Bom dia,

A poeira ainda não sentou, mas os resultados das eleições municipais já divulgados no início da noite de ontem valem uma rápida análise de alguns dados, começando pela lista dos eleitos para a Câmara Municipal de Boa Vista. O vereador mais votado na capital, Roberto Franco (DC), foi uma surpresa para a grande maioria das pessoas que acompanham a política. Ele já foi vice prefeito do Bonfim, mas apesar disso era desconhecido do meio político da capital, ele seria apadrinhado pelo deputado estadual Neto Loureiro. O PDT, organizado praticamente na véspera da eleição sob comando do presidente da Assembleia Legislativa de Roraima, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), teve um desempenho bastante significativo, elegendo três vereadores por Boa Vista. A candidata do vice-governador, Edilson Damião (Republicanos), que se comenta-se nos bastidores, recebeu apoio de pelo menos três das maiores secretarias estaduais do governo não se elegeu, e ficou como suplente. Já a cunhada da deputada Ângela Águida Portella (PP) e a mãe da deputada Tayla Peres (Republicanos), foram eleitas com folga. Aliás, apenas oito dos 23 vereadores atuais foram reeleitos. O percentual de 61% de mudança é, sem dúvidas, uma das maiores renovações já ocorridas em eleições para a Câmara Municipal de Boa Vista.

Para além dessas rápidas anotações, é necessário dizer que todos precisamos refletir sobre a forma de disputar eleição em Roraima onde o abuso de poder econômico é a regra e não a exceção. Seguramente, nem os candidatos que precisaram comprar votos para se elegerem estão satisfeitos com os métodos adotados para conseguir “convencer” os eleitores de depositar o voto nas urnas. Um deles desabafou a um dos nossos redatores: “até mesmo os familiares estão pedindo dinheiro para votar. E com um argumento cínico: se você está pagando estranhos para votar em você, por que eu tenho que votar de graça?”. É de arrepiar, dizemos nós.

RUPTURAS

Tanto na capital quanto no interior, o pleito foi marcado por supostas rupturas políticas e divergências, sobretudo no grupo governistas. Esses rearranjos políticos, feitos antes mesmo do processo eleitoral, já começam a apresentar desdobramentos e as implicações dessas divisões ou de novas alianças, podem impactar diretamente o cenário eleitoral para 2026, que, acreditem, já começa a ser desenhado desde já.

CORRUPÇÃO ELEITORAL

Em entrevista ao programa Agenda da Semana, da Rádio Folha, o juiz federal aposentado, Hélder Girão Barreto, afirmou que alguns eleitores podem ser considerados “corruptos profissionais”. Segundo ele, que já foi candidato e, portanto, sentiu de perto essa sensação, alguns só votam mediante pagamento ou promessa de vantagens e, em muitos casos, decidem o voto com base em quem paga mais ou quem paga por último.

MOVIMENTAÇÃO

A Polícia Federal, nessa reta final das eleições municipais em Roraima, foi ativa e não apenas reativa como em outros pleitos, intensificou operações nas ruas, investigando denúncias que resultaram em muitas apreensões de dinheiro, armas e detenções de candidatos, incluindo vereadores que buscavam reeleição. A ação evidencia apenas uma parte do cenário eleitoral conturbado, mas a atuação da PF merece os parabéns.

ESTATÍSTICA

Os casos ocorridos em Roraima serviram para engrossar as estatísticas da Polícia Federal em nível nacional e foram manchete dos principais veículos nacionais. O diretor-nacional da PF, Andrei Rodrigues, ressaltou que a imunidade de cidadãos e candidatos é relativa, permitindo as prisões em flagrante em casos de delitos durante o processo eleitoral. A partir daí, os casos são encaminhados ao Poder Judiciário.

ANÁLISE

Essa atuação mais expressiva da PF em Roraima, nas eleições deste ano, foi analisada pelo cientista político Roberto Ramos, que participou do Agenda da Semana. Ele afirmou que as ações podem ter impacto positivo no processo eleitoral, impedindo que pelo menos em alguma proporção, votos deixem de ser comprados e, dessa forma, haja alguma mudança nos resultados do pleito.

ESPERANÇA

E por falar em esperança e representatividade, é lembrou que faz algum tempo que se coloca em dúvida o andamento idôneo de alguns contratos de prefeituras municipais e questionou o papel dos vereadores em apurar as suspeitas de irregularidades. Esperemos que no início deste novo mandato esse que é um assunto de interesse de toda a sociedade seja também importante para os parlamentares eleitos. O mesmo pode ser dito em relação aos deputados estaduais.

SANTINHOS

Ainda falando sobre esperança é preciso destacar também que, não se sabe se por consciência dos candidatos ou se por receio da presença mais incisiva da Polícia Federal nas ruas, o derramamento de santinhos em frente aos locais de votação foi menos perceptível. Claro que ainda houve ocorrências em alguns lugares, mas também é preciso reconhecer que foram em menor proporção, com toda certeza.

VAI RECORRER

A diferença mais apertada entre as disputas pelas prefeituras do interior ocorreu no Mucajaí. Chiquinho Rufino (Republicanos) venceu Joelson Costa (Solidariedade) por apenas 240 votos. Dirigentes do Solidariedade anunciaram que deverão entrar, hoje, com ação na Justiça Eleitoral pedindo que o resultado não seja promulgado. A alegação é de abuso de poder econômico e político pelo candidato vencedor.