JESSÉ SOUZA

Uma delação e os desdobramentos de investigações onde política e garimpo se cruzam

Medicamentos destinados aos Yanomami encontrados em uma casa abandonada no bairro São Francisco, em janeiro (Fotos: Divulgação)

Enquanto a campanha eleitoral estava em sua reta final, ocorria um desdobramento da Operação Yoasi, deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com a Polícia Civil, em outubro de 2023, ou seja, há um ano, durante investigação de um suposto esquema de desvio de recursos públicos federais do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) envolvendo agentes públicos e empresários

Um servidor da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) decidiu colaborar com as investigações, junto à PF, e fez uma delação sobre desvio de medicamentos destinado aos Yanomami, confessando que escondia e queimava remédios a pedido de secretária de Saúde e do marido dela, além de mencionar ter ouvido que o governador sabia de tudo.

A prisão do servidor ocorreu no dia 31 de janeiro deste ano, quando policiais civis e federais encontraram uma grande quantidade de medicamentos em uma casa abandonada no bairro São Francisco, em Bos Vista, com indícios de que vários desses medicamentos teriam sido incinerados no local. Esse servidor trata-se de Harisson Moraes da Silva, dono da casa alvo da operação onde os medicamentos foram encontrados.

Enquanto as investigações continuam, o que se sabe até aqui é que há fortes evidências de desvio de remédios dentro de um suposto esquema de lavagem de dinheiro, que totalizou cerca de R$1 milhão destinados à saúde dos indígenas, enquanto os Yanomamis morriam de doenças tratáveis e desnutrição, especialmente crianças e idosos, no mesmo momento da grande invasão garimpeira.

O desenrolar dos fatos demonstram que não se trata apenas de combater a garimpagem ilegal para devolver a saúde e a dignidade para os povos indígenas, mas também a urgente necessidade de minar a corrupção sistêmica que vem de longe, sugando recursos destinados à saúde dos povos indígenas.

As eleições municipais na Capital mostraram que a defesa do garimpo em terras indígenas é feita de forma organizada, a partir da política partidária. Inclusive, uma candidata a vereadora não hesitou em desfilar pela cidade com um helicóptero que serviu ao garimpo ilegal.

Não foi apenas uma coincidência a PF encontrar gramas de ouro em uma busca e apreensão durante investigação sobre corrupção eleitoral em Boa Vista. As maletas de dinheiro apreendidas pelos agentes federais, totalizando R$5 milhões, se cruzam entre corrupção eleitoral e garimpo ilegal, em um crime muito bem estruturado e organizado. Seguidas investigações vêm mostrando isso. Há muito ainda oculto que precisa vir a público.  

*Colunista

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