Servidores concursados de Iracema denunciam que não receberam salário por se oporem à prefeita eleita

Prefeito Jairo Ribeiro ainda não comentou. Uma das funcionárias acusa o gestor de ameaçar transferir agentes comunitários para outros locais da cidade

Entrada do Município de Iracema, no Sul de Roraima (Foto: Eduardo Andrade/SupCom ALE-RR)
Entrada do Município de Iracema, no Sul de Roraima (Foto: Eduardo Andrade/SupCom ALE-RR)

Servidores municipais efetivos de Iracema ouvidos pela Folha relataram que ainda não receberam o pagamento do salário referente a setembro. Segundo eles, o atraso atingiu apenas os funcionários que se opuseram à candidatura da prefeita eleita Marlene Saraiva (Republicanos), apoiada pelo atual prefeito Jairo Ribeiro (Republicanos).

A agente comunitária de saúde Antônia Cristina Silva Aguiar, de 50 anos, afirmou que ao menos sete profissionais da área estão sem receber o salário, além de outros funcionários como professores. Há 18 anos na profissão, ela disse que nunca passou pelo problema e demonstrou indignação com o caso.

“O prefeito pagou os funcionários que apoiaram a candidata dele, mas não a gente. Geralmente, nós recebemos na primeira semana ou até antes de começar o mês. Tenho um colega que é agente de combate a endemias e está há quase seis meses sem receber, com uma mulher gestante”, relatou.

Antônia Cristina ainda acusou o prefeito de supostamente ameaçar os agentes de transferi-los para outras regiões do Município, apesar de, segundo ela, eles serem designados para trabalhar exclusivamente na sede. Além disso, Ribeiro teria demitido funcionários por acreditar que eles também não teriam votado em Marlene.

“Agora, ele mandou avisar que eu e mais outras colegas fomos transferidas para Campos Novos, mas eu não fui, porque não tem documentação e lei nenhuma que embase essa decisão. Ele não pode fazer isso”, complementou.

Maria do Socorro Ferreira Félix, 57, que também é agente comunitária de saúde, mora na vila Campos Novos, para onde foi selecionada para atuar. Em 2022, ela teria sido transferida para trabalhar na sede do Município por, supostamente, não ter apoiado a reeleição do atual prefeito. A agente passou dez meses nessa dinâmica até ser reconduzida para a vila por decisão judicial.

“Após as eleições deste ano, fui comunicada que seria transferida de novo para a sede do Município. Porém, eu falei que não iria se não informassem o motivo por eu ter sido transferida. Alegaram que não tinha documentação para justificar a decisão, mas que eu teria que ir mesmo assim. Depois, eles recuaram com a transferência. Eu ainda não recebi, não posso ficar sem meu salário”, contou.

Por sua vez, Gilmar Brito dos Santos, 49, disse que, em 2021, passou 11 meses sem receber o salário por não ter apoiado a reeleição do atual prefeito no ano anterior. O agente comunitário de saúde prometeu denunciar o caso ao Ministério Público do Trabalho (MPT).

“Estou indignado com essa perseguição e passando por dificuldades. Tenho contas a pagar, que estão atrasadas. Inclusive, tenho um irmão com câncer que precisa de ajuda. É complicado, a gente precisa do salário para melhor a nossa vida e o prefeito faz isso com a gente”, manifestou.

Outro lado

A reportagem questionou o prefeito Jairo Ribeiro sobre a denúncia feita pelos servidores, mas, até a publicação da reportagem, ele não respondeu. O espaço segue aberto.