Quando falamos sobre o consumo excessivo de álcool, é comum que os termos alcoólatra e alcoolista sejam usados como sinônimos. No entanto, há diferenças importantes entre eles, e entender essas distinções ajuda muito na forma de lidar com o problema.
A confusão acontece porque ambos enfrentam problemas relacionados ao álcool, mas o grau de envolvimento com a bebida e os efeitos na vida cotidiana variam bastante.
O psicólogo do Hospital Santa Mônica, Antonio Chaves Filho, esclarece as diferenças entre esses dois termos e explica como cada um afeta a vida de quem convive com o álcool.
O que significa alcoólatra?
O termo “alcoólatra” define alguém que sofre de alcoolismo, uma doença crônica que envolve a dependência do álcool. Em termos médicos, a pessoa é diagnosticada com transtorno por uso de álcool, quando seu consumo ultrapassa os níveis considerados seguros.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a condição de acordo com critérios que incluem a frequência do consumo, a quantidade ingerida e a incapacidade de parar, mesmo diante de prejuízos evidentes à saúde, trabalho e vida social.
Para fins de referência, costuma-se considerar alcoólatra alguém que consome mais de 14 unidades de álcool por semana no caso de mulheres, ou 21 unidades no caso de homens. Para se ter uma ideia, uma unidade equivale a 10 mililitros de álcool puro, o que corresponde a uma taça pequena de vinho ou uma lata de cerveja.
Além da quantidade, sinais como a necessidade de beber para enfrentar o dia a dia ou a incapacidade de controlar o consumo são indicativos claros de alcoolismo. Esse quadro não é uma questão de falta de força de vontade; envolve fatores genéticos, psicológicos e sociais, que fazem com que a pessoa precise de tratamento para lidar com a dependência.
O que significa alcoolista?
Alcoolista é um termo mais recente e menos conhecido, utilizado para se referir a uma pessoa que faz uso frequente de álcool, mas que ainda não apresenta os sinais clínicos de dependência, como no caso do alcoólatra.
Em outras palavras, a pessoa pode beber em quantidades moderadas ou até excessivas, mas sem perder completamente o controle sobre o hábito. No entanto, esse padrão de consumo frequente é arriscado, pois pode evoluir para uma dependência, se não houver intervenções adequadas.
Muitas vezes, o alcoolista não percebe o risco que esse comportamento representa, justamente por não exibir sintomas típicos de dependência. O fato de estar inserido em um contexto social onde o consumo de álcool é aceito e até incentivado torna mais difícil reconhecer o problema.
Identificar mudanças sutis, como o aumento na frequência de consumo ou a dificuldade em reduzir a quantidade ingerida, é importante para prevenir que o alcoolismo se instale.
Quais as diferenças entre alcoólatra e alcoolista?
Agora que já entendemos os significados de alcoólatra e alcoolista, é hora de compreender as principais diferenças entre os dois termos. Apesar de muitas vezes serem confundidos, eles representam fases diferentes no uso de álcool e essa distinção pode ajudar a direcionar o tipo de ajuda necessária.
A seguir, entenda melhor as diferenças.
Nível de dependência
A maior diferença está no grau de dependência. Como comentamos, o alcoólatra tem uma relação incontrolável com o álcool, sendo incapaz de reduzir ou interromper o consumo sem ajuda. O alcoolista, por outro lado, apesar de beber frequentemente e de forma prejudicial, ainda mantém algum controle sobre o hábito.
Reconhecimento clínico
Há também uma distinção importante no reconhecimento clínico entre o alcoólatra e o alcoolista. O primeiro recebe o diagnóstico de transtorno por uso de álcool, uma condição médica estabelecida pela OMS, caracterizada por sintomas como a perda de controle sobre o consumo e crises de abstinência.
Por sua vez, o segundo, embora não apresente necessariamente um diagnóstico formal, mantém um padrão de consumo frequente e arriscado que, sem intervenção adequada, tende a evoluir para dependência.
Impactos na vida
As consequências do consumo de álcool para o alcoólatra costumam ser mais graves e debilitantes. Além de problemas sérios de saúde, como doenças hepáticas, ele frequentemente enfrenta dificuldades em manter relacionamentos, empregos e seus compromissos diários.
No caso do alcoolista, os efeitos iniciais são mais sutis, mas o consumo constante acaba por afetar, com o tempo, diversas áreas da vida, como a convivência social, o desempenho profissional e o ambiente familiar.
Como identificar se sou alcoólatra ou alcoolista?
Se você está preocupado com seu consumo de álcool, o primeiro passo é observar como ele impacta sua vida. O alcoólatra, em geral, consome grandes quantidades de álcool de maneira compulsiva e enfrenta dificuldades para controlar o hábito, mesmo diante de problemas de saúde ou sociais.
Já o alcoolista, embora beba regularmente, faz isso de forma menos intensa e sem sinais claros de dependência grave — ao menos no início.
No entanto, se notar que o álcool tem afetado seus relacionamentos, desempenho no trabalho ou saúde, ou se perceber dificuldade em reduzir o consumo por conta própria, é importante buscar ajuda profissional para uma avaliação adequada.
Quando devo buscar ajuda?
Se você percebe que está bebendo mais do que gostaria ou que o álcool está começando a prejudicar sua saúde física ou mental, pode ser hora de considerar buscar apoio. Outros sinais que indicam a necessidade de ajuda são o aumento do isolamento social, dificuldades para manter relacionamentos ou problemas no trabalho causados pelo consumo.
Sentir ansiedade ou irritação ao não poder beber também é um sinal de alerta para uma possível dependência. Lembre-se de que procurar ajuda não é fraqueza, mas um passo corajoso em direção ao autocuidado. Conversar com um médico, terapeuta ou buscar grupos de apoio é o caminho para entender melhor sua relação com o álcool e dar início ao tratamento para uma vida mais saudável.
Entender a diferença entre alcoólatra e alcoolista é apenas o primeiro passo para enfrentar o problema. O impacto do consumo de álcool vai muito além dos números, pois infelizmente afeta silenciosamente a saúde física, mental e os relacionamentos. O que começa como um hábito social, pode se transformar em um ciclo difícil de quebrar, trazendo sérias consequências à vida.
*Com informações do Hospital Santa Mônica