Cotidiano

Candidatos perdem prova por conta de horário de verão

Duas horas de diferença do horário de Brasília atrapalharam estudantes que ficaram do lado de fora após os portões serem fechados

“Eu pensei que seria apenas uma hora de diferença”, foi a frase que definiu os candidatos roraimenses atrasados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2018, no primeiro dia de prova desse domingo, 4. Iniciado no mesmo dia da avaliação, o horário de verão deixou muita gente confusa sobre o momento de entrada nos locais de prova. Com duas horas de diferença para Brasília, os portões em Roraima foram abertos às 10h e fechados às 11h.

Em Roraima, mais de 14 mil estudantes se inscreveram e até o final da noite de domingo, a taxa de faltosos no primeiro dia de prova do Exame em 2018, não foi divulgada oficialmente pela coordenação, mas no ano passado chegou a 30% e a expectativa é que tenha aumentado.

A distância e dificuldade de locomoção também influenciaram para a estudante de 17 anos, Aliny Moraes, que tentava vaga no curso de Arquitetura e Urbanismo, chegar atrasada. Junto com o noivo, a jovem chegou com 25 minutos de atraso em uma das escolas da capital e alegou que não teve nenhuma informação sobre a diferença de horário.

Segundo o casal, moradores do bairro São Bento, na zona oeste de Boa Vista, não há transporte público no local e tiveram que andar até o bairro Nova Cidade para conseguirem pegar um ônibus até chegarem na Escola Estadual Ayrton Senna da Silva, no Centro da cidade. “Vou deixar para fazer ano que vem porque o mais importante é a redação”, lamentou a estudante.

Perto do meio-dia, outra estudante percebeu que não haveria mais a possibilidade de fazer a primeira fase da prova. Beatriz Ferreira, 16, visava uma oportunidade no curso de Medicina, mas entendeu errado as determinações do cartão de confirmação enviado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

“Aqui diz que o portão vai fechar às 13h, eu pensei que seria assim”, desabafou entre lágrimas. A estudante confirmou que vai tentar fazer o segundo dia do Exame, no próximo domingo, 11, porém fica sem esperança após perder a nota mais importante da prova, a da redação.

Outra das candidatas foi barrada de entrar na escola porque tinha esquecido o documento oficial com foto em casa. O pai da jovem chegou segundos depois que a porta tinha sido trancada, mesmo insistindo para que a filha entrasse, não foi permitido. Em outros pontos da cidade que estavam ocorrendo a prova, o clima foi de tranquilidade com boa parte dos estudantes deixando para chegar minutos antes do fechamento dos portões.

Tema de redação foi surpresa para candidatos

Às 11h30, a prova foi iniciada em Roraima. Neste primeiro dia, foram avaliadas questões de Linguagens e Ciências Humanas, além da redação. Alguns candidatos foram pegos de surpresacom o tema “Manipulação do comportamento pelo controle de dados na internet”.

Para o candidato Vinícius Rodrigues, de 17 anos, a prova foi difícil e o nervosismo atrapalhou em um primeiro momento. “Aos poucos fui interpretando o texto e fui conseguindo fazer. Não estava esperando pelo tema da redação, mas fui marcando de acordo as questões, já pensando no que escrever”, relatou.

Já para a assistente social Jucir Costa, o Enem está sendo uma oportunidade de tentar uma nova carreira na área do Direito e acredita ter feito uma boa avaliação. “Eu gostei, foi de acordo com o que estudei. O tema foi bem interessante, a internet é uma mudança no nosso comportamento porque é o que a gente vive atualmente”, destacou.

No segundo dia de prova, no próximo domingo dia 11, serão resolvidas questões de Matemática e Ciências da Natureza, que compreende as disciplinas química, física e biologia. Serão mais de 12 mil candidatos somente em Boa Vista, que deverão estar no local de prova às 10h. Só é possível fazer a prova com caneta preta e documento com foto.

Vendedor presta ajuda para estudantes esquecidos

Há cinco anos atuando como ambulante, Ivandro da Silva já viu muitos estudantes ficarem do lado de fora por conta do horário de verão. Além de culparem a confusão nas horas, alguns esquecem os documentos e até se perdem para achar o local de prova. “Eu já ajudei muito aluno, de deixar minhas coisas aqui e levar para outro lugar no meu carro”, afirmou.

O ambulante chega a arrecadar em torno de R$ 300 vendendo doces, barras de cereais e até canetas para os estudantes desprevenidos. Alguns chegaram a ganhar caneta de graça do vendedor para fazerem a prova. “Tem gente que esquece documento e caneta, às vezes não tem dinheiro para comprar e dou para eles não deixarem de fazer”, garantiu.

Silva justificou as boas ações por entender que os estudantes o ajudam quando compram algo e acredita que isso é uma forma de retribuição. “Eu tenho três filhos, pode ser que um dia eles precisem e uma pessoa pode ajudar também. Não me importo de ajudar porque já vi gente negar ajuda para não ter concorrência”, encerrou. (A.P.L)