, da forma aberta como está, isso vai levar a família brasileira a uma situação muito pior”, afirmou.
Matos comentou, ainda, sobre o impacto dos influenciadores digitais diante desse cenário. Segundo ele, ao divulgarem os jogos de apostas e associarem eles à conquista de uma vida luxuosa, geram uma expectativa irreal no público.
“Isso gera uma fantasia na mente das pessoas, principalmente jovens, de que elas podem alcançar aquela vida por meio das apostas. É preciso que esses novos profissionais da internet tenham mais responsabilidade”, disse.