Os servidores da Escola Municipal Maria Gertrudes Mota de Lima, localizada no bairro Santa Luzia, denunciaram à FolhaBV que foram vítimas de um possível estelionato por colegas de trabalho. O esquema, relatado na denúncia, indica uma arrecadação fraudulenta de dinheiro utilizando o pretexto de tratamento de câncer de mama em uma das coordenadoras.
O caso estaria acontecendo desde março deste ano, mas só foi descoberto nos últimos dias pelos próprios servidores. Conforme a denúncia, duas mulheres à frente da coordenação da escola criaram uma campanha para arrecadar R$ 5 mil para uma cirurgia de retirada das mamas de uma delas.
A situação era urgente. No entanto, depois de arrecadado o valor, a servidora nunca havia se afastado para realizar o procedimento. Após suspeitas, novos pedidos de doações começaram a ser feito pela coordenadoras com um novo motivo: haviam exames de última hora que precisavam ser pagos com urgência, caso contrário, a situação de saúde da mulher poderia se agravar e levá-la à morte.
“Os pedidos de doações, orações e empréstimos foram intensificados, porém dessa vez, por meio de mensagens no privado de cada professor e outros servidores [pelas duas mulheres]. Os pedidos foram feitos para mais de 50 professores […] sempre com o mesmo argumento ‘de que estaria próxima a internação para a realização da cirurgia, mas que ainda precisava realizar um último exame’. Comovidos, os colegas, imediatamente arrumavam logo o dinheiro, e caso não tivessem a quantia solicitada, tomavam emprestado de parentes, amigos, vizinhos com a intenção de socorrer, já que era uma necessidade urgentíssima”
diz trecho da denúncia.
Em alguns casos, servidores chegaram a emprestar R$ 100, R$ 200 e até R$ 500, com a esperança de serem ressarcidos. Outros recebiam link de pagamento por cartão de crédito com opção de parcelar o valor emprestado. Um dos servidores teria dado mais de R$ 1.500, entre doações e empréstimos, à colega de trabalho adoentada, que quando procurada prometia devolver os valores com o salário.
Descoberta
A situação começou a mudar quando, durante conversas informais, a própria diretora teria afirmado que a coordenadora nunca teve câncer e que seu afastamento foi motivado por questões de ansiedade, possivelmente causadas por uma dívida pessoal de aproximadamente R$ 300 mil com instituições financeiras. Esse comentário acendeu um alerta entre os servidores, que passaram a investigar o caso e descobriram que a doença era uma farsa.
“Após questionadas [as duas mulheres] por alguns servidores sobre detalhes da suposta cirurgia da coordenadora, para uns, o casal informava que será realizada aqui mesmo em Boa Vista, no Hospital da Mulher. Já para outros dizem que o procedimento será feito fora do domicílio, mais precisamente em Fortaleza-CE”.
relata outro trecho sobre situações onde era possível perceber a farsa.
O que diz a Secretaria de Educação
Na denúncia, os servidores relataram que a coordenadora adoentada teria sido afastada da escola, mesmo sem um procedimento formal. Ainda que o caso foi denunciado na Ouvidoria Municipal e que boletins de ocorrência foram registrados na Polícia Civil.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura confirmou que a situação foi registrada e que agora, a Assessoria Jurídica e a Ouvidoria apuram os fatos. Confira a nota na íntegra.
“A Secretaria Municipal de Educação e Cultura informa que soube do ocorrido e a questão está sendo conduzida pela Assessoria Jurídica e também pela Ouvidoria para apuração dos fatos e encaminhamentos legais necessários, tratando com a celeridade e a lisura que a ocorrência requer”.