O assassinato do soldado do Exército, Givaldo José Vicente de Deus, de 35 anos, voltou à tona após a filha da vítima, Gislayne Silva de Deus, 36, virar policial e ser a própria responsável pela prisão do assassino do pai, o vendedor Raimundo Alves Gomes, hoje com 60 anos. O caso aconteceu na tarde de 16 de fevereiro de 1999, uma terça-feira, mas só virou notícia dois dias depois na Folha de Boa Vista, devido à folga do feriado prolongado de carnaval.
Com o título “Violência mata quatro pessoas”, a notícia fez um balanço das mortes ocorridas em Roraima, durante o carnaval de 25 anos atrás, e citou o homicídio do militar motivado por uma dívida de R$ 150. Para se ter uma ideia, o valor era próximo do salário mínimo vigente de R$ 130.
O jornal estampou a identidade de Raimundo, então com 35 anos, e relatou que o autor do crime disparou um tiro de revólver calibre 38 na barriga de Givaldo. Segundo o texto, o assassino “portava a arma, com cinco cartuchos e foi para um bar, no bairro Asa Branca cobrar R$ 150,00 que a vítima lhe devia há seis meses”.
“Segundo testemunhas, o soldado reclamou por ter sido cobrado em local inadequado, e garantindo que pagaria a conta se o credor fosse receber em sua casa. A reação de Raimundo foi pelo começo de uma discussão, até que ambos travaram luta corporal, ocasião em que o vendedor sacou a arma e disparou, atingindo o militar.
O próprio Raimundo socorreu o soldado e o levou ao pronto-socorro mas quando ia saindo de lá, foi abordado por policiais militares que lhe deram voz de prisão, a princípio, por tentativa de homicídio mas em seguida, ele teve que ser autuado, em flagrante, pela morte do militar”, diz trecho da reportagem de 1999.
Raimundo Gomes teve a arma apreendida e foi levado para a Cadeia Pública de Boa Vista. No processo, consta que o assassino levou a vítima para o Hospital Geral de Roraima (HGR) acompanhado de uma testemunha. Givaldo morreu às 22h daquele dia, seis horas após ser atingido.
O autor do crime, que chegou a ficar em liberdade, foi condenado a 12 anos de prisão em regime fechado pelo Tribunal do Júri em 2013, 14 anos após o homicídio. A defesa tentou recorrer, mas sem sucesso. Em 2016, a Justiça emitiu o primeiro mandado de prisão do réu, que ficou foragido por oito anos.
Na quarta-feira (25), a Polícia Civil localizou o assassino do militar. Filha da vítima, Gislayne, que na época do crime tinha nove anos e hoje tem 36 – quase a mesma idade que o pai tinha ao ser morto – participou da operação. “A prisão dele representa não apenas a reparação de uma injustiça, mas também o poder da perseverança em nome da Justiça”, disse a escrivã da Polícia Civil de Roraima, que decidiu seguir a carreira policial exatamente pelo desejo de buscar justiça por Givaldo.